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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Maria Pia (Cascais)

Estão a ver aqueles restaurantes que suscitam curiosidade desde a primeira vez que ouvimos falar mas mas, por um motivo ou por outro, vamos adiando e adiando a visita, até que finalmente lá vamos e a única coisa que não conseguimos perceber é o porquê de não lá ter ido mais cedo?
O Maria Pia foi um destes casos! A sua abertura, em Setembro de 2014, passou-me algo despercebida mas rapidamente se tornou um dos restaurantes mais interessantes de Cascais. A sua localização privilegiada, junto ao Clube Naval de Cascais, proporciona uma vista fantástica ajudada pela componente envidraçada do restaurante. O atendimento é jovem, descontraído e extremamente prestável mas um pouco lento, tendo feito com que o almoço demorasse cerca de 3 horas. Não tínhamos pressa, por isso não nos preocupámos muito com isso e só quando saímos do restaurante reparámos na quantidade de tempo que tinha passado.


A refeição inicia-se com um bom Couvert, com destaque para o excelente pão rústico ainda que o de azeitonas não lhe ficasse muito atrás. Bom azeite com coentros e alho e um trio de manteigas deslumbrante, da mais tradicional à de beterraba.


O Maria Pia assume-se como um Seafood Lounge, mas não estamos perante uma marisqueira tradicional. Uma rápida vista de olhos pela ementa mostra-nos o lógico foco em produtos marítimos, mas sempre em interpretações muito próprias, seja de pratos mais clássicos, ou em pratos mais próximos da cozinha de autor.
Inevitável a presença de um prato de Amêijoas à Bulhão Pato, aqui apelidadas Travessa de Amêijoa com Limão e Coentros, com uns bivalves de boa dimensão, bastante saborosos e banhados num molho que soube estar à altura do desafio. Claro que se mandou vir mais daquele maravilhoso pão para a mesa e não se descansou enquanto houvesse pinga de molho.


O "prémio" para melhor prato da refeição, dono de uma execução perfeita, de ingredientes de fantástica qualidade e de um empratamento que poderia ser capa de uma qualquer revista da especialidade, foi o Atum Braseado com Creme de Aipo e Cenouras. Tudo fazia sentido no prato, inclusive a esferificação de balsâmico!


Do lado oposto do espectro visual do atum, o Risotto Negro de Marisco, que tinha muito pouco de apelativo. Mesmo sendo um risotto com tinta de choco, não era necessário ser tão monocromático. Aposto que as cores naturais das proteínas usadas (que mal se distinguiam no meio do risotto) ficariam bastante bem e ajudariam a dar cor ao prato. Felizmente, a falta de cor não representou falta de sabor, com o risotto a apresentar-se perfeitamente cremoso e de fortes sabores.


Muito bom também o Arroz de Lingueirão com Filetes de Robalo. Poderia ter um maior rácio do bivalve face ao arroz, que se apresentou malandrinho, mas servindo mais como acompanhamento do que como prato principal isto não foi crasso. Excelente fritura nos filetes, que na verdade eram goujons (as coisas que aprendo quando estou a fazer o trabalho de investigação para escrever estes devaneios), a fazer deste um prato bastante seguro e bem executado.


As sobremesas não estão ao nível dos pratos, mas andam muito lá perto, o que já é muito bom. O Chocolate e Morango, uma combinação clássica, é uma excelente escolha para quem se quer perder num bom ganache de chocolate, sem olhar para o lado pecaminosamente guloso da questão, que é atenuado pela presença de alguns pedaços de morango e de um bom gelado do mesmo.


Um pouco melhor, principalmente para quem é tão fã de sabores cítricos como eu, A Laranjeira. Boa torta de laranja, ainda que pudesse estar mais húmida e também mais intensa, a acompanhar com 3 gomos de laranja e um gelado, que acabou por estar aquém dos restantes elementos no prato.


Um restaurante que rapidamente se torna para mim um dos meus favoritos em Cascais. Pratos bem executados, muito bem trabalhados ao nível do sabor e com ingredientes de qualidade irrepreensível!

