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domingo, 25 de fevereiro de 2018

JNcQUOI (Lisboa)

O JNcQUOI (nome de que gosto bastante) foi um dos restaurantes da moda em 2017! A sua abertura moveu multidões de pessoas que queriam ir ao novo restaurante da Avenida da Liberdade e que inclui uma loja de roupa, para além das duas áreas de alimentação, em 2 pisos diferentes. Um restaurante de aparência pretensiosa, para ver e se ser visto, e com um esqueleto de dinossauro no meio da sala! Sim, um dinossauro, mais concretamente um velociraptor.



Enquanto aguardamos que a nossa mesa seja preparada vamos apreciando a decoração, dinossauro incluído. O espaço é muito bonito, com uma luminosidade baixa e intimista. O serviço é bom mas esperava melhor para a gama onde o restaurante se coloca e a música está demasiado alta, parecendo mais propício a uma discoteca do que a um restaurante.
Abrimos hostilidades com um couvert simples mas bastante apreciável na variedade de pão existente! De resto, manteiga simpática e boas azeitonas marinadas. Avançamos depois para as entradas, com um excelente Ceviche de Robalo com Lima! Peixe de qualidade fantástica, perfeitamente balanceado com a gordura natural do abacate, a acidez da lima, a doçura da cebola roxa e o picante da malagueta.



A Burrata é também uma excelente opção de entrada. Sabores mais delicados e mais simples mas ainda assim bastante bons. Ao nível das burratas que Augusto Gemelli vendia na sua banca do Mercado da Ribeira! Vem bem acompanhado com alguns elementos bastante clássicos como o tomate e o manjericão.



Toda a ementa é bastante apelativa, dificultando bastante a escolha referente ao que comer. Não ia com nenhum prato referenciado, preferindo escolher o que me parecesse melhor na altura. Destacou-se o Arroz de Lavagante e Garoupa acima de tudo o resto, escolha da qual não me arrependi. Bagos de arroz no ponto de cozedura perfeito, bem recheado de maravilhosos produtos marítimos e com uma multidimensionalidade de sabores soberba dada pelos pimentos e tomate.



Menos fantástico, e talvez o prato menos surpreendente da noite, o Entrecôte Grelhado causou boa impressão mas estava longe do nível dos restantes pratos. Apesar de fantástica caramelização exterior dada pelo Josper, o ponto da carne estava um pouco acima do pedido. E, quando comparado com exemplares já experimentados noutros locais, achei o preço um pouco acima do merecido.



Toda a refeição esteve num nível muito bom, mas nada me preparava para o que a iria terminar! Trazem à mesa um tabuleiro com várias sobremesas, apresentando-as e deixando-nos escolher. Quando disse que não ia com nenhum prato referenciado, não menti. O que tinha referenciado era uma sobremesa, mais concretamente o premiado Pudim Abade de Priscos de Miguel Oliveira! E que sobremesa, meus caros leitores... A perfeição da primeira à última colher, num pudim brilhante, de textura sedosa e extremamente guloso. Não sou um louco por doces, especialmente este tipo de sobremesas que, tipicamente, são demasiado doces mas não sei o que este pudim tinha que mal o acabei ficou a apetecer-me outro. E não fui só eu. Mais duas pessoas na mesa tinham pedido o pudim e estávamos todos com vontade de comer mais, e mais, e mais! Vénias ao Rei (forma carinhosa como Miguel Oliveira trata o seu pudim)!



Excelente refeição! Mesmo muito boa, e até acima das minhas expectativas! Tinha algum receio que o JNcQUOI não fosse mais que um restaurante da moda, onde tudo é muito trabalho mas onde faltasse sabor à comida. Saio do restaurante a pensar que o melhor que tem... é a comida!

JNcQUOI
Lisboa, Portugal
JNcQUOI Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 70 €
Data da Visita: 9 de Fevereiro 2018

