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domingo, 21 de outubro de 2018

Etc&Tal (Oeiras)

Abriu em Oeiras mais um restaurante muito interessante, para os lados do tribunal de Oeiras. A sua abertura não me tinha suscitado uma curiosidade por aí além, mas as primeiras opiniões começaram a aparecer e parecia que estávamos perante mais um caso de sucesso na zona. Nada como ir experimentar e tirar as minhas próprias conclusões.
Espaço com muito bom gosto, com alguns pormenores decorativos muito engraçados, que se torna acolhedor logo à entrada. De referir também o excelente serviço, que soube explicar e aconselhar durante toda a refeição, sempre com simpatia e honesto interesse em perceber a nossa opinião.
O foco deste restaurante reside nos seus arrozes (com maior enfâse nos risottos e nos salteados) e nos petiscos, sempre com propostas muito familiares, exceptuando meia dúzia de casos que saltam rapidamente à vista e nos chegam a fazer questionar se funcionaria... Mas já lá vamos.
Começámos com um couvert (do qual não houve registo fotográfico) com dois bons pães, tremoços e azeitonas que poderiam estar mais temperados, excelente azeite extra virgem transmontano e uma pecaminosa maionese de alho, a fazer lembrar algumas marisqueiras.
Os restaurantes de petisco não são uma novidade, apostando muitas vezes em pratos que já conhecemos. Mas, já o disse várias vezes, se executarem os pratos bem, já se distinguem dos demais, pois existem muitos por aí cuja execução deixa a desejar. Excelente exemplo desta boa execução são os Ovos envoltos em Alheira. Super cremosos, numa proporção e harmonização perfeita entre ovo e alheira.



Muito bons os Cogumelos à Bulhão Pato, com os sabores clássicos desta preparação evidenciados, mas faltando-lhe coentros. 



Para os amantes de queijo derretido, têm de experimentar o Camembert no Forno com Cebola Confitada! Queijo perfeitamente caramelizado, de interior líquido e guloso, mas que corta na perfeição com o adocicado da cebola. Única sugestão seria a inclusão de algumas tostas para ajudar a comer o queijo.



Depois de três petiscos, decidimos partilhar o Risotto de Bacalhau com Grão, aquele que se apresentava como o mais curioso, levando-me a crer que não funcionaria bem. Mas apresentava-se como especialidade da casa, por isso, tinha de provar. E ainda bem que o fiz. A ideia parece estranha mas funciona, vá-se lá saber como! E, melhor ainda, com todos os sabores que associo às saladas de bacalhau com grão (e mais qualquer coisa). Talvez a proporção entre arroz e bacalhau pudesse ser maior, mas, de resto, é um excelente prato.



Não podíamos sair do Etc&Tal sem experimentar as sobremesas, principalmente quando nos dizem que uma delas é receita da avó da proprietária. Trata-se do Bolo Chocolate&Tal, um bolo que nos fez automaticamente pensar em salame, e com motivos para isso, pois leva também Bolacha Maria e ovo. Excelente para dividir, pois é uma sobremesa bastante rica.



Também bastante competente, a Mousse de Lima não desilude e cumpre, ainda que sem o mesmo brilhantismo dos pratos, mas com uma textura correcta e bom sabor.



Tenho um "problema" com este tipo de restaurantes. Depois de uma visita tão positiva como esta, a vontade é de regressar e experimentar os ovos rotos, o risotto de cogumelos, o agnolotti piemontese, etc, etc, etc.