Maria Pia
Passeio Dona Maria Pia - Clube Naval de Cascais
Cascais, Portugal
Maria Pia - Seafood Lounge Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
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TheFork
Site
Preço Médio: < 40 €
Data da Visita: 13 de Junho 2018

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Sabores da Praça (Grândola)

Mais uma viagem, mais uma paragem gastronómica à procura de conhecer novos restaurantes e ser surpreendido. Infelizmente desta vez as coisas não correram bem. A ideia inicial era jantar no Taberna d'Vila mas não conseguindo arranjar mesa, dirigi-me a outro restaurante que tinha referenciado (e que estava aberto a um domingo à noite).
Foi assim que fui ter ao Sabores da Praça, um restaurante com um nome que me invoca imagens de pratos da terra, com produtos comprados na praça, ou não estivesse o próprio restaurante introduzido no edifício do Mercado Municipal. Mas quando abro a ementa deparo-me com alguns petiscos, pratos de massa, hambúrgueres, um prato de peixe e várias opções carnívoras. Ou seja, não era bem aquilo que tinha em mente e as opções presentes pareceram-me muito pouco regionais, o que foge um pouco ao que procurava.
E não foi só aqui que os nomes não bateram certo com a imagem mental que criei. Os Cogumelos Salteados com Chouriço não eram apenas salteados! Imaginei cogumelos salteados em azeite e alho com chouriço. E, imagino, que o prato tenha passado por esse processo mas depois adicionaram-lhe um molho que não achei que acrescentasse assim tanto valor. Ainda lá molhei pão a ver se percebia a adição mas, mesmo assim, nada que tenha feito as minhas papilas gustativas saltitar. O que até é de estranhar, pela utilização de chouriço, mas este também não tinha assim tanto sabor.


A seguir ataquei o Choco Frito com Arroz de Lingueirão, mas correu ainda pior que a entrada. Começando pelo menos mau, o arroz. A nível de sabor estava lá, mas o lingueirão estava duro. E não foi a única coisa com uma textura estranha, já que o choco estava bastante borrachoso. A fritura também não estava consistente e tinha um molho de azeite e limão, que não sabia a limão, e que acrescentava gordura a uma coisa já de si frita... Não me fez sentido e não acho que seja uma combinação feliz. A ideia não era terrível mas a concretização falhou.


Estava de tal forma triste com a refeição que não me apeteceu sequer espreitar as sobremesas. Estava algo desconsolado com a má escolha, mas este é o risco de querer conhecer novos locais. Nem sempre vamos acertar...

Sabores da Praça
Grândola, Portugal
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 12 de Agosto 2018

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Fialho (Tavira)

O Algarve é conhecido pela sua gastronomia virada para o mar, principalmente em preparações simples e que deixam o produto brilhar. Podemos encontrar restaurantes deste género um pouco por todo o lado mas, perto de Tavira, sempre tinha lido bastante sobre o Fialho, um dos restaurantes com melhor produto e melhor relação qualidade-preço. Não estamos no domínio das marisqueiras fancy, mas sim num típico restaurante algarvio, quase uma cabana à beira estrada, com um aspecto clássico de tasco.
Iniciámos hostilidades com umas boas Amêijoas à Bulhão Pato, ainda que o molho pudesse estar um pouco mais apurado, mas cumpriu na mesma os requisitos mínimos.


Atirámo-nos depois a umas Ovas de Choco, um petisco nunca antes experimentado por este vosso entusiasta, mas do qual fiquei fã. Encontra-se muitas vezes frito, mas aqui surpreendeu os comensais presentes ao aparecerem numa banheira de escaldante azeite aromatizado com alho e salsa. Não sabia bem o que esperar, mas fiquei rendido, tanto às ovas em si como ao azeite aromatizado onde cheguei a mergulhar pão diversas vezes.


Um dos ex-libris da casa é o Arroz de Lingueirão, que chega à mesa numa dose que dá para 3 pessoas. Infelizmente não achei que estivesse à altura de outros locais onde este icónico prato é servido. Para além do picante, que é uma preferência pessoal neste tipo de pratos, faltava-lhe algum sal e um melhor rácio na proporção entre arroz e bivalve. Pela positiva, arroz bem cozinhado, bastante caldoso e a gigantesca dose.


