Mostrar mensagens com a etiqueta José Avillez. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta José Avillez. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Cantinho do Avillez (Chiado)

Depois da visita que fiz ao Cantinho do Avillez da Expo (aqui), tinha alguma curiosidade para visitar o espaço original e perceber as diferenças entre ambos. E, ainda que se representem o mesmo tipo de conceito do grupo José Avillez, existem realmente diferenças.
A maior diferença encontra-se no espaço e respectiva decoração. Um espaço muito mais escuro, daí as fotos terem ficado com tão pouca qualidade (desta vez, chuto as responsabilidades da falta de qualidade para outrém!) e com um ar mais "caseiro" do que o seu irmão do Parque das Nações. Alguns pratos também diferentes na ementa, mas a base é muito semelhante. O serviço é jovem, informado e altamente prestável.
Começámos com o Tártaro de Atum com Sabores Asiáticos, que já havia experimentado, e achei-o ligeiramente menos atrevido e com sabores menos intensos que da primeira vez. Mantém-se a qualidade soberba do atum.



Excelentes as Vieiras Marinadas com um cremoso creme de abacate a servir de cama para o delicado bivalve, e um crumble de pão alentejano a adicionar-lhe uma (necessitada) camada de textura. Prato muito suave, equilibrado e com uns apontamentos de cebola roxa a ajudar a manter o interesse no mesmo.



Os Ovos à Professor Séc. XXI, uma modernização de uma receita que um antigo cliente do Belcanto criou (muito antes do chef lá ter chegado) que rapidamente se tornou um clássico de José Avillez, foi o prato que se seguiu. Rapidamente percebi o porquê da fama dos ovos. Ovos cozidos a baixa temperatura, chegam à mesa perfeitos, com a gema cremosa que envolve os saborosos pedaços de chouriço salteado e do crumble de pão frito. Prato muito guloso, de comer à colher ou usando o diversificado pão do couvert (se calhar deveriam começar a incluir tostas neste prato)!



E depois da gulodice, outro pecado chegou à mesa, na forma do Queijo de Nisa no Forno. Sabores fortes, mas que sabem trabalhar em conjunto para nos conquistar o palato.



A expectativa para o Bife Tártaro era alta, mas saiu um pouco defraudada. Começando pela melhor parte, as batatas fritas são muito boas! Crocantes, com um nível de sal qb mas dispensava facilmente a redução de balsâmico. O tártaro em si apresenta-se numa receita muito próxima do clássico, com um excelente corte na carne mas a faltar-lhe tempero. Precisava de mais sal e mais mostarda, pelo menos. Longe de estar entre os melhores de Lisboa, infelizmente, mas ainda assim um bom tártaro.



Muito bom o molho que vem no Prego Tradicional, ensopando todo o pão, impossibilitando que se coma o prego à mão, mas compensando largamente ao nível do sabor. Bom pão, bife servido médio, bem temperado e bem regado com a óptima molhanga.



Não podia sair do Cantinho do Avillez sem atacar a mais que obrigatória Avelã3! Aquele contraste de texturas, aquele intenso sabor a avelã e aquela flor de sal... que coisa fantástica.



Excelente refeição, como seria de esperar num restaurante do grupo Avillez, mas a deixar a impressão de que se cortaram nalguns pratos e decidiram ser contidos nos sabores. Não sei se por ser uma zona mais turística, e assim conseguem mais facilmente agradar a todos os seus clientes, mas esperava mais do tártaro de atum (por comparação com experiência prévia) e do bife tártaro!

Cantinho do Avillez
Lisboa, Portugal
Cantinho do Avillez Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 40 €
Data da Visita: 5 de Outubro 2018

domingo, 29 de julho de 2018

Cantinho do Avillez (Parque das Nações)

José Avillez dispensa qualquer tipo de apresentações. Ele é, sem dúvida, o chef mais mediático em Portugal, Rei do Chiado e Arredores, faltando-lhe apenas partir para d'Aquém e d'Além Mar, detentor de um Império invejável mas, tal como D. Afonso Henriques e respectiva descendência, isso não era suficiente e está agora a conquistar o resto do país, um restaurante de cada vez!
Bem, deixemo-nos de história porque essa é sobejamente conhecida e foquemo-nos no presente! Abriu há cerca de dois meses o terceiro Cantinho do Avillez, no Parque das Nações, numa rua que se está a revitalizar e apresenta já várias propostas muito interessantes como o Cantinho ou o Old House.