Etc&Tal
Avenida D. João I, Loja 10B
Oeiras, Portugal
Etc&Tal Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
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Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 4 de Outubro 2018

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Sabores da Praça (Grândola)

Mais uma viagem, mais uma paragem gastronómica à procura de conhecer novos restaurantes e ser surpreendido. Infelizmente desta vez as coisas não correram bem. A ideia inicial era jantar no Taberna d'Vila mas não conseguindo arranjar mesa, dirigi-me a outro restaurante que tinha referenciado (e que estava aberto a um domingo à noite).
Foi assim que fui ter ao Sabores da Praça, um restaurante com um nome que me invoca imagens de pratos da terra, com produtos comprados na praça, ou não estivesse o próprio restaurante introduzido no edifício do Mercado Municipal. Mas quando abro a ementa deparo-me com alguns petiscos, pratos de massa, hambúrgueres, um prato de peixe e várias opções carnívoras. Ou seja, não era bem aquilo que tinha em mente e as opções presentes pareceram-me muito pouco regionais, o que foge um pouco ao que procurava.
E não foi só aqui que os nomes não bateram certo com a imagem mental que criei. Os Cogumelos Salteados com Chouriço não eram apenas salteados! Imaginei cogumelos salteados em azeite e alho com chouriço. E, imagino, que o prato tenha passado por esse processo mas depois adicionaram-lhe um molho que não achei que acrescentasse assim tanto valor. Ainda lá molhei pão a ver se percebia a adição mas, mesmo assim, nada que tenha feito as minhas papilas gustativas saltitar. O que até é de estranhar, pela utilização de chouriço, mas este também não tinha assim tanto sabor.


A seguir ataquei o Choco Frito com Arroz de Lingueirão, mas correu ainda pior que a entrada. Começando pelo menos mau, o arroz. A nível de sabor estava lá, mas o lingueirão estava duro. E não foi a única coisa com uma textura estranha, já que o choco estava bastante borrachoso. A fritura também não estava consistente e tinha um molho de azeite e limão, que não sabia a limão, e que acrescentava gordura a uma coisa já de si frita... Não me fez sentido e não acho que seja uma combinação feliz. A ideia não era terrível mas a concretização falhou.


Estava de tal forma triste com a refeição que não me apeteceu sequer espreitar as sobremesas. Estava algo desconsolado com a má escolha, mas este é o risco de querer conhecer novos locais. Nem sempre vamos acertar...

Sabores da Praça
Grândola, Portugal
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 12 de Agosto 2018

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

C.O.W. - Beef & Cocktails (Santos)

Se há meia dúzia de anos me perguntassem onde se poderia comer carne maturada em Lisboa, teria sérias dificuldades em responder. Mas o paradigma felizmente mudou e, com a desmistificação do que é carne maturada, começaram a surgir steakhouses, com a dita cuja, um pouco por toda a cidade e para (quase) todos os bolsos.
Há cerca de 2 anos abriu, em Santos, o C.O.W. Beef & Cocktails que, como o nome indica, tem como especialidade a carne bovina, não só em cortes como também picada. Por mera curiosidade, em Santos, nuns meros 500 metros, existem cerca de 3 casas a apregoar carne como a sua especialidade! Só para o caso de podermos achar que não há oferta suficiente...
O início não foi o melhor com o Couvert a parecer escasso, principalmente quando cobram 2,5€ por 2 fatias de bolo do caco de beterraba e 3 fatias de bolo do caco tradicional, que nem sequer eram de grande qualidade. Safou-se a tapenade e a manteiga de ervas.


Há uma coisa que os restaurantes devem ter em conta quando escrevem a sua ementa. O prato deveria corresponder à imagem mental que os clientes dele criam na sua cabeça (excepção feita a quando este efeito é propositado). Pedimos os Rolinhos de Queijo de Cabra e Presunto, imaginando uns rolos de presunto com queijo de cabra lá dentro, ou algo do género. O que nos chegou à mesa foi uma tábua com uns gulosos rolinhos de massa filo recheados com queijo de cabra e salpicados com mel (a lembrar a entrada turca Sigara Börek) e, ao lado, algumas fatias de um presunto que não era excepcional. Acabámos por comer a entrada como se de duas separadas se tratassem, já que o presunto não era intenso o suficiente para contrastar com o queijo de cabra e o mel.