Encaro atum como se de carne se tratasse e, como tal, peço-o sempre mal passado. Infelizmente isso não aconteceu aqui com a Barriga de Atum. Boa qualidade da barriga, não tendo secado mesmo estando bem passada, mas acho que perde bastante ao ser servida assim.


Terminámos com uma Torta de Laranja com muito pouco sabor, mas de textura correcta. Numa região tão famosa pelas suas laranjas, seria de esperar que as tortas de laranja tivessem sempre bastante sabor.


Uma refeição com alguns altos e baixos mas não achei que justificasse a fama que tem. Tirando as ovas de choco, tudo o resto podia ser melhor e os pratos principais falharam em pormenores essenciais.

Fialho
EM 1339, 1090E - Luz de Tavira
Tavira, Portugal
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 12 de Agosto 2018

terça-feira, 6 de março de 2018

Dom Pepe (Parede)

Não sou um grande adepto de marisco. Percebo o fascínio nalguma das coisas, e já experimentei pratos maravilhosos com marisco, mas de forma geral não é algo que costume estar no topo dos meus apetites. Mas aceitei o desafio de alguns amigos meus para ir ao Rodízio de Marisco do Dom Pepe, do qual já me tinham falado muito bem. 
O espaço do Dom Pepe é muito bom e a vista sobre a Marginal é fantástica, tornando-o num dos restaurantes mais bem localizados da Parede, ainda que tenha algumas dificuldades em estacionar perto. 
Estranhamente a refeição começa com o prato mais pesado. Ok, não é assim tão estranho. É como os restaurantes de sushi trazerem primeiro os hot rolls, para que os nossos estômagos se encham o mais rapidamente possível e, neste caso específico, com um produto mais barato, o arroz. Mas, e aí tiro o chapéu ao Dom Pepe, esmeram-se no Arroz de Peixe que servem. Arroz caldoso e bem cozido, bastante bem recheado de peixe mas, acima de tudo, com sabor! 


Bons Mexilhões à Espanhola mas a necessitar de um molho mais apurado, talvez até com um picante que elevasse o prato a um nível superior.
Também o serviço esteve a bom nível, pois quando um comensal extra chegou por esta altura, prontamente refizeram o rodízio de início propositadamente em porções mais pequenas, apesar de ainda estarem os dois tachos presentes na mesa, mas já algo vazios e não tão bons como quando chegaram à mesa.


O Rodízio em si é composto por uma travessa de frios e outra de quentes, que podemos depois repetir uma segunda vez apenas com os itens que mais gostámos. Tudo de um nível bastante aceitável mas a destacar algo pela positiva teria que ser a casca de sapateira gratinada e os camarões fritos. Pela negativa, as ostras não eram das melhores que já experimentei, longe disso (essas foram na Casa da Igreja, da qual falei aqui).



Tudo isto por um valor que considero bastante aceitável, caso não nos estiquemos nas bebidas, o que pode ser complicado pois com este marisco todo apetece-nos um bom verde fresquinho a acompanhar.
Fica por experimentar também o Rodízio do Baía do Peixe para ter um termo de comparação entre duas das mais badaladas mariscadas da Linha de Cascais.

Dom Pepe
Parede, Portugal
Dom Pepe Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 30 de Setembro 2017

domingo, 30 de julho de 2017

Boi-Cavalo (Alfama)

