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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

O Victor (Póvoa do Lanhoso) @ Mesas Bohemias

Acho que já expliquei o conceito do Mesas Bohemias (aqui) vezes suficientes para quem me segue há algum tempo já conhecer e perceber o conceito. Para quem não conhece, farei um breve resumo. O Mesas Bohemias tem o intuito de trazer o melhor da gastronomia portuguesa a Lisboa e ao Porto, trazendo restaurantes e respectivos produtos com o intuito de dar aos comensais uma experiência o mais fiél possível à original. Parece interessante? 
Desta vez, foi O Victor, um restaurante perto da Póvoa do Lanhoso, onde diz que se serve o melhor bacalhau de Portugal! Não estou a brincar, dizem mesmo! Ou seja, expectativa máxima para esta refeição, ainda que saiba o quão memoráveis costumam ser os jantares do Mesas.
E não podia ter começado melhor, deixem que vos diga. Uns Bolinhos de Bacalhau perfeitos! Maravilhosos! Soberbos! E todos os restantes adjectivos que se possam lembrar para descrever um bolinho de bacalhau perfeito. Fritura fantástica, recheio impecável com o bacalhau a fazer-se notar (ao contrário de muitos exemplares onde a batata é rainha) e acompanhada por uma refrescante e gulosa salada de feijão frade.


O prato menos conseguido foi, para mim, os Rojões à Moda do Minho, com toda a sua tradicionalidade e regionalidade. Ou seja, tripas enfarinhadas, sangue cozido e um enchido do qual não me recordo o nome (talvez bolacho)! Demasiados componentes proteícos no prato sem nada que os ligasse ou que fosse cortando a sua intensidade. Bastaria um acompanhamento para ajudar o prato.


O Bacalhau à Victor é, merecidamente, a estrela da casa. Antes do prato ser servido, o Senhor Victor vem às mesas mostrar as gigantes postas de bacalhau que seriam cozinhadas na brasa para os comensais presentes. Por falar no Senhor Victor, que amor de pessoa, tal como a sua mulher! Sempre disposto a mais uma amável palavra na conversa, a explicar como surgiu o restaurante, o prato, a tradição ou simplesmente um agradecimento pessoal a cada um dos presentes.
Por ser um evento com vários pratos, o bacalhau chega à mesa já desfiado (mas se quiserem ver fotos das postas monstruosas encontram-nas facilmente no TripAdvisor) numa lasca perfeita, com aquele ligeiro salgado extra tão característico, acompanhado por umas batatas à murro, que poderiam estar um pouco mais cozinhadas, umas rodelas de cebola encruadas e bom azeite.


Outro momento icónico n'O Victor é o Leite Creme (e cuja foto é com o meu telemóvel antigo e, portanto, completamente vergonhosa e a não fazer jus à sobremesa), queimado na hora com um ferro aquecido nas brasas! Excelente crosta caramelizada, a estilhaçar com aquele som que facilmente nos faz salivar, para revelar um creme suave e adocicado, mas não demasiado.


Dizem as boas bocas que estamos perante o melhor bacalhau de Portugal, e é bem possível que assim seja. O prémio de casal mais simpático da hotelaria portuguesa ganharam fácil e isso chegou para me fazer querer visitar o seu restaurante na localização original.

O Victor
Póvoa do Lanhoso, Portugal
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 24 de Março 2018

quarta-feira, 28 de junho de 2017

O Abel (Gimonde) @ Mesas Bohémias

Este projecto das Mesas Bohémias, com patrocínio Sagres e que nasceu da cabeça de Rodrigo Meneses (curador da Academia Time Out, da qual já falei aqui), é das propostas gastronómicas mais interessantes que podemos actualmente encontrar. A habilidade de, por alguns dias, transladar uma região para uma das duas maiores cidades portuguesas é de louvar! E sim, disse transladar uma região. Porque aqui a questão não é só trazer alguns restaurantes longínquos a Lisboa ou Porto. Aqui, o conceito é trazer também os produtos, desde as proteínas, às especiarias e passando, inclusive, pelo carvão onde os produtos são confeccionados! Como bom apaixonado pela cozinha portuguesa, esta procura de autenticidade é algo muito própria do Rodrigo, querendo dar às pessoas a possibilidade de desfrutar e experimentar novas sensações que muitas, de outra forma, não teriam hipótese de vivenciar e sempre com o maior nível de autenticidade possível. 



A logística envolvente deve ser um verdadeiro pesadelo, com toda a questão do transporte (mantendo a frescura e qualidade) dos produtos, das equipas e também do espaço que irá acolher este restaurante durante os dias em que o evento durar. É o exemplo gastronómico do provérbio "Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha". A toda a equipa que está envolvida no projecto, os meus mais sinceros parabéns! Fiquei fã e, se fosse possível, reservava já um bilhete de época para todo o ano!
A 1ª edição viu Lisboa, especificamente o restaurante D. Afonso o Gordo, receber a Casa Inês, restaurante icónico da cidade do Porto e casa-filha do também nacionalmente reconhecido Casa Aleixo (sobre o qual falei brevemente aqui). Já o Porto recebeu, no BH Foz, o algarvio Noélia, facilmente proclamado como um dos melhores restaurantes de todo o Algarve.
Nesta 2ª