Mas a estrela principal, e responsável por toda e qualquer expectativa face ao restaurante, não desiludiu. Optámos por um dos cortes especiais, nomeadamente a Vazia Rubia Galega, que chegou à mesa perfeita. Sim, não é uma das 15 raças bovinas autóctones, e temos carne maravilhosa que muitos desconhecem no nosso país, mas esta Rubia Galega é também qualquer coisa de fantástica, principalmente quando assim cozinhada, simples, sem grandes maquilhagens e deixando a carne falar por si só.


Acompanhámos com umas boas Batatas Doce Fritas e um caldoso Arroz de Cogumelos e Espargos que precisava de mais sal e de um caldo mais intenso, revelando-se algo sensaborão. O detalhe de ter tábuas (já é um cliché neste tipo de restaurantes) e colocar o arroz caldoso na mesma fez-me realmente questionar a opção ao nível do serviço, mas tudo correu bem e nenhum molho se derramou sobre a mesa.



Entre o facto de estarmos já algo cheios e a hora de início de uma das noites de comédia do Xafarix Comedy Club (que irão voltar em Setembro!), decidimos não arriscar na sobremesa.
Ainda que tenha uns pormenores a melhorar, aquilo que fica é um restaurante com excelente carne e um local a considerar sempre, entre os muitos parecidos que têm aparecido e que continuarão a aparecer.

C.O.W. - Beef & Cocktails
Santos, Portugal
C.O.W - Beef & Cocktails Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
TheFork
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 12 de Abril 2018

terça-feira, 31 de julho de 2018

SUD Lisboa (Belém)

Fez recentemente 1 ano que o SUD Lisboa abriu as suas portas com um conceito completamente inovador. Rapidamente se tornou um dos sítios "da moda" da cidade de Lisboa, mas a verdade é que nunca me tinha suscitado curiosidade para lá ir fazer uma refeição. Aliás, sempre tinha olhado para o SUD mais como uma opção para ir beber um copo (tem carta de cocktails bastante apelativa) antes de jantar, ou depois (como fiz depois da minha visita ao JNcQUOI - aqui), do que lá fazer uma refeição. Os preços praticados e o facto de ter tido feedback menos positivo também não ajudavam, por muito que o espaço e localização sejam algo únicos.


Até que surgiu um convite para lá ir experimentar alguns pratos da nova carta (que está ainda no activo, podendo experimentar a maior parte destes pratos, mesmo que a visita tenha ocorrido há uns meses) e, para mim, tirar as teimas quanto ao que o SUD Lisboa vale na cena gastronómica lisboeta. Será mais um restaurante sobrevalorizado, ou conseguirá conquistar fãs lisboetas o suficientes para o tornar relevante?
O primeiro impacto que temos é o espaço. Muito bom, com um ar sofisticado, seja no piso de baixo ou no de cima (que tem uma ementa diferente), mas sem ser demasiado impessoal ou capaz de deixar desconfortável alguém de t-shirt e calções de ganga. Mais complicado é avaliar o serviço, visto que tendo sido convidado para lá ir, tenho perfeita noção de que houve outro cuidado neste aspecto. Ainda assim, interagi com o chef de sala e todas as perguntas que fiz, fosse sobre prato, produto ou outros eram respondidas com prontidão e conhecimento.
Iniciámos assim a refeição com La Tartare di Tonno, um refrescante e surpreendente tártaro de atum com morango (aos pedaços e numa espécie de gaspacho). Se a combinação em si é irreverente, mas mostrando no palato que acaba por fazer sentido e conjugar na perfeição, adorei o uso da salicórnia e aquilo que trouxe ao prato.


A Burrata di Andria é uma das entradas com mais saída do restaurante, e uma perdição para os amantes deste tipo de queijo. A sua generosa dimensão (300gr) torna-o uma entrada perfeita para partilhar e a salada de tomate, que lhe serve de cama, torna-o extremamente refrescante. O que faltava para ser uma Salada Caprese seria uma componente verde, normalmente à base de manjericão, mas aqui o twist SUD colocou um pesto de rúcula no fundo do prato.