Hugo Brito é um dos chefs do momento em Lisboa. Desde que abriu o Boi-Cavalo em 2014, com Pedro Duarte mas tomando as rédeas do projecto a solo em 2015, que se tem vindo a destacar na cena gastronómica da capital como um dos novos chefs a ter em conta. Tanto que foi um dos chefs a subscrever o Manifesto para o Futuro da Cozinha Portuguesa (aqui), proclamado no Peixe em Lisboa, conjuntamente com outros colegas bastante relevantes. A lista completa: Henrique Sá Pessoa (Alma / Tapisco), José Avillez (Belcanto / Mini Bar / Cantinho do Avillez  / Bairro do Avillez / Pizzaria Lisboa / Café Lisboa), Alexandre Silva (LOCO), João Rodrigues (Feitoria), Milton Anes (LAB by Sergi Arola), Kiko Martins (O Talho / A Cevicheria / O Asiático / Surf & Turf / O Watt), Hugo Nascimento (Tasca da Esquina / Peixaria da Esquina / Taberna da Esquina), Pedro Pena Bastos (Herdade do Esporão), Tiago Bonito (Largo do Paço), Luís Barradas (Tago's), Leandro Carreira, Hugo Brito (Boi-Cavalo), Manuel Maldonado (Ostraria), Tiago Feio (Leopold), Rodrigo Castelo (Taberna Ó Balcão), David Jesus (Belcanto) e Carlos Fernandes (LOCO).
Num registo muito próprio, Hugo Brito apresenta-se no Boi-Cavalo com uma cozinha muito diferente e muito única, com um menu de degustação (7 pratos, 32€) que muda semanalmente. Claro que esta mudança semanal acarreta riscos. Existe sempre o risco de um novo prato, pouco trabalhado ainda, não estar a funcionar bem, ou até a possibilidade de chegar a um bloqueio criativo pois é um trabalho extremamente exigente que obriga o chef a reinventar-se e continuar em constante adaptação com os produtos disponíveis. Se, ao fim de 3 anos, Hugo Brito conseguiu domar este animal selvagem que é o Boi-Cavalo, muito diz do trabalho nele colocado e que tornou este espaço como um dos melhores de Lisboa. Era um restaurante que já tinha na lista há muito tempo mas acabei por aproveitar o voucher 2 por 1 da Time Out que surgiu a meio de Julho.
Espaço esse que é bastante giro, tendo sido em tempos idos um talho, mas com as mesas relativamente pequenas e as cadeiras algo desconfortáveis. Apesar da política de menu de degustação, que deveria levar as pessoas a desfrutar de uma viagem nas mãos do chef sem tempo limite, o restaurante impõe (ao fim de semana) uma política de dois turnos (às 20h e às 22h30) o que, tendo em conta as cadeiras em questão até é benéfico pois perto do fim da refeição já existe muito a vontade de se levantar e esticar as pernas. O aviso relativo aos turnos foi feito na hora da reserva, até com alguma insistência mas a verdade é que, chegando às 20h, tudo correu bastante suavemente, tendo quase toda a gente saído do restaurante um pouco antes do início do turno seguinte, mas já com o decorrer do reboliço de preparação para a nova fornada de clientes.
A ementa servida por Hugo Brito é uma imensidão de irreverência com sabores novos e conhecidos a conjugarem-se em técnicas bem executadas mas onde nem sempre o resultado foi perfeito. O principal a ter em conta aqui é que temos que ir de mente aberta e sem restrições (pois também essas não nos foram perguntadas em momento algum, da reserva ao fim da refeição, e neste tipo de conceito deve sempre ser perguntado). Mente aberta é realmente o mais importante aqui, e aconselho a só mencionarem restrições alimentares se forem realmente condições médicas. Se não comem carne, peixe ou legumes por opção vossa (e respeito a vossa opção apesar de não concordar com ela) arrisquem na mesma e deixem-se ir! A questão é sempre "Porque não arriscar?"... porquê ficar amarrado a manias, quando podemos numa refeição descobrir novos horizontes e novos prazeres?
Nota de aviso: é muito possível que os nomes dos pratos esteja um pouco errado porque em momento algum me disponibilizaram uma ementa com o que iria comer (o que seria agradável) e foi tudo baseado em notas tiradas depois da descrição do prato.
Digo tudo isto mas, atenção, a refeição nem sequer começou bem! O Lingueirão, Manjericão Tailandês e Framboesa Desidratada ficou muito aquém das expectativas. O bivalve de sabor natural intenso mas algo estagnado, não de mar aberto e pirolitos na praia mas mais de Ria Formosa e seu natural lodo, que quando primeiramente provado não deixou ninguém na mesa perceber onde raio estavam os restantes ingredientes. Lá descobrimos uma folha de manjericão na casca do bivalve e esfregámo-lo veementemente (se fosse um mexilhão isto lembrava-me a outra música) e tudo tomou uma nova dimensão! Aqui já mais agradável mas sem chegar ao patamar que estávamos à espera. Ah, e a framboesa desidratada? Quando provada em conjunto era totalmente afogada pelos restantes sabores. Quando provada individualmente tinha piada mas o seu propósito no conjunto já se tinha perdido.