Este será já o quarto restaurante do Império que visito (quase que poderiam considerar fazer uma espécie de passaporte e ia-se levando carimbos dos vários locais), depois do Mini Bar (aqui), Belcanto (aqui) e Pitaria (a falar num futuro "próximo). Claro que José Avillez não pode estar em todo o lado ao mesmo tempo e confiou a chefia deste seu novo Cantinho ao chef João Novo, que já está no grupo Avillez há 5 anos, com passagens pelo Take-Away de Cascais (já fechado), Cantinho do Chiado e Belcanto, mais recentemente. E ficou bastante bem entregue, diga-se de passagem!
Iniciámos com um Gaspacho de Cerejas do Fundão com Presunto, Ovo Cozido e Croutons, um prato fresco e muito bom para o tempo quente que tarda em vir. Era desejável um sabor mais intenso a cereja, para que se tornasse mais diferenciador e pudesse andar mais a par com o salgado do presunto e a acidez natural de gaspacho. Se não me tivessem dito, não saberia que havia cerejas no gaspacho.



O Tártaro de Atum com Sabores Asiáticos é fantástico. Nota-se a qualidade do produto, muito pelo corte que deixa perceber a textura do mesmo, com o tempero picante a tentar desequilibrar o prato, mas a maionese de miso acaba por ajudar a conjugar tudo, dando-nos, ainda assim, pequenas pontadas de intensidade. Para adicionar mais uma camada de textura, é engraçado a utilização de pequenas esferas de arroz tufado (masago arare).



A carta está bastante bem construída. Podemos fazer uma refeição a puxar mais para sabores fortes ou mais para sabores delicados, bem como para pratos mais frescos ou pratos mais quentes! Todo este lero lero para dizer que gostei da frescura e delicadeza do Ceviche de Vieiras, Batata-Doce e Abacate, percebendo a opção por cortar naquela acidez típica do leche de tigre de forma a não ofuscar a vieira. Foge um pouco aos típicos ceviches que estamos habituados mas, ainda assim, mesmo não puxando pela acidez, com o risco de cozinhar a vieira e tirar-lhe protagonismo, puxaria um pouco mais pelo chili.



Por falar em expectativas, os Tacos Al Pastor foram a primeira grande surpresa da noite! Um prato que, muito provavelmente, não iria pedir mas que me deixou a salivar e a pedir por mais. Passei de "não pediria" para "fazia disto o jantar" facilmente. Sabores pujantes mas equilibrados, que nos despertam todo o interior da boca e nos fazem abrir os olhos tentando perceber de onde saiu tudo aquilo. É salgado, é doce, é ácido, é picante e, quando nos apercebemos, já a nossa boca regozija com tanto sabor.



Terminámos as entradas com o Queijo de Nisa no Forno, uma luta de sabores fortes entre o queijo, o presunto e o mel de rosmaninho, com o óleo de trufa a querer também intrometer-se, desnecessariamente na minha opinião. Considero a utilização do óleo de trufa muito perigosa pela facilidade com que ofusca os restantes ingredientes do prato. Felizmente não aconteceu aqui mas apenas pelo facto de estar a lidar com ingredientes igualmente fortes. O queijo untuoso em conjunto com o presunto torna-se uma combinação verdadeira pecaminosa!



E passamos para os pratos principas e aquele que foi o melhor da noite, a divinal Moqueca de Corvina e Camarão! Duas estrelas no prato, cada uma a fazer brilhar mais a outra. Corvina num ponto perfeito, a tornar-se viciante pelo guloso que estava o caldo. De tal forma que, depois de tratar dos componentes sólidos do prato, pedi uma colher para poder terminar o prato como se de uma sopa se tratasse. Aliás, facilmente me imaginava a comer um prato que consistisse apenas de arroz embebido no caldo. Por preferência pessoal, acrescentava-lhe um pouco de picante mas admito que não precisou de uma gota sequer para ser um prato soberbo.



