terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O Talho (Lisboa)

Kiko Martins entrou de caras na cena gastronómica lisboeta (e nacional). Viajou o mundo, voltou, lançou um livro e abriu um restaurante de sucesso. Pareceu fácil, pareceu natural e a'O Talho seguiram-se A Cevicheria e O Asiático mas só foi possível graças a muito (e bom) trabalho. Neste momento, Kiko Martins parece uma máquina imparável e está já a preparar a abertura do seu 4º restaurante (O Watt, na sede da EDP). Isto só para falar no que a restaurantes diz respeito e tentando passar ao lado das inúmeras aparições televisivas que vai fazendo. Mas será que todo este sucesso é justificado?
O "meu primeiro Kiko" teria que ser o original...fazia-me sentido ir à "casa-mãe" e ver onde "tudo começou" (ok, se calhar estou a abusar das aspas e dos chavões). As primeiras visitas fizeram-se para experimentar a vertente talho e, tentando não me alongar muito, é muito bom! Mais caro que os talhos normais, inclusive os ditos gourmet, todos os produtos que trouxe de lá são muito bons e já lá fui algumas vezes só para ir buscar carne!



Mas falemos sobre a vertente restaurante e tentemos não nos alongar. Primeiro, o espaço é bonito e gosto, particularmente, dos tons mais sóbrios. Especialmente por contrastarem com um serviço descontraído e jovial, ainda que perfeito. É fácil notar que se está num dos melhores restaurantes da cidade apenas pela qualidade do serviço.
Aqui, apesar do tema principal ser a carne, ou não estivéssemos nós num talho, a ementa sofre influências de todo o mundo e a primeira prova disso é a variedade de pão no Couvert, onde podemos apreciar pão português ao lado de uma focaccia ou de papadum. Um início bastante auspicioso para o que seria esta viagem pelos sabores do chef Kiko Martins.



Antes das entradas chega uma pequena oferenda por parte da cozinha, na forma de um Creme de Castanha com Amêndoa que nos aquece e reconforta numa fria noite de Janeiro.



Logo na primeira entrada, o restaurante consegue superar-se a ele próprio. Os Croquetes de Cozido à Portuguesa são bons quando comidos em casa (podem-se comprar congelados) mas não se compara à experiência de os comer no restaurante acompanhados por uma fantástica maionese de chouriço.



Ainda que estando num talho, a ementa incorpora um dos pratos chave de outro restaurante de Kiko Martins, o Ceviche Puro. Excelente da primeira à última dentada, com as notas ácidas perfeitas no leche de tigre e um bom jogo de textura, principalmente na batata-doce em 2 texturas.



Mas O Talho não é um restaurante que se leve muito a sério. Quer dizer, leva-se a sério e tudo o que faz, fá-lo seriamente bem, mas não deixa de ser um restaurante que quer proporcionar experiências diferentes e brincar com o que conhecemos. O melhor exemplo disso é o seu Tártaro, com uma interpretação e um empratamento que nos leva a pensar em sushi. A alga nori está lá e temos um creme de rábano, que nos leva a pensar no sabor do wasabi, substituindo o uso da tradicional mostarda de Dijon. Temos ainda um shot de vodka, que podemos beber, mas que serve para misturar com a carne, iniciando um ligeiro processo de cozedura. Acompanha com umas batatas fritas fantásticas. Excelente textura e excelentes sabores num dos melhores tártaros lisboetas!



O Surf and Turf (que se encontrava disponível na altura), um Quinoto do Mar com Tonkatsu de Barriga de Porco, foi menos consensual na mesa. Se a minha paciente e corajosa companhia (pois é preciso paciência e coragem para me aturar nestes desvarios), não ficou minimamente impressionada com o prato que (quase) lhe impus (queria o Tártaro só para mim e ainda queria muito muito muito experimentar este!). Já eu tive uma opinião muito contrária. Apesar de ser um prato algo pesado, com um quinoto de densos sabores a mar a não conseguir contrabalançar completamente a riqueza da barriga de porco, achei que os dois sabores juntos conseguiam funcionar. A minha imposição sobre a escolha do prato seria só para provar mas não resisti e "ajudei" a acabar o prato.



Para terminar a refeição, um Crumble que esteve demasiado rico, demasiado doce e pouco equilibrado, com a manteiga de amendoim e o dulce de leche a não conseguirem ser totalmente cortados pelo uso da lima.



Ainda que terminando numa nota menos boa, toda a refeição esteve num patamar muito alto. A definição de barato ou caro varia consoante o valor pessoal que damos a uma experiência. Consoante o valor que nós próprios damos à satisfação com que saímos do restaurante. E deixem-me dizer-vos que saí muito satisfeito d'O Talho.

O Talho
Lisboa, Portugal
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Preço Médio: < 50 €
Data da Visita: 13 de Janeiro 2016

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