Felizmente foi só o início que foi atribulado porque a restante refeição correu bastante melhor. Atenção, correu bastante melhor para mim, mas houve pessoas na mesa que não gostaram do prato X ou Y. E é isso que também é engraçado nestes menus em que não sabemos o que vamos comer. O entrar num local com uma venda nos olhos e ir retirando a venda aos poucos. Cada pessoa irá interpretar aqueles sabores à sua maneira e gostará ou não. Mas ao menos arriscou!
Claro que houve alguns pratos consensuais, como foi o caso do Creme de Favas com Chouriço, Chips de Batata Roxa e Ovo Curado. Que sabores tão portugueses, tão fantásticos e tão bem trabalhados! Altamente viciante e a apetecer-me lamber toda a taça! Único pormenor que não percebi no prato, e que aconteceu nalguns pratos salgados sem fazer grande sentido gostativo, foi o Ovo Curado, apresentado em forma de pó.


Também a puxar aos sabores portugueses, mas com aquele toque de irreverência essencial, o Puré de Morcela e Tamarindo, Tagliatelle de Lula, Vinagrete de Maracujá, Amêndoa Torrada e Pó de Nori. Começando pelo aspecto menos positivo, o pó de nori que não pareceu acrescentar nada de novo excepto dar mais uma cor ao prato. Todos os restantes ingredientes bastante bons quando provados individualmente, com o vinagrete de maracujá a surpreender bastante e o puré a puxar também ao avinagrado dos chouriços de sangue. E, por muito estranho que seja combiná-los, fazia total sentido!


O prato de peixe da noite consistiu num Chicharro Braseado com Molho de Poejo e Pó de Mexilhão (lá está o pó que para mim nada acrescentou) acompanhado por Noodles de Batata Macerados à Bulhão Pato com Pele de Porco. Ainda que o chicharro estivesse ligeiramente salgado, estava fantástico. Excelente textura, com uma cozedura mesmo muito ligeira e pleno de sabor. Do outro lado, uns leves noodles de batata, onde o bulhão pato não era de todo pronunciado mas que ligava lindamente com a estaladiça pele de porco.


O prato mais "simples" da noite não foi menos bom pela aparente simplicidade com que chegou à mesa. 3 componentes, sem grandes descrições ou complicações nas notas tiradas. Um excelente, super macio, super tenro e bastante saboroso Lombinho de Porco com Puré de Alface e Vinagrete de Batata-Doce. Aqui, finalmente, sem pós de pirlimpimpim ou outros adereços que não faziam sentido. 3 sabores distintos e fortes, com o lombinho de porco (que era realmente de bradar aos céus, com o seu interior ainda rosado) a puxar o lado salgado, o puré de alface a trazer amargor e o vinagrete de batata-doce, que não era um componente ácido mas sim um componente doce. Excelentes individualmente mas muito melhores juntos.


O penúltimo momento pareceu muito pouco português no seu timing, a puxar mais por raízes francesas julgo, com um prato de Queijos e Pães a chegar à mesa antes da sobremesa. 3 tipos de pães (que não me recordo quais eram mas todos de bom nível) e 3 queijos, bastante diferentes entre si mas todos de sabores únicos e pronunciados. O de Serpa (na image, o do meio) com tons mais macios ao palato mas a acariciar-nos gentilmente as papilas gustativas, assim como o Chèvre que sendo um pouco mais intenso, e de uma excelente qualidade, nos ajuda a progredir para aquele que foi um queijo apoteótico com o São Jorge de 40 (!!) meses de cura. Um queijo que surpreende e evolui na própria boca para ser uma verdadeira bomba! Para ir cortando e limpando o palato, uns simpáticos pickles de rabanete.