O SUD Lisboa apresenta uma ementa claramente italiana, ainda que não se restrinja (felizmente) a massas e pizzas. A última entrada experimentada foi um clássico italiana, o Fritto Misto, aqui apelidado Fritturina Mista di Pesce. Excelente fritura nos pedaços de camarão, lulas e bacalhau, não deixando as proteínas excessivamente cozinhadas e ainda bem ajudadas por uma boa maionese de iogurte e alho.


A maior parte do mundo pensa que a cozinha italiana se resume a Pizzas, Massas e pouco mais. Existe alguma falta de conhecimento neste aspecto mas o SUD preocupa-se em mostrar alguns pratos menos conhecidos do grande público, como é o caso deste Spigola i Caponatina, um filete de robalo corado servido com beringela (daí a caponata, tradicionalmente um refogado de beringela, tomate e cebola) e um puré de feijão branco. Peixe no ponto correcto, puré cremoso, sem qualquer grumo e bastante saboroso, ajudada pela caponata que traz alguma acidez ao prato e ajuda a que o palato não se canse.


O Risotto al Funghi vem numa textura perfeita, com um ponto de cozedura do arroz do mesmo nível mas pareceu-me faltar-lhe um pouco mais de sabor, não sei se no caldo usado se na finalização do prato e quantidade de parmesão utilizada (sou um fã de muito parmesão!). De destacar, ainda assim, a variedade de cogumelos no prato, com Porcini, Pleurotus Eryngii (ou Cogumelos do Cardo), Canterelles e ainda um pouco de trufa para dar o ar de sua graça.


Mas, para mim, o melhor prato da noite foi o Tagliati di Costata Senza Osso (um prato que já não se encontra na ementa, apesar de haver um muito parecido, a Tagliata di Contrafiletto), que é como quem diz um Ribeye Black Angus maturado durante 60 dias. Carne de uma qualidade exímia, perfeitamente cozinhada, apenas a sofrer um pouco no que ao empratamento diz respeito. Pareciam querer esconder a estrela do prato debaixo de uma montanha de vegetais. Não que estivessem maus, pelo contrário, mas este era aquele tipo de pratos em que facilmente dispensava acompanhamento.


No campo das sobremesas, o Le Strudel del SUD (outro prato que entretanto parece já não estar na carta) é uma sobremesa segura mas que não surpreende. Tudo com uma execução correcta e os sabores expectáveis de um bom strudel... mas só isso.


Também o SUD Tiramisù não surpreendeu. Um bom exemplar, bastante sabor a mascarpone, cremoso, com as camadas típicas e até com umas bolachas ao lado para dar um pouco mais de textura mas a ficar atrás do maravilhoso tiramisù do Pátio Antico (aqui).


A melhor sobremesa da noite foi a Panna Cotta com os seus sabores tropicais a renovarem-se a cada colherada, graças à utilização de diferentes frutos. Também texturalmente a sobremesa estava fantástica, com a panna cotta a desfazer-se na boca, a misturar-se perfeitamente com a textura das diferentes frutas e ainda com a crocante manga desidratada.


É fácil gostar-se do SUD Lisboa. O ambiente, a decoração, a localização... simplesmente fantásticos. Felizmente a comida acompanha e revelou-se uma boa surpresa. Os preços são certamente elevados, mas dado todo o contexto do local e qualidade da comida, não estão completamente desajustados. Até porque conseguimos fazer uma refeição por menos de 30€, se optarmos pelas pizzas, por exemplo.

SUD Lisboa
Belém, Portugal
SUD Lisboa Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 50 €
Data da Visita: 15 de Março 2018

segunda-feira, 5 de março de 2018

S. Martino - São João (Porto)

Nunca visitei o S. Martino num registo de jantar, mas acabei por lá ir almoçar duas ou três vezes, pois tem um simpático menu de almoço que fica a 7,50€ com prato do dia (que pode ser pizza, massa ou salada), bebida e café.
A escolha ao almoço acabava sempre por recair na Pizza Al Capone (Cogumelos, Fiambre e Salame). Pão simpático e um decente molho de tomate serviam de base para uma pizza que acabou por superar as baixas expectativas. Bem recheada, ainda que os ingredientes não fossem de enorme qualidade, mas a sua ligação faz sentido e deixa quem a experimentar bastante satisfeito.