Apesar de estar num Cantinho do Avillez, e sabendo os padrões elevados que por cá se praticam, não estava à espera de gostar tanto do Risotto de Cogumelos Portobello! Já estava algo cheio, mas é um prato que adoro e acabei por limpar cada bago existente. Boa dose de parmesão, excelente caldo de cogumelos e algum manjericão para nos ir refrescando o palato. O óleo de trufa voltou a fazer uma das suas aparições, mas principalmente ao nível aromático, pois raramente se notou enquanto se comia o prato. Usado desta forma doseada, onde acrescenta ocasionalmente alguns laivos de sua graça, já me faz algum sentido.



Muito bom a Vitela de Comer à Colher com Molho de Caril, com uma conjugação de sabores surpreendente e muito menos pesado do que estava à espera. A bochecha de vitela, a desfazer-se ao toque, combinava na perfeição com o sedoso caril. Para ir cortando a riqueza do prato, cebola roxa e maçã conferiam alguma leveza e necessária frescura. Não utilizei colher no final por dois simples motivos: estava prestes a rebolar para fora da mesa e não sobrou tanto molho pois fazia questão de envolver bem cada pedaço de bochecha ou legume! Mais uma vez a questão do picante que lhe adicionaria, e que podia bem ter pedido, mas são apenas gostos pessoais.



No capítulo dos doces, uma das mais icónicas sobremesas de José Avillez, o Avelã3. E porquê a notação matemática? Porque é uma sobremesa de avelã em três diferentes texturas: gelado, mousse e ralada. Parece demasiado? Não é! Não se torna demasiado doce e ainda tem flor de sal no topo para intensificar algumas das colheradas que sofregamente damos no vaso. Ok, seria sofregamente se não estivesse tão cheio mas dêem-me esta sobremesa depois de uma refeição mais levezinha e vão ver o que acontece!



Para ajudar a empurrar o resto do licoroso Carcavelos Villa Oeiras, um refrescante Sorvete de Limão e Manjericão com Vodka. Não é algo surpreendente, ainda que a adição do manjericão seja uma combinação natural e não desaponte! De ressalvar que todos os gelados servidos no restaurante são Artisani.



O Cantinho do Avillez é daqueles restaurantes que divide opiniões, todas elas válidas. O preço pode parecer elevado, principalmente quando existe um prato na carta a custar quase 40€, mas a verdade é que, por exemplo, o melhor que comi nesta refeição (a Moqueca) custa 14€, o que acho mais do que justo para os sabores experimentados face também à consistência apresentada.
Eu disse no post anterior que não me iria alongar mas parece que é inevitável!

Cantinho do Avillez - Parque das Nações
Lisboa, Portugal
Cantinho do Avillez Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 40 €
Data da Visita: 23 de Julho 2018

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Belcanto (Chiado)

Finalmente!! Andava a prometer a mim mesmo esta ida ao Belcanto. Cheguei a receber fortes incentivos para lá ir mas parecia sempre arrastar-se para "outro momento". Mas não podemos ficar pendurados nas ideias destes outros momentos eternamente, certo? Por vezes temos apenas que saltar, arriscar, e fazer... mas fazer já! O guardar algo para ocasiões especiais é cada vez mais descabido, porque devemos realmente tornar todas as ocasiões em algo especial e aproveitar sempre tudo ao máximo.



Foi neste espírito de aproveitar tudo ao máximo que fui ao Belcanto, o restaurante bandeira do grupo Avillez, com 2 Estrelas Michelin e um lugar no Top 100 dos Melhores Restaurantes do Mundo pela revista Restaurant. Expectativas ao máximo, reserva feita (depois de uma "provocação" por causa de uma foto de um prato do Mini Bar - aqui) e lá entrámos nós no mundo da alta cozinha de José Avillez.
Não sou de todo alguém habituado a este tipo de restaurantes, tendo a minha melhor experiência sido no LOCO (aqui), e não acho que os restaurantes sejam muito comparáveis naquilo que tentam transmitir. A decoração do próprio espaço leva-nos a sentir que estamos num ambiente mais intimista e formal, bem como o serviço, que ainda assim consegue ser também descontraído.