domingo, 29 de janeiro de 2017

Claro (Paço de Arcos) - Encerrado

Não é fácil ter os timings certos para a partilha de alguns artigos. Mas sinto o dever de partilhar as experiências que tenho, mais antigas ou mais recentes, melhores ou piores, para que fique na memória de uma pessoa que seja, um nome, uma imagem, um prato... um interesse que seja para futura (ou passada) referência. 
E há um nome que quero que todos retenham neste post, Vítor Claro. Foi ele o chef à frente do restaurante homónimo, no hotel Solar Palmeiras, em Paço de Arcos, terra que me viu nascer e crescer. E demorei tempo demais a conhecer a sua fantástica cozinha, algo que me pesa ainda mais agora que fechou e não sei quando a poderei voltar a experimentar. O Vítor decidiu dedicar-se a tempo inteiro à produção do seu próprio vinho, encerrando assim um dos restaurantes que mais cartas deu nos últimos anos, havendo mesmo quem dissesse que poderia estar próximo de ganhar a sua 1ª estrela Michelin. Esperemos que a sua ausência das cozinhas seja breve.
Antes de começar a falar sobre a fantástica refeição de 3 horas que fiz no Claro, no passado mês de Setembro, um agradecimento para o serviço exemplar do seu sommelier Thomas Domingues, que nos acompanhou durante toda a viagem.
Antes de ir ao Claro, li tudo o que havia para ler em blogues e sites sobre o chef, sobre os menus que apresentava, sobre o seu tipo de cozinha e criei as minhas próprias expectativas sobre o que esperar. Penso que nos devemos tentar informar o melhor possível sobre os sítios, principalmente quando vamos a um restaurante de autor. Perceber se o restaurante será o mais correcto para nós, se o tipo de técnicas usadas se enquadra nos nossos gostos. Pessoalmente não tenho muitos problemas com isso, pois sou um curioso natural, mas acabei por aprender que Vitor Claro apresentava pratos "simples" com os elementos bastante bem trabalhados, principalmente no que a caldos se diz respeito. E foram nesses pormenores que fui tentando ter mais atenção e também que me levaram a ter bastante curiosidade pela sua cozinha.
Começámos com um Couvert bastante simples, com pão, focaccia e manteiga, tudo feito na casa e de um bom nível mas sem a variedade que poderia estar à espera deste tipo de restaurante.


Fizemos o wine pairing, sugerido pelo Thomas, ainda que numa versão mais reduzida pois não queríamos sair completamente ébrios do restaurante, deixando as memórias bem vivas. Como tal, começámos com um fantástico espumante Quinta das Bageiras (Bruto Natural, 2014), feito sem qualquer adição de açúcar mas de uma doçura considerável, que acompanhou os primeiros dois pratos.


O primeiro prato era, até à data, talvez o mais icónico do Claro, com a sua interpretação do Bacalhau à Conde da Guarda, um prato com um impacto visual muito grande mas onde é promovida a simplicidade de ingredientes e os seus contrastes. Quente da quenelle de bacalhau com o frio do tomate, salgado contra acidez, cremosidade contra granularidade. Seria perfeito, não houvesse uma espinha no meu prato, algo que acho pouco admissível neste tipo de restaurante, mas o ar de "pânico" do empregado que recolheu o prato retratou bem o quão improvável e anormal é isto acontecer.


Bastante bom também o Filete de Carapau Alimado, mas gosto deste tipo de pratos mais avinagrados do que o que nos foi apresentado. Talvez o prato menos surpreendente e inovador de toda a visita, mas, ainda assim, um bom prato.


Para os seguintes pratos o Fossil (Branco, 2014) do Vale da Capucha.


A seguir, uma homenagem a um dos chefs com quem trabalhou, Santi Santamaria, na forma de um Raviolo de Gambas e Cogumelos, onde a gamba é trabalhada de forma exemplar a fazer o invólucro que protegem uns óptimos cogumelos salteados. Mais uma vez, simplicidade e uma brilhante execução, tal e qual o que esperaria de Vitor Claro.


Chegou a hora do momento menos conseguido da refeição, com um prato que não nos encheu as medidas e que não conseguiu fazer sentido para nós, a Terrina de Foie Gras de Pato e Alperce Seco Cozido com Especiarias. O alperce não conseguiu cortar na perfeição a riqueza do foie, principalmente por este se apresentar cru, e o sabor a funcho era demasiado pronunciado sobre todo o conjunto.


Continuámos com um Nieeport Dão (Branco, 2015).


Depois de um momento menos bom, mais um momento que nos fez soltar aqueles gemidos pecaminosos de satisfação com um perfeito Choco Grelhado com Molho Romesco. E quando digo perfeito, é mesmo perfeito! Um choco comprado na praça local, levemente passado na brasa mas o suficiente para trazer um pouco do sabor a grelhado para o choco e com uma textura perfeita. 


A Essência de Lavagante mostra a versatilidade deste chef nos seus caldos, com o lavagante perfeito na sua textura, a nadar num caldo trabalhado com caramelo. Mais um prato perfeito e de se sorver todas as gotas que existam na taça.