Não sei porquê o facto de nunca ter ido ao jantar ao S. Martino. Talvez pela saturação de junk food que sentia pois as pizzas são bastante decentes e existem algumas interessantes na ementa e que nunca são incluídas no menu de almoço.

S. Martino
Porto, Portugal
Ristorante Pizzeria S.Martino São João Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 20 €
Data da Visita: 29 de Setembro 2017

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Cruel (Porto)

Ainda há pouco tempo lia um artigo sobre a "moda dos conceitos nos restaurantes" (aqui) e cheguei até a concordar com alguns pontos. Sim, nem tudo tem de ter um conceito (será isso um conceito em si??) ainda que por vezes ajude. E concordo a 100% que jantar fora é sempre um momento especial, "seja numa tasquinha da esquina seja num estrela Michelin".
Claro que também discordei de muita coisa. Não acho que comer seja um ato egoísta, ainda que seja pessoal. Aliás, como o autor do artigo diz "partilhamos momentos e conversas", o que me leva a crer que se o autor considera que o ato de comer é só ingerir comida, algo que discordo por me parecer demasiado levado à letra.
Como não acho que ir jantar fora e sentir-me em casa (expressão tão comummente utilizada para representar conforto) seja necessariamente uma coisa má. Diz o autor que ao irmos jantar fora "queremos sentir-nos num local especial", mas há algum local mais especial que a nossa casa? Enfim, voltemos ao que interessa...
O Cruel é um restaurante com um conceito muito vincado, e que é explicado logo que nos entregam as 3 ementas existentes, e que se reflectem este mesmo conceito. Podemos escolher de qualquer uma delas, ou das 3 ao mesmo tempo. Cada ementa reflecte o nível de experiência que pretendemos ter. Para aqueles que não gostam de sair da sua zona de conforto, a ementa Medrosa. Para os que gostam de experimentar coisas novas mas sem arriscar tudo, a Cautelosa. E, para os aventureiros que terem tirar o máximo partido da cozinha do restaurante, a Cruel. E, honestamente, num restaurante destes acho que a primeira visita deve ser feita exclusivamente desta vertente para podermos tirar o melhor partido possível da refeição, ainda que todas as 3 ementas tenham pratos muito apelativos.
Começámos a refeição com um Couvert simpático, com 2 tipos de pão, 3 boas manteigas e umas azeitonas temperadas muito boas.



O Cruel desde cedo despertou a minha curiosidade por um único motivo, o uso de uma flor no Carpaccio de Novilho com Flor Eléctrica. Mais especificamente, uma "flor eléctrica", ou Acmella Oleracea. Quem nos está a atender explica-nos que o objectivo é experimentar o carpaccio, comer a flor e continuar a degustação do carpaccio. Já agora, uma palavra para o óptimo serviço prestado que se mostrou bastante disponível e explicativo durante toda a refeição.



Depois de mastigada a flor durante alguns segundos, esta planta começa a tornar toda a nossa boca dormente, parecendo que temos vários micro choques pela língua. Este processo tem como objectivo abrir o paladar, e a verdade é que funciona. Aquele que é um bom carpaccio fica bastante melhor enquanto temos a boca dormente da flor. Sim, passei a maior parte do tempo a falar da flor, porque achei a experiência realmente diferente e engraçada, mas o carpaccio em si tem qualidade, especialmente na carne. Temos até a noção de que poderia estar mais temperado quando o experimentamos da primeira vez mas após comermos a flor essa noção desvanece-se.



Avançamos depois para o Novilho Crú(el) com Papadamus de Especiarias, um bife tártaro que vem acompanhado de um papadum excelente, e que ajuda o tártaro, não sendo só um mero substituto das típicas tostas que pouco acrescentam. Excelente a carne do tártaro também, mas parecendo sofrer do mesmo mal que o carpaccio. Mal esse que é remediado com mais um "truque", desta vez em formato líquido mas baseado na mesma planta, com um shot de jambu, que devemos bochechar durante algum tempo para ter um efeito parecido (mas não igual) ao da flor. 