Viemos para a experiência total logo optámos pelo Menu Evolução (lançado em meados de 2017) com o devido acompanhamento de vinhos em 9 momentos. Rapidamente nos chega à mesa o primeiro aperitivo, a versão do chef do Dirty Dry Martini usando licor de flor de sabugueiro, o Sabutini. Refrescante e a limpar o nosso palato para o que aí vem.



O primeiro momento da refeição é composto por vários snacks, jogando muitos deles com o nosso sentido visual antes de mais nada. As Pedras parecem exactamente isso, pedras verdadeiras! E as do meio são mesmo verdadeiras, mas avisam-nos à partida que apenas deveremos comer aquelas que têm pó por cima mas com cuidado pois o invólucro é algo frágil. Sabores intensos, sendo uma das pedras de grão e a outra de fígado de bacalhau.



No bouquet de flores, colocado na mesa para este primeiro momento, estão escondidos uns excelentes Cones de Atum. Perfeita a composição externa, parecendo usar nori, e o interior com uns cubos de dimensões grandes, perfeitos para perceber a textura do atum. Aparente simplicidade no próprio atum mas a revelar sabores bem definidos e equilibrados.



Num formato parecido às Pedras, aparece algo apresentado como Castanha, pois estamos próximos do tempo das mesmas. Interior de textura cremosa e de sabores suaves, sendo mesmo o mais suave de todos os snacks.



Voltamos aos sabores fortes com algo do qual era capaz de fazer uma refeição. Facilmente! Mesmo que tivesse de ingerir 100 snacks destes mas o Frango Assado do Belcanto consegue superar o do Mini Bar! Vamos só dizer que o Frango Assado do Mini Bar esteve no "Melhor de 2017 em Portugal e não só" (aqui) portanto imaginem o quão satisfeito fiquei com este...



As texturas também nunca foram esquecidas nestes snacks, havendo sempre um componente mais crocante. Neste caso, a carne das Patas de Lavagante azul numa mini-sandwich com o formato das mesmas. Refrescante, principalmente devido à acidez do yuzu, doce, salgado... muito bom mesmo!



Das duas experiências que tive em restaurantes Michelin (não vou contar com a do Eleven em Restaurant Week - aqui), apercebi-me que a cozinha de autor portuguesa parece procurar bastante influências portuguesas. Parte o estigma e o preconceito das influências francesas e, cada vez mais, aproxima-nos das cozinhas do antigamente. O primeiro exemplo que tive disso, nesta noite, foi uma mini-sandwich de Cabeça de Xara. Pormenor mais infantil, mas que achei divertido, na fina camada crocante, e depois sabores tão nossos no recheio. E, com o término dos snacks veio o primeiro das duas únicas falhas que ocorreram durante toda a noite, com um minúsculo osso a ser encontrado neste snack. Acontece a todos, sendo admissível e rapidamente ultrapassado com o pedido de desculpas que ocorreu imediatamente, mas neste tipo de restaurantes não estamos à espera destes "pormenores".



É muito complicado dizer qual terá sido o meu prato favorito da noite. Muito complicado!! Todo o nível de comida do Belcanto é soberbo. Alguns pratos mais elaborados, outros aparentemente mais simples mas tudo com muito sabor, e maioritariamente bem definidos.
A Sopa de Tomate com Carapau Fumado é talvez o expoente máximo do que acabei de dizer. Prato visualmente apelativo, servido bastante frio e cheio de elementos complexos que vamos tentando descodificar (um deles parecia um granizado de essência de tomate!). Mas o que ficam são os sabores, e que sabores! Não falha nada, nem as texturas o pão frito a ter esse papel. De lamber o prato...