Falava-se à mesa como é cada vez mais comum encontrar, em restaurantes com cozinhas de autor ou mais vanguardistas, sobremesas menos doces. Algo que não seja aquelas bombas de doçura que nós portugueses tão bem fazemos. Atenção, nada contra os nossos tradicionais doces conventuais mas é bom variar de vez em quando. O Cheesecake de Banana, Molho de Sakê, Espuma de Raíz Forte, Doce de Marmelada e Banana Frita acabapor fazer isso mesmo. Apesar do (longo e provavelmente errado) nome soar a algo bastante doce, o sabor da raíz forte, com toques entre a mostarda e o wasabi, ajuda a contrabalançar tudo o restante, transformando-a numa sobremesa que foi crescendo a cada colher.


Mesmo não tendo ficado fã do primeiro prato, a vontade de voltar ao Boi-Cavalo é grande! Porque a probabilidade de comer o mesmo que comi na semana que lá fui é muito baixa. Porque quero conhecer melhor o nível de criatividade de Hugo Brito. Porque quero perceber se a sua cozinha irá de encontro ao Manifesto que proclamou. Mas no final quero voltar por um simples motivo... porque é bom!

Boi-Cavalo
Alfama, Portugal
Boi Cavalo Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 40 €
Data da Visita: 16 de Julho 2017

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Prazeres da Ria Formosa (Olhão)

Parece que a zona ribeirinha de Olhão está a crescer. Percorrendo toda a Avenida 5 de Outubro, dei por mim maravilhado pela quantidade surpreendente de restaurantes interessantes que por ali prosperam. Do mais tradicional e regional restaurante algarvio, a casas de petiscos, tascas modernas e até mexicanos. Parece haver de tudo um pouco, uns com melhor pinta que outros, mas ainda assim uma zona curiosa para se explorar. Estranhamente, não me lembro de ver uma hamburgueria mas de certeza que por lá haverá também esse fungo que, nos dias de hoje, prolifera em qualquer ambiente.
E foi exactamente a um destes novos restaurantes com boa pinta que fui jantar. O Prazeres da Ria Formosa é uma marisqueira, promovendo o melhor dos produtos locais, com um serviço amigável, brincalhão e descontraído.
Não sendo um grande apreciador de marisco (exceptuando eventualmente a secção de bivalves), acabei por petiscar um pouco da Mariscada Familiar e atentar à qualidade do que se servia. Para além da generosa quantidade do que é servido, dando a Mariscada para uma refeição de 2 ou 3 pessoas à vontade, tem uma variedade considerável de espécies, tudo cozinhado da forma mais genuína, para que a qualidade natural do produto sobressaia. Ostras, sapateira recheada e suas pernas, camarão cozido, camarão tigre grelhado, berbigão, lingueirão, amêijoas, e talvez algo mais que me possa ter escapado da mente, tudo de uma frescura invejável e excelente qualidade. A excelência dos produtos locais a poucos passos da Ria. Outra coisa não seria de esperar quando a proximidade à origem é tanta.



Muito bom o Arroz de Lingueirão, bastante malandro e tentando roubar todo o protagonismo ao anterior prato. Perfeitamente cozinhado, com uma quantidade adequada de "bichos" e um caldo saboroso, este exemplar em nada fica atrás de outros mais famosos. O tamanho da dose dá perfeitamente para 2 pessoas.



Decidi experimentar, para sobremesa, aquele que é o verdadeiro exemplar de um trifecta clássico da doçaria regional algarvia, um Doce de Figo, Alfarroba e Amêndoa. Ao chegar a fatia, pareceu-me um pouco massudo mas tal não se revelou na prova. Uma boa e clássica conjugação de sabores algarvios para terminar uma refeição também ela feita de produtos locais.