Por muito bons que tenham sido os pratos anteriores, e foram, a verdade é que acabaram ofuscados pelo perfeito Risotto de Cogumelos em Alucinação. E quando digo perfeito, é mesmo perfeito! Não só a componente visual é fantástica, com o katsuobushi a parecer vivo quando chega à mesa, algo que já tinha visto também no Miss Jappa (aqui), e a acrescentar sabor a um já de si incrível risotto de cogumelos. Não é à toa que este foi um dos melhores pratos que comi em 2017 (aqui).



O momento mais fraco da refeição, que até nos deixou algo desiludidos por haver uma diferença tão grande com o até à altura experimentado, foi o Tiramisù de Lima em Coma Alcoólico. Parecia mais uma mousse de lima, com um nível alcoólico muito longe do coma e bastante próximo da sobriedade, com alguns palitos la reine. Uma boa mousse de lima, mas muito longe do que um tiramisù é!



Este momento menos bom não manchou em nada o que foi uma grande refeição. As reviews que se vêem por todo o lado são mais do que justificadas, o conceito é muito bom, o serviço acompanha e a comida é maravilhosa!

Cruel
Porto, Portugal
Cruel Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 20 de Setembro 2017

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Saikō (Campo Pequeno)

Não sabia bem o que esperar deste convite para ir conhecer o Saiko Campo Pequeno. A sua abertura criou bastante curiosidade. Seria este um espaço réplica do Estoril (de que já falei aqui)? Só isso já é sinónimo de muita qualidade e o melhor sushi de fusão que a cidade de Lisboa já testemunhou! Mas uma cópia exacta não seria o suficiente para me fazer deslocar propositadamente até Lisboa, já que o Estoril é mais prático para mim.
Até que, em conversa com a pessoa que me convidou, percebi que a carta tinha também evoluído, sempre com a consultoria do chef Péricles Lacerda (que acompanho desde os tempos do Tamagoshi). As condições são outras e é natural que exista esta evolução mas tinha que lá ir para experimentar e verificar isto por mim próprio.


O Couvert é muito semelhante ao que já tinha experimentado anteriormente e continua delicioso. Aquelas folhas de endívia deixam-me sempre rendido.


Já tinha visto este tipo de pratos várias vezes mas, vá se lá saber porquê, nunca tinha tido a curiosidade de o experimentar. Felizmente nesta noite a ementa não foi escolhida por nós, e este Nasu Dengaku é a primeira entrada que nos chega à mesa. Um prato delicado, com a beringela a ser simplesmente glaceada com o molho dengaku (um molho à base de miso), o que lhe dá uns excelentes toques salgados e adocicados.


O Kimuchi Moriawase é um contraste de sabores grandes, com os vários peixes perfeitamente envolvidos no molho ligeiramente picante, mas que se balanceia perfeitamente com a acidez do sunomono, a cama de pickles de pepino que estava no fundo do prato. Qualquer um dos três peixes (salmão, atum e peixe branco - que não me recordo qual era neste dia) de uma frescura exemplar e ajudados ainda pelo molho ponzu, que lhe confere acidez e doçura.


Como já conhecia a casa do Estoril, adaptaram o menu que me foi servido, dando-me a conhecer vários pratos novos, com maior incidência nos pratos quentes. Daí esta ter sido uma refeição com pouco sushi, mas ainda assim excelente, como foi caso deste Maguro Chili! É nestes pormenores que o sushi do Saiko está a anos luz da maior parte das fusões manhosas que por aí se vê. Não é preciso molhos que disfarcem e tapem completamente os restantes sabores. É preciso saber combinar as coisas para que se enalteçam os ingredientes. Neste caso, excelente uso de sriracha, que combina lindamente com o atum, e a piada de ter no exterior massago arare (pequenas pérolas de arroz crocante) a complementar o arroz do sushi.