Com a "sopa", o "couvert"! Impressionante também a qualidade de todo o Pão e das Manteigas (Açores, Farinheira e Fumada). Ao ponto de a meio da refeição continuarmos a atacar as manteigas e o pão e pedirmos mais!




Acho que me vou repetir eternamente porque para todos os pratos quero dizer que tinha excelents sabores, fortes mas equilibrados por isso assumam já este comentário replicado em todos os restantes pratos (sem brincadeira!).
Para o Ceviche de Amêijoas à Bulhão Pato é necessário destacar a acidez, frescura (pois é um prato servido bastante frio, à semelhança da Sopa de Tomate incorpora também pequenas "ervilhas" geladas.



Saímos dos pratos frios e de múltiplos sabores para o prato mais simples da noite, com o Lavagante a ser simplesmente grelhado e temperado com sal. Assim mesmo, nada mais! E não precisa de nada mais, para ser honesto.



É complicado arranjar comparações e adjectivos para tanta comida diferente e não ser repetitivo. Até estes avisos já se tornam repetitivos! Por isso, vou dizer apenas que também adorei este prato de Carabineiro com Xerém de Sames (a bexiga natatória do bacalhau) e Hortelã da Ribeira.



Mas melhor que o corpo, foi comer a cabeça do Carabineiro segurando-lhe com uma mão e esvaziando tudo o que é miolos com uma colher. Apetecia-me pegar naquela cabeça perfeitamente cozinhada e sorver como se estivesse numa qualquer marisqueira por esse Portugal fora. Senti-me bastante tentado, mas olhei à volta e contive-me... Mas estava tão bom que quase soltou o lado animalesco que existe em mim!



Por falar em lado animalesco, é muito complicado não pedir uma Couve do Cozido à Portuguesa... mas inteira! Comer pratadas e pratadas desta couve cozinhada no rico caldo do cozido à portuguesa e servida com alguns cubos de papada. É surpreendente a profundidade de sabor que a couve alcança e torna-se mesmo viciante. Olhem isto num daqueles All You Can Eat de Cozido à Portuguesa!! Estava lá batido todos os meses (inserir piscadela de olho à Justa Nobre)!



Eis que chega à mesa um dos pratos mais clássicos de José Avillez, a Horta da Galinha dos Ovos de Ouro, prato que executa desde 2008! Ovo perfeitamente cozinhado, como é de esperar, excelente caldo, com os cogumelos a segurarem o prato à terra e o alho francês frito a completar todo o conjunto perfeitamente.



O Robalo com Abacate acaba por ser um prato algo apaziguador na montanha russa de sabores que desfila pela nossa boca até agora. O ponto do peixe está exemplar, a salicórnia (apresentada como alga mas sendo uma planta halófita) ajuda a trazer dimensionalidade, bem como o lingueirão meticulosamente cortada em pequenas rodelas. O abacate acaba por ser o que menos se destaca aqui mas traz alguma "gordura" ao prato que não deixa de ser essencial. Pena é que se tenha encontrado uma espinha num dos pratos, sendo o segundo e último evento menos feliz em toda a refeição.




O Arroz de Lula, Tutano e Pancetta é, caros leitores, uma pequena maravilha. Mais um que juntava à lista do fazer uma refeição disto até rebentar! Todos os elementos estão perfeitos nesta homenagem de José Avillez às tão tipicamente portugueses Lulas Recheadas. Para além da vontade de comer muito mais do que me serviram, ficou a vontade de voltar a comer umas boas Lulas Recheadas. Se este tipo de pratos, quando explicados aos turistas que visitem o Belcanto, os levarem a provar as receitas originais e mais comida tradicional portuguesa, então estamos no bom caminho. Excelente pormenor do desenho do prato específico e a acompanhar toda a geometria do corte da lula.