O Algarve está recheado de restaurantes como este. Muitos são meramente medíocres, mas outros sabem realmente o que estão a fazer, como é o caso deste Prazeres da Ria Formosa. A juntar à qualidade da refeição, as quantidades são generosas, tornando os preços bastante justos.

Prazeres da Ria Formosa
Av. 5 de Outubro, 94
Olhão, Portugal
Foodspotting
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Site
Preço Médio: < 30 €

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Restaurante Lounge Sal (Ilha de Tavira)

Última manhã de praia em Tavira, lá fomos nós até à Ilha de Tavira para aproveitar as últimas horas de sol algarvio, seguido de almoço num dos restaurantes da própria ilha. A ideia que tinha desses restaurantes é que seriam todos exagerados ao nível financeiro, virados para as centenas (milhares?) de estrangeiros que todos os dias frequentam aquela praia e sem uma qualidade por aí além. 
Mas este Sal acabou por me convencer do contrário. Começámos por conhecer a cozinheira que está à frente do estabelecimento, que é amiga de uma das pessoas com quem me encontrava, bastante simpática e que disse que fazia os possíveis na cozinha mas sempre com bastante amor. Pode parecer conversa da treta, mas o ar da senhora convenceu-me.
Começámos a refeição com um dos pratos mais curiosos da ementa, Mexilhão com Gengibre e Molho Napolitano. Bons mexilhões mas a verdadeira diferença estava no molho, com a conjugação do tomate, cebola e alho a combinarem perfeitamente com o gengibre tostado finamente picado, dando uma verdadeira sensação de profundidade nos vários sabores que nos vão preenchendo a boca.


As Tiras de Choco Frito são boas e com uma fritura uniforme, de boa textura e sabor, acompanhadas por uma maionese de alho não excessivamente forte. Não são as melhores que já comi mas são bastante boas!


O Lingueirão Salteado com Alho e Limão, a fazer lembrar um Bulhão Pato, com os bivalves bem cozinhados e um nível quase acertado de tempero, faltando-lhe ser acompanhado por um gomo de limão que pudesse ser mais facilmente espremido do que a rodela que vem no prato. Problema facilmente e rapidamente resolvido quando o pedido é feito aos empregados e rapidamente correspondido.


Mas, infelizmente, nem tudo esteve a um bom nível nesta refeição. O Polvo "Aglio Olio" com Batata-Doce com um péssimo nível de cozedura, estando duro, borrachoso e difícil de mastigar. O sabor até era agradável com o azeite a ser perfumado pelo alho que lá foi frito e as batatas de bom sabor e bem cozidas, mas o polvo acabou por estragar a experiência deste prato.


Também a Posta de Garoupa com Amêijoas, um dos pratos sugeridos pela cozinheira, acaba por não surpreender apesar do bom sabor da garoupa, mas a ser estragado pela quantidade de amêijoas que tinham areia, algo bastante desagradável. Um prato bom e consistente mas sem deslumbrar.


Também no campo das sobremesas houve altos e baixos. A Baba de Camelo, realizada com uma receita da filha da cozinheira, era bom por não ser tão doce como as que habitualmente se costumam comer, mas a textura não estava correcta e até já tinha criado um fundo de soro. 


Mas o melhor da refeição ficou mesmo para o fim, acabando com uma nota altíssima toda esta experiência. Pedimos dois Cheesecakes, um de Frutos Vermelhos e outro de Figos, e se o de Frutos Vermelhos já era bom, não sei bem como hei-de descrever o de Figos! É um dos melhores, ou até mesmo o melhor, cheesecake que já experimentei! A base podia não ser a mais consistente mas era bastante saborosa, com o queijo creme a ser complementado com raspas de lima que lhe dão um toque amargo ideal, sendo tudo encimado por um doce de figos de comer e chorar por mais. Inesquecível!




No final, não foi só o ar da senhora que me convenceu mas também a sua cozinha, apesar de alguns pontos mais baixos, a ser consistente e feita de bons ingredientes, com os preços a estarem um pouco acima do normal por o restaurante estar localizado na Ilha de Tavira.

Restaurante Lounge Sal
Tavira, Portugal
Preço Médio: < 30 €