Chegamos aos pratos que diferenciam as duas casas, com uma aposta maior nos pratos quentes japoneses neste novo espaço, muito devido às melhores condições da cozinha aqui existente. A Ebi Soba é um prato que faz, por si só, uma refeição consistente. Boa massa de trigo sarraceno, excelente ovo com a gema ainda meio líquida, os legumes e algas cozidos ainda com aquela ligeira resistência à dentada, só para dar textura... mas tudo ficou meio ofuscado pelo óptimo caldo e pelo fantástico camarão panado! Só tive pena que não houvesse mais camarões porque estava verdadeiramente viciante.


Por falar em viciante, a Yaki Hotate, uma espetada de vieiras (que pareciam zamburinhas tão pequenas eram) com cogumelos shitake, foi uma verdadeira surpresa. A mostrar, uma vez mais, uma das novas possibilidades da nova cozinha, com a introdução de pratos yakitori na ementa. Concretização fantástica, com a vieira cozinhada na perfeição e a ligar bastante bem com a intensidade dos shitake, tendo os sabores sido ainda balanceados pela adição do molho tarê.


Assim tinha acabado o menu de pratos que estava definido mas, sendo a primeira vez que a minha companhia visita um Saikō, não podia deixar que saísse do restaurante sem experimentar aquele que é o meu prato favorito, o Gunkan Egg. É a perfeição num gunkan só, com a gema a explodir-nos na boca e a desencadear pequenos gemidos de prazer.


As sobremesas chegaram em forma de Pijaminha, com algumas já bem conhecidas da minha parte, mas que não desiludiram em nada, havendo-as para todos os gostos. Excelente gelado de sésamo (Goma Aisukurïmu), com uma profundidade de sabores que não esperava. Menos fantástico, mas ainda assim bom, o gelado de chá verde. Voltamos ao campo do excelente com o Ryôri de Lima, parecido com um cheesecake mas feito com natas, e o Müsu de Maracujá! Excelentes as texturas e os sabores.
A Mousse de Chocolate foi alvo de grandes elogios por parte da minha companhia, dizendo que a fazia lembrar da mousse da mãe dela. Que maior elogio existe quando o que estamos a comer nos traz à memória momentos familiares? 
As duas versões de cheesecake (Chizukeki Saikō), apresentados sem uma base fixa mas sim bolacha esfarelada espalhada à volta, de uma textura aveludada fantástica e com óptimos toppings.


O Saikō continua memorável e continua a superar-se a si próprio. Esta ambição é de louvar e esperemos que não fique por aqui! A minha dificuldade agora vai ser escolher entre o Estoril e o Campo Pequeno!

Saikō Campo Pequeno
Praça do Campo Pequeno, 602
Lisboa, Portugal
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Preço Médio: < 50 €
Data da Visita: 23 de Janeiro 2018

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Happy Comida Caseira (Amadora)

É impressionante o dinamismo, mesmo que lento, que a zona da Amadora tem sentido. Não está a sentir um boom semelhante a Marvila, mas a verdade é que, aos poucos, abrem restaurantes bastante interessantes. Para além d'O Quintal (aqui) abriram, nos últimos anos, alguns espaços interessantes como o Maria Azeitona, Pimenta Malagueta, Lugar ao Sul ou este Happy Comida Caseira.
O nome remete-nos para comida de conforto e caseira mas a ementa não reflecte tanto esse conceito, acabando por ser um misto de petiscos com twists, algumas coisas em bolo do caco, outros pratos de influências maioritariamente portuguesas e carnes! Esta última secção foi a que mais me entusiasmou tendo em conta os cortes que apresentava face ao preços que pratica.
Lá se criou a oportunidade para uma visita de amigos, todos bons vivants e amantes de boa comida, com as expectativas algo elevadas face às reviews que já tinha lido. A primeira impressão não foi das melhores com a entrada no restaurante a fazer-se ao som daquelas campainhas das lojas dos chineses. É algo estranho apanhar este tipo de pormenores, mas sem dúvida é diferente e fica na memória, ainda que não ache muito agradável.
Queriamos experimentar um pouco de tudo e pedimos, para partilhar tudo, 3 petiscos, 1 prato e 1 corte de carne. O serviço parecia meio atrapalhado com algumas das perguntas que foram feitas enquanto escolhíamos mas lá foi respondendo. O próprio chef Pedro Moreira (que já passou pela Mercearia do Páteo Alfacinha) veio algumas vezes à mesa esclarecer dúvidas e receber feedback, o que demonstra o empenho neste seu projecto pessoal.
A lista de petiscos é bastante interessante e foi a que provocou mais dúvidas quanto ao que mandar vir mas começámos com uns Ovos Escangalhados com Chouriço de Porco Preto que fica ali entre uns Ovos Rotos e um Revuelto, mas com a adição de cogumelos. Ovos bem cozinhados, bom chouriço, bons cogumelos mas, por as gemas já virem demasiado "escangalhadas" acabam por não envolver as batatas tão bem, parecendo que estão ali um pouco à parte no prato.