O Leitão Revisitado, outro dos clássicos de José Avillez, chega a seguir e deixa-nos, mais uma vez, maravilhados! Já comi excelente leitão mas este prato é todo um novo mundo... É colocada uma faca de carne para este prato mas conseguiria cortar o leitão com uma colher! Ainda acho que seria muito mais provocativo e engraçado ser servido com uma colher. Porque a pele estava exemplarmente estaladiça mas ainda assim quebradiça, revelando depois a carne macia. E o molho? Só vos digo que ainda bem que deixam o tacho de molho na mesa. Também as batatas fritas, servidas dentro de um pacote comestível, são fantásticas. Os elementos mais normais, mas que assentam na perfeição no conjunto, são o coração de alface grelhado e o puré de laranja.




Mais um prato, mais uma ode aos bons sabores portugueses, com a interpretação de um prato alentejano como Plumas de Porco Preto com Migas de Espargos e Pezinhos de Coentrada. Agora imaginem isto em versão fine dining. Parece impossível? Avillez e seus compadres mostram que não e com grande classe! Que fim perfeito para o capítulo dos salgados.
Não estranhem o ponto do porco, pois o mito de que o porco quer-se bem passado não passa disso mesmo, um mito...



Estão cada vez mais na moda as sobremesas não excessivamente doces, e que conjuguem sabores salgados com doces ou ácidos. No LOCO tinha-me deparado com o genial Carlos Fernandes mas Américo dos Santos não lhe fica em nada atrás, provando que esta nova geração de pasteleiros é formidável. Tinta de Choco e chocolate a representarem uma união improvável mas que, não me perguntem como, funciona!



A sobremesa que achei menos conseguida foi a Morango, que juntava (acho) morangos congelados, telha de morango, maçã infundida com morango e gelado de líchias, sendo este o elemento que não agradou tanto.



Mais um clássico de José Avillez para terminar as sobremesas, a Tangerina. Incomparavelmente superior ao Globo Lima-Limão do Mini Bar e a conseguir terminar a refeição numa nota altíssima. Sabores esclarecidos e a conjugar para o esperado citrino. Tinha algum receio, devido à experiência anterior, mas fiquei rendido.



Com o café, os habituais Petit Four, dos quais não tenho a certeza de todos mas penso que seriam (do mais afastado para o mais próximo): Kumquat, Marshmallow de Pêssego, Framboesa com Wasabi, Goma de Azeite e Cacau com Petazetas. Todos muito bons mas o destaque tem de ir para a Framboesa com Wasabi, que surpreendeu completamente o nosso palato. Engraçado também o uso de Petazetas nestes restaurantes de autor, mostrando que a comida não é para ser levada demasiado a sério, e que tem também de ser divertida.



Como disse, a visita surgiu por conta de uma provocação. O que eu não referi é que essa provocação foi feita por um amigo que lá trabalha e que, no final, nos convidou para visitar a cozinha e podermos falar um pouco. Nada percebo sobre a organização de uma cozinha mas esta parecia impecável (também não esperava outra coisa). Na cozinha, existe ainda a mesa do chef, com lugar para 4 pessoas e vista privilegiada para toda a acção do serviço, o que deve ser uma experiência única. 



Enquanto falávamos, ainda nos foram oferecidas duas guloseimas finais, mas tão arrebatadoras como tudo o resto. Um Cone de Presunto que quase merecia uma estátua ao próprio de tão bom que era.



E um Amendoim com Kimchi, dois sabores que ligam bastante bem, com o doce a surgir primeiro e depois o kimchi a dar aquele kick que leva o snack para todo um outro nível.



Uma refeição memorável, principalmente pela qualidade da comida e respectivo acompanhamento vínico. Continuo com a opinião que se deve abrir a mente para experiências destas, por muito que isso implique abrir também os cordões à bolsa, pois valem bastante a pena. Não digo para só tentarmos fazer refeições destas, nada disso! Adoro ir a restaurantes de todos os segmentos, acreditem! Mas penso que devemos experimentar tudo, e a marca de José Avillez e do Belcanto por toda a Lisboa é inegável, logo temos que lá ir para perceber verdadeiramente porquê.

Belcanto
Lisboa, Portugal
Belcanto Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Site
Preço Médio: < 200 €.
Data da Visita: 12 de Janeiro 2018