Thomas decidiu então passar para o tinto, abrindo as hostilidades com o vinho produzido por si próprio, em conjunto com Vitor Claro, o Foxtrot Dominó (Tinto, 2014), surpreendendo bastante a sua escolha porque o primeiro prato que iria acompanhar seria um prato de peixe. E que bem ligou...


...com o Filete de Linguado à Delícia, um prato inspirado no que se servia nalguns restaurantes de cozinha francesa da Linha de Cascais no século XX, que junta um delicadíssimo filete de linguado à doçura da banana caramelizada e à acidez dos cornichons.


O Foxtrot Dominó acompanhou ainda aquele que foi o prato da noite, e um dos Melhores que experimentei em 2016, o Caldo de Bivalves, Coentros e Presa de Porco. Se havia pratos que até agora tinham estado perfeitos, este alcançou todo um novo nível que até agora eu desconhecia, muito graças aos filetes de sardinha "surpresa" e que me espancaram o palato com a imensidão de sabor que continham. Sim, é estranha e arriscada esta combinação de sardinha e porco com um caldo de bivalves à mistura mas é inexplicavelmente bom.


Mudou-se o vinho para um Moinho do Gato (Tinto, 2014) da Quinta do Romeu.


E chegámos ao expoente máximo dos caldos que aqui eram feitos, com o Rosbife Laminado e Molho do Assado, onde a quantidade de umami que invade a boca através do molho é, atrevo-me a dizer, demais. A carne perfeita e algumas folhas de manjericão e hortelã para dar frescura ao conjunto tornaram este momento em mais um prato fantástico.


Ao longo da refeição notou-se um padrão nas influências que actuavam na cozinha, fosse pelas anteriores experiências laborais de Vítor Claro, fosse pelas convivências gastronómicas que tem, como é o caso do Leite Creme Bonsai, uma receita do restaurante Bonsai, do tempo de Mio e Ricardo Komori.


Para terminar uma longa e fantástica refeição, e numa altura em que o nosso estômago já não tinha espaço para muito mais, um Moscatel de 2014 da Casa Agrícola Horácio Simões (sobre a qual já falei aqui).


Que acompanhou a última sobremesa, na forma de uma Ameixa de Elvas e Massapão. Uma nota de boca já demasiado doce para o meu palato mas as texturas e os sabores tão tipicamente portugueses estavam lá perfeitamente representados.


O estereótipo que existe em volta da alta cozinha e (vou usar um termo que não gosto muito de usar) "gourmet" faz algumas pessoas pensar em pratos demasiado elaborados para as "caganitas" apresentas, sem sentido e sem sabores aprumados, sendo cobrados de forma excessiva. 
Vitor Claro prova a todas essas pessoas o contrário. Base de sabores bastante portuguesa, com os ingredientes certos a destacarem-se em cada prato e com uma procura pela perfeição dos sabores em cada prato. E esteve quase sempre perfeito! O que torna justificável e justo o preço cobrado por uma experiência como esta.
Um restaurante e um chef que deixarão saudades... Daí a necessidade que senti em escrever este texto mesmo com o restaurante já encerrado (e também pelo estímulo provocado por uma acção semelhante no blog Ovo Cru).

Claro
Paço de Arcos, Portugal
Restaurante Claro Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 60 €
Data da Visita: 7 de Setembro 2016

segunda-feira, 23 de março de 2015

O Nobre / Spazio Buondi (Campo Pequeno)

O Nobre é, sem dúvida alguma, um dos restaurantes mais famosos na cidade de Lisboa. Não só por ser chefiado pela chef Justa Nobre, uma verdadeira estrela no pequeno mundo dos celebrity chefs portugueses, ou pelo famoso buffet de Cozido à Portuguesa que é servido aos almoços de domingo (apenas no Inverno, se não me engano), mas por ser um dos bastonários da comida tradicional portuguesa, com especial influência transmontana.
Já tinha tido a oportunidade de experimentar o buffet há uns anos e lembro-me de ter ficado bastante satisfeito com a qualidade da refeição em si, mas sempre tive curiosidade em voltar. Essa oportunidade surgiu quando ganhei um passatempo Zomato, num dos muitos blogs que sigo. O convite era para experimentar o Menu da Chef, que acredito ser equivalente ao Menu de Degustação que existe na carta do restaurante.
No início da refeição perguntaram-nos se desejaríamos ver a carta ou nos iríamos deixar levar pelas sugestões da casa. Claro que optámos pela segunda opção, e prontamente nos foi perguntado se tínhamos algumas restrições alimentares, pergunta essencial neste tipo de menu. Todo o serviço foi bastante prestável e simpático, sem ser intrometido, e colocando-nos sempre à vontade.
Começámos a refeição com um fantástico Presunto Pata Negra Joselito. Boa cura, bem cortado e com um bom nível de gordura presente nas fatias. Não há dúvidas que comer presunto de qualidade é um dos grandes prazeres da vida...