Não sou um fã de sabores adocicados predominantes nos meus pratos salgados. Acho muito bem que existam componentes mais adocicados mas terão sempre que ser balanceados para não abafarem totalmente o prato. Ora, nas Espetadas de Frango Marinadas com Manteiga de Amendoim (um prato que imaginava parecido com um Chicken Satay), foi isso que acabei por sentir mas não por culpa da manteiga de amendoim. A adição de ananás acaba por tornar o sabor deste como predominante, abafando frango e manteiga de amendoim! Uma pena pois o frango está suculento e se se conseguisse trabalhar apenas com a doçura do amendoim poderia ter funcionado melhor.



O prémio para melhor prato da noite (e pior fotografia também) vai para os Secretos à Bulhão Pato. O nome saltou logo à vista, a ideia implantou curiosidade na mente de todos e não desiludiu. Bons secretos, bem temperados e cortados aos pedaços, mergulhados num molho apurado. Sabem qual é o melhor comprovativo para quando algo traz molho? Ninguém na mesa estar satisfeito enquanto houver uma gota do mesmo e pedindo pão suficiente para que tal não aconteça!



O Risotto de Cogumelos (Boletus, Pleurotus e Shiitake) a apresentar-se decente e com os sabores correctos. Só falhou, ligeiramente, o ponto de cozedura ligeiramente a mais do arroz e a cremosidade do mesmo.



Para a carne, optámos pelo Costeletão de Buey com Maionese de Mostarda de Dijon. Não vos posso dizer nada quanto à maionese de mostarda. Não provei... Não achei que fosse sequer necessária naquele belo pedaço de carne. Principalmente quando ele já vinha temperado com um bom molho de ervas (quase tipo chimichurri). Ok, seria justificável para as batatas mas estava de tal forma focado na carne que se me olvidou da mente. Destaque também para o ponto da carne, exactamente como pedido!



Ainda houve espaço para as sobremesas, que não têm uma ementa fixa e vão mudando consoante as vontades de quem as faz. Um Crème Brûlée um pouco consistente demais que não conquistou ninguém na mesa, ainda que seja de referir o facto da boa camada superior caramelizada.



Boa Mousse de Snickers, cremosa e doce qb. Talvez não a chamasse como Mousse de Snickers mas a verdade é que o nome foi chamativo o suficiente para ser a sobremesa que reuniu consenso na mesa na hora de pedir.



E um óptimo Bolo de Bolacha, feito com manteiga e nada daquelas tretas que se vê com natas. Muito bom, talvez apenas um pouco seco demais, mas nada de grave.



Felizmente a impressão final é muito melhor que a primeira e saímos deste espaço felizes (vá, podia ter feito o trocadilho cliché a dizer que tínhamos saído happy) e muito menos incomodados com o barulhinho da porta.

Happy Comida Caseira
Amadora, Portugal
Happy Comida Caseira Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 20 €
Data da Visita: 16 de Janeiro 2018