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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Pérola da Mourisca (Setúbal - Mourisca)

Quando faço a viagem Lisboa/Algarve, ou vice-versa, surge sempre a mesma dúvida... Onde parar para comer qualquer coisa? Sou um fã eterno d'O Cruzamento (aqui) mas isso entra em conflito com o gostar de experimentar novos locais. Fosse o (entretanto encerrado) Hortelã da Ribeira em Alcácer, que tinha uma Sopa de Tomate de bradar ou o afamado pato da Tia Rosa em Melides (que me desiludiu e sobre o qual falei aqui) a verdade é que tento aproveitar estas viagens para conhecer algo que fique perto de uma saída da A2.
No mapa, o Pérola da Mourisca até parecia satisfazer este critério, mas só passado quase 30 minutos em estradas secundárias chegamos ao restaurante. Chego a pensar que é bom que a viagem valha a pena, ainda com a desilusão de Melides em mente. Um pensamento que se acentua quando entro num restaurante quase vazio, mas é domingo à noite e o local é algo remoto, por isso tenho que dar o benefício da dúvida.
Já tinha ouvido falar bem do local, mas sem um foco específico quanto ao tipo de comida. Como estamos numa Cervejaria/Marisqueira a ementa tem diversas secções interessantes mas optámos por pedir vários petiscos.
Começámos com uns surpreendentes Pimentos Recheados com Sapateira. Para quem não gostava de pimentos até há poucos anos, nem é grande fã de marisco, a primeira garfada fez-me arregalar os olhos e atacar avidamente o que restava no prato. Uma pasta bem balanceada, sem perder o sabor característico da sapateira, sobressaía acima da intensidade do pimento.


O prato mais simples, e digno de outro momento de arregalanço ocular (se a expressão não existia, passa a existir!), foram uns belíssimos Ovinhos de Codorniz em cima de pão torrado e com uma surpresa suína pelo meio. Era capaz de comer 20 daqueles ovinhos!


Chegaram também à mesa uma Farinheira com Ovos e uns Espargos com Ovos, assim mesmo de nome trocado, pelo rácio encontrado no prato. Sabores fortes (e bons) em ambos os extremos do prato, pecando apenas pela textura dos ovos, secos demais para o meu gosto.


Boas Puntillitas, de bom tamanho, fritura correcta, sem excesso de óleo, mas faltando-lhes um pouco de sal na farinha que lhes servia de casaco. Ainda assim, um prato que nunca me escapa quando vejo na ementa.


Um dos pratos mais conhecidos desta casa, e recomendação do staff (que esteve impecável durante toda a refeição), é o Camarão no Forno. Perfeitamente justificável pelo sabor do prato, quase a fazer lembrar camarões salteados com alho, mas onde a logística para os comer não é a melhor. Não saem facilmente da casca e o facto de estarem divididos ao meio não dá jeito nem para comer à mão, nem para comer com talheres! Já para não falar na estranha tentativa da habitual chupadela da cabeça (não há forma menos pornográfica de descrever a acção, desculpem os mais sensíveis).


Queríamos terminar com uma nota doce, recaindo a escolha sobre o Folhado de Queijo Fresco com Doce de Figo. E, deixem-me que vos diga, é uma verdadeira maravilha! Não me perguntem como, mas funciona na perfeição. É leve, é doce sem o ser excessivamente mas não deixa de despontar em nós uma pecaminosa gula.


Apesar do longo desvio, achei que valeu a pena! O atendimento foi descontraído e prestável (o facto do restaurante estar vazio também ajudou) e a comida não desiludiu.

Pérola da Mourisca
Setúbal, Portugal
Pérola da Mourisca Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 18 de Março 2018

quarta-feira, 21 de março de 2018

Café Garrett (Lisboa)

Já conhecia o trabalho do Leopoldo Garcia Calhau dos tempos do Sociedade (aqui), mas ainda não tinha tido oportunidade de o visitar no Café Garrett. Queria perceber o que a transição para Lisboa tinha trazido de novo, bem como a evolução que a cozinha do mesmo tinha tido.
Começando pelas conclusões, pareceu-me que a cozinha do Leopoldo está ainda melhor e mais focada nas suas raízes alentejanas. A filosofia dos pratos construídos à volta de 2 ou 3 ingredientes mantém-se mas achei as doses ligeiramente mais pequenas que na Sociedade, ainda que os preços dos petiscos se mantenham. O problema da ementa aqui é o mesmo que no antigo espaço, escolher! Tudo parece fantástico, seja nas abordagens de pratos mais comuns ou em combinações improváveis. O melhor mesmo é deixar-nos ficar nas mãos do chef e comer o que for chegando à mesa. Excepto se houver o Tomate, Tomate e Tomate. Se houver, peçam! É obrigatório!
Começámos a refeição com o Alheira, Maçã e Bróculos, um prato bastante simples mas com 3 componentes de sabores tão díspares que achei estranho funcionarem tão bem. Mas o Leopoldo é um mestre nestas conjunções simples e equilibradas. Alheira excelente e de forte sabor, a ser balanceada com a doçura e acidez da maçã e ainda o amargor dos bróculos.


Excelente também o Pato, Vinagre Balsâmico e Couve-Flor, principalmente pela perfeição com que o pato se apresentou. O sabor do vinagre balsâmico ajuda a criar uma festa de sabores na nossa boca que não cansa e vicia. 


Simplicidade e sabor são duas das imagens de marca da cozinha de Leopoldo, algo que ficou claro também no Polvo, Beringela e Pimentos. Polvo com uma textura perfeita a ligar perfeitamente com a beringela (em puré) e os pimentos, dois ingredientes mais térreos. 


O Entrecosto manteve as coisas num nível muito bom, particularmente na molhanga que vinha no fundo da taça. Bastante sabor também na carne, com a carne a soltar-se do osso sem oferecer grande resistência. Penso só que poderia haver um elemento que servisse mais como acompanhamento mas percebo o intuito de comer o entrecosto só assim mesmo à guloso.


Por falar em gula, as Bochechas de Vaca, Aipo e Alho Francês são qualquer coisa de outro mundo. Macias, cheias de sabor e a ligarem muito bem com um puré perfeito. 


Um dos pratos mais icónicos do Café Garrett, e sobre o qual já tinha ouvido falar bastante, era a Cabeça de Borrego, Hortelã e Pão. Este prato é servido em duas componentes diferentes, tendo de um lado fatias de pão barradas com a marinada onde a cabeça de borrego esteve e do outro a carne da cabeça servida num género de caldo de ensopado, mas onde tudo faz sentido e onde Leopoldo nos puxa para as suas raízes. Não é um prato fácil de gostar mas é indispensável para os apreciadores deste tipo de iguaria.



Há restaurantes que têm um ou dois pratos icónicos, daqueles que se deve comer sempre que se vai lá e pelo qual ficaram conhecidos. O Café Garrett é conhecido pela cozinha de Leopoldo como um todo! Mas, existe sempre um mas, há uma sobremesa que é sobejamente elogiada e a qual não podia deixar passar. E ainda bem, pois o Pudim de Noz da Joana é verdadeiramente maravilhoso.


Não é dos restaurantes portugueses mais tradicionais mas é dos que melhor interpreta a cozinha portuguesa. É reinventar sabores sem os estragar, é trabalhar o melhor produto com base em técnicas e conhecimentos tão portugueses mas sem perder identidade. É ser português no Século XXI e liderar o caminho para o futuro gastronómico português sem esquecer as origens.

Café Garrett
Lisboa, Portugal
Café Garrett Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 14 de Outubro 2017