O presunto não esteve presente apenas em fatia, com umas Tostas com Manteiga de Presunto e Ervas a chegarem à mesa bastante estaladiças e gulosas. Apreciei a ausência de vergonha na altura de colocar a manteiga na tosta. Uma tosta quer-se bem barrada e com a manteiga derretida a cair pelas extremidades.


Petiscámos ainda uma Salada de Favas com Chouriço, uma versão refrescante do prato favorito de José Cid. De destacar o excelente chouriço, assim como a qualidade das favas usadas. Frescas, bem cozinhadas e com um tempero exemplar. Tudo conjugado resultou num prato simples e bastante saboroso.


Não é só a qualidade dos produtos que é notável, mas também a execução dos pratos em si, algo que foi notório quando alguém que não gosta de iscas (a minha excelsa cara-metade, que cada vez mais abre os seus horizontes gastronómicos) decidiu experimentar e repetir umas surpreendentes Iscas de vitela. Cortadas de forma muito fina, perdem toda a sua textura farinhenta, sendo depois temperadas com azeite, vinagre, alho e salsa.


Eis que chega um dos pratos icónicos do restaurante, a Sopa de Santola. Servida na própria carapaça, é um creme de marisco de sabores claros, simples e com uma cremosidade exemplar. Aliás, os elementos cremosos estiveram, ao longo de toda a refeição, sempre perfeitos na sua consistência, uma amostra da perfeição técnica da cozinha de Justa Nobre. Esta sopa aqueceu-nos a boca e o espírito. Agora consigo perceber o porquê da fama desta sopa, e apenas posso afirmar que é totalmente justificada.


O prato do mar, a Empada de Lavagante, continuou a revelar alguns pormenores de execução brilhantes. Massa bem cozinhada e estaladiça, recheio cremoso e com a proteína a revelar-se cozinhada na perfeição. Uma empada fantástica (a lembrar mais uma empanada) em toda a sua complexão. Acompanhou com legumes (courgette, cenoura, nabo, beterraba e couve-flor) simplesmente cozidos, parecendo depois terem sido borrifados com azeite. Visualmente, apresentavam um brilho que se traduziu também em sabores brilhantes. Nunca na minha vida comi legumes cozidos que fossem tão gulosos!


Até aqui tudo tinha deslumbrado e não foi diferente com o prato de carne, umas Bochechas de Porco Bísaro com Puré de Castanhas. Um puré uniforme, sem vestígio de granularidade e exímio tanto no sabor como na execução. As bochechas, cozinhadas até ao ponto em que as podemos comer com uma colher, estavam perfeitas também no nível de tempero. Um prato muito consistente e que é representativo das influências transmontanas na cozinha de Justa Nobre.


Já a rebentar pelas costuras e desejando apenas uma sobremesa pequena, chega-nos à mesa um Pijama! Ainda que em doses moderadas, as quatro sobremesas juntas ultrapassavam a nossa quota disponível, mas lá se fez o esforço e acabou por não sobrar nada. Tarte de Castanhas bem executada mas a desiludir um pouco no sabor, quando comparado com o puré de castanhas do prato anterior. Cheesecake muito amanteigado e a precisar de alguma acidez para contrabalançar o creme, mesmo considerando as raspas de laranja e lima presentes. Pudim Abade de Priscos e Sopa Dourada muito bons mas tendo um nível de açúcar (próprio destes doces) que o meu corpo tem dificuldade em ingerir em grandes quantidades. Apesar de boas, as sobremesas não estiveram ao mesmo nível dos restantes pratos.


Com o café uns caseiros Mini Pastéis de Nata. Mais uma vez, parece que nada falha na execução técnica dos pratos, com um recheio cremoso e saboroso a preencher um invólucro perfeitamente cozinhado e crocante.


A consistência apresentada em todos os pratos não é fácil de alcançar. O Nobre prima não só pela execução como pela qualidade dos produtos que confecciona, e assim se percebe o sucesso (justificado) que o restaurante tem ganho nos últimos anos. Pode não ser um restaurante barato, mas vale uma visita para podermos apreciar e testemunhar a qualidade da comida.

Zomato
Foodspotting
O Nobre / Spazio Buondi
Avenida Sacadura Cabral, 53B
Lisboa, Portugal
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Preço Médio: < 50 €