O Quintal é um daqueles restaurantes que tem uma ascensão meteórica em tudo o que são redes sociais, criando ondas de hype gigantescas. A curiosidade começa a infiltrar-se, as boas reviews seguem-se (mesmo que ocasionalmente intercaladas com outras menos boas) e a vontade de ir descobrir este recanto improvável, localizado na zona da Venteira (Amadora), aumenta. O problema é nestes locais é arranjar mesa mas, com alguma boa vontade da casa, lá se arranjou uma mesa para 8 pessoas jantarem no Dia da Mãe.
O primeiro pensamento vai para a localização. Tinha a zona da Venteira como algo inóspita para as aventuras gastronómicas, exceptuando o Alqueva (um restaurante a que já não vou faz largos anos). Mas, quando olho melhor para a minha lista, vejo que num raio de 300 metros tenho mais 2 restaurantes referenciados, sendo que um deles é alvo do mesmo tipo sucesso. Tal que, para marcar mesa no Maria Azeitona, parece ser necessário mais do que uma semana de antecedência!
Aqui o conceito começa à porta. Como em qualquer casa, para entrarmos necessitamos de bater à porta. O impacto continua na primeira divisão, como se estivéssemos numa sala de estar da casa dos nossos avós, com uns cadeirões de ar antigo. Bastante engraçado e a restante área do restaurante acompanha este tipo de decoração. Apenas um pouco mais de luz, na área de jantar, seria apreciável.
Algo que achei verdadeiramente surpreendente foi o serviço. Sim, nestes locais "da moda" normalmente o serviço é feito por gente jovem e gira (e isso não é diferente aqui) mas cuja simpatia e competência pode ser questionável. Aqui, mesmo não sendo um serviço perfeito, houve um aspecto que se destacou e ofuscou as poucas falhas: a simpatia. Excelente a rapariga que nos atendeu toda a refeição, sempre com um sorriso honesto e generoso para oferecer. No final, visto ser Dia da Mãe, a oferenda de uma flor às mulheres presentes na mesa.
E o que se come n'O Quintal? Apesar do nome, este não é um restaurante vegetariano nem com uma ementa virada para os vegetais (apesar de poder ser interessante a existência em Lisboa de um restaurante com uma abordagem parecida com a de Alain Passard no L'Arpège. Por falar nisso, obrigatório o seu episódio no Chef''s Table France!). Aqui existem vários petiscos para partilhar e cerca de 1 dúzia de pratos individuais. Fomos para a opção de partilha mas vi passar algumas volumosas doses individuais que me deixaram com curiosidade! Aviso desde já, isto vai ser extenso pois pedimos muita comida. 11 petiscos e mais umas sobremesas, para ser concreto!
Enquanto tentamos escolher, o que não é fácil devido à apelativa ementa, chega um bom Couvert, com especial destaque para a Manteiga Aromatizada e para o Queijo Curado. Pena o Cesto de Pão ter apenas 4 fatias (de 2 variedades diferentes), pois acaba rapidamente e sentimos a necessidade de pedir mais.
Excelentes Ovos Mexidos com Farinheira, principalmente no seu tempero. De destacar ainda a óptima textura apresentada e o bom balanceamento entre a quantidade de ovos e de farinheira.
O Tataki de Vazia levou-me a imaginar algo bastante diferente daquilo que nos foi apresentado. Tataki é uma técnica japonesa que nos remete para uma peça de proteína (peixe ou carne) apenas selada rapidamente, ficando com o seu interior cru. O que experimentámos aqui é apenas um bife da vazia cozinhado médio. Por ser um tataki não sentimos necessidade de especificar temperatura, nem nos foi perguntada. A peça é boa, a carne estava bem temperada e era tenra mas não o chamaria um tataki.
A Morcela Assada com Mousse de Maçã apresentou uma boa textura com a sua pele crocante, bastante bem acompanhada pela mousse (talvez mais um puré mas nada de grave).
Para mim, os pratos menos conseguidos da noite foram aqueles que apresentaram molho. Na sua maioria os pratos estavam saborosos e bem temperados mas os que tinham algum tipo de molho, cuja vontade e expectativa é sempre de que se apresentem gulosos para podermos encharcar o pão neles, No Pica Pau a carne era macia mas mais parecia ter cozido no molho onde vinha, o que não abonava muito a seu sabor.
Também a piscina de Lulinhas Algarvias apresentava o mesmo problema. Molho sensaborão mas as lulas em si apresentavam uma textura bastante macia.
Pouco melhor as Gambas a la Guillo, com o molho a apresentar mais sabor, mas a precisarem de ser bastante mais puxadas no seu tempero!
Bastante melhor, e a pedir mais um cesto de pão, o Chèvre Gratinado e a sua combinação clássica com componentes adocicados como o mel e as passas.
As Chips de Batata Doce também se revelaram uma agradável surpresa, ainda que não ao nível do Pigmeu, mas apresentando-se bem fritas e estaladiças.
A surpresa da noite, numa nota bastante positiva, foi algo tão simples como Cogumelos Frescos Salteados. Em pratos mais complexos e com molho tudo se revelava desinteressante mas aqui, onde algo simples funciona, o arriscar no saltear com alecrim e tomilho foi uma aposta perfeita.
N'O Quintal não se parece arriscar muito em temperos fortes ou combinações improváveis (exceptuando os supracitados cogumelos). O Tártaro de Peixe, corvina neste caso, acabava por reflectir isso mesmo, com o uso de frutas doces já visto em muitas ementas. Mas, apesar disto, não deixa de ser um bom exemplar de um tártaro, porque combinam bem com a acidez do sumo de lima, sem ofuscar o peixe.
O Tártaro de Novilho apresentava-se como uma interpretação próxima da original, na sua versão "Finish It Yourself", mas com o uso de ingredientes menos intensos. Neste caso, a substituição da mostarda de Dijon por uma de grãos ou o uso de vodka no lugar de cognac. Excelente o corte de carne, com cubos grandes a permitirem sentir a frescura e qualidade da carne.
O único ponto menos positivo é a forma como é servido, numa tábua de ardósia. Visto ser temperado com azeite, a facilidade com que, sem intenção, se entornou líquido num dos comensais presentes na mesa é algo que deveria mesmo ser revisto. Também houve alguma dificuldade ao misturar tudo na ardósia.
As sobremesas estiveram todas a um excelente nível! Um Bolo de Chocolate com 2 texturas distintas e de excelente e guloso sabor.
A acidez perfeitamente balanceada na Mousse de Lima foi um claro vencedor para mim. Sabores óptimos, que satisfizeram plenamente o amante de sabores cítricos que há em mim, numa mousse de cremosidade incrível e com um fundo de bolacha bastante simpático.
Também o Banoffee se revelou uma excelente sobremesa, principalmente com aquele pequeno pedaço perfeitamente caramelizado que existia no topo.
O Quintal tem o potencial para não ser só um restaurante de "moda passageira", tornando-se um bastião do bem receber e bem comer na Amadora. Mas necessitam de corrigir e trabalhar mais nalguns dos pratos para que isso aconteça. Como as doses não são grandes, os preços podem parecer inflacionados, mas se a qualidade da comida aumentar será mais do que justificável os preços praticados.
O Quintal
O primeiro pensamento vai para a localização. Tinha a zona da Venteira como algo inóspita para as aventuras gastronómicas, exceptuando o Alqueva (um restaurante a que já não vou faz largos anos). Mas, quando olho melhor para a minha lista, vejo que num raio de 300 metros tenho mais 2 restaurantes referenciados, sendo que um deles é alvo do mesmo tipo sucesso. Tal que, para marcar mesa no Maria Azeitona, parece ser necessário mais do que uma semana de antecedência!
Aqui o conceito começa à porta. Como em qualquer casa, para entrarmos necessitamos de bater à porta. O impacto continua na primeira divisão, como se estivéssemos numa sala de estar da casa dos nossos avós, com uns cadeirões de ar antigo. Bastante engraçado e a restante área do restaurante acompanha este tipo de decoração. Apenas um pouco mais de luz, na área de jantar, seria apreciável.
Algo que achei verdadeiramente surpreendente foi o serviço. Sim, nestes locais "da moda" normalmente o serviço é feito por gente jovem e gira (e isso não é diferente aqui) mas cuja simpatia e competência pode ser questionável. Aqui, mesmo não sendo um serviço perfeito, houve um aspecto que se destacou e ofuscou as poucas falhas: a simpatia. Excelente a rapariga que nos atendeu toda a refeição, sempre com um sorriso honesto e generoso para oferecer. No final, visto ser Dia da Mãe, a oferenda de uma flor às mulheres presentes na mesa.
E o que se come n'O Quintal? Apesar do nome, este não é um restaurante vegetariano nem com uma ementa virada para os vegetais (apesar de poder ser interessante a existência em Lisboa de um restaurante com uma abordagem parecida com a de Alain Passard no L'Arpège. Por falar nisso, obrigatório o seu episódio no Chef''s Table France!). Aqui existem vários petiscos para partilhar e cerca de 1 dúzia de pratos individuais. Fomos para a opção de partilha mas vi passar algumas volumosas doses individuais que me deixaram com curiosidade! Aviso desde já, isto vai ser extenso pois pedimos muita comida. 11 petiscos e mais umas sobremesas, para ser concreto!
Enquanto tentamos escolher, o que não é fácil devido à apelativa ementa, chega um bom Couvert, com especial destaque para a Manteiga Aromatizada e para o Queijo Curado. Pena o Cesto de Pão ter apenas 4 fatias (de 2 variedades diferentes), pois acaba rapidamente e sentimos a necessidade de pedir mais.
Excelentes Ovos Mexidos com Farinheira, principalmente no seu tempero. De destacar ainda a óptima textura apresentada e o bom balanceamento entre a quantidade de ovos e de farinheira.
O Tataki de Vazia levou-me a imaginar algo bastante diferente daquilo que nos foi apresentado. Tataki é uma técnica japonesa que nos remete para uma peça de proteína (peixe ou carne) apenas selada rapidamente, ficando com o seu interior cru. O que experimentámos aqui é apenas um bife da vazia cozinhado médio. Por ser um tataki não sentimos necessidade de especificar temperatura, nem nos foi perguntada. A peça é boa, a carne estava bem temperada e era tenra mas não o chamaria um tataki.
A Morcela Assada com Mousse de Maçã apresentou uma boa textura com a sua pele crocante, bastante bem acompanhada pela mousse (talvez mais um puré mas nada de grave).
Para mim, os pratos menos conseguidos da noite foram aqueles que apresentaram molho. Na sua maioria os pratos estavam saborosos e bem temperados mas os que tinham algum tipo de molho, cuja vontade e expectativa é sempre de que se apresentem gulosos para podermos encharcar o pão neles, No Pica Pau a carne era macia mas mais parecia ter cozido no molho onde vinha, o que não abonava muito a seu sabor.
Também a piscina de Lulinhas Algarvias apresentava o mesmo problema. Molho sensaborão mas as lulas em si apresentavam uma textura bastante macia.
Pouco melhor as Gambas a la Guillo, com o molho a apresentar mais sabor, mas a precisarem de ser bastante mais puxadas no seu tempero!
Bastante melhor, e a pedir mais um cesto de pão, o Chèvre Gratinado e a sua combinação clássica com componentes adocicados como o mel e as passas.
As Chips de Batata Doce também se revelaram uma agradável surpresa, ainda que não ao nível do Pigmeu, mas apresentando-se bem fritas e estaladiças.
A surpresa da noite, numa nota bastante positiva, foi algo tão simples como Cogumelos Frescos Salteados. Em pratos mais complexos e com molho tudo se revelava desinteressante mas aqui, onde algo simples funciona, o arriscar no saltear com alecrim e tomilho foi uma aposta perfeita.
N'O Quintal não se parece arriscar muito em temperos fortes ou combinações improváveis (exceptuando os supracitados cogumelos). O Tártaro de Peixe, corvina neste caso, acabava por reflectir isso mesmo, com o uso de frutas doces já visto em muitas ementas. Mas, apesar disto, não deixa de ser um bom exemplar de um tártaro, porque combinam bem com a acidez do sumo de lima, sem ofuscar o peixe.
O Tártaro de Novilho apresentava-se como uma interpretação próxima da original, na sua versão "Finish It Yourself", mas com o uso de ingredientes menos intensos. Neste caso, a substituição da mostarda de Dijon por uma de grãos ou o uso de vodka no lugar de cognac. Excelente o corte de carne, com cubos grandes a permitirem sentir a frescura e qualidade da carne.
O único ponto menos positivo é a forma como é servido, numa tábua de ardósia. Visto ser temperado com azeite, a facilidade com que, sem intenção, se entornou líquido num dos comensais presentes na mesa é algo que deveria mesmo ser revisto. Também houve alguma dificuldade ao misturar tudo na ardósia.
As sobremesas estiveram todas a um excelente nível! Um Bolo de Chocolate com 2 texturas distintas e de excelente e guloso sabor.
A acidez perfeitamente balanceada na Mousse de Lima foi um claro vencedor para mim. Sabores óptimos, que satisfizeram plenamente o amante de sabores cítricos que há em mim, numa mousse de cremosidade incrível e com um fundo de bolacha bastante simpático.
Também o Banoffee se revelou uma excelente sobremesa, principalmente com aquele pequeno pedaço perfeitamente caramelizado que existia no topo.
O Quintal tem o potencial para não ser só um restaurante de "moda passageira", tornando-se um bastião do bem receber e bem comer na Amadora. Mas necessitam de corrigir e trabalhar mais nalguns dos pratos para que isso aconteça. Como as doses não são grandes, os preços podem parecer inflacionados, mas se a qualidade da comida aumentar será mais do que justificável os preços praticados.
O Quintal
Amadora, Portugal
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 7 de Maio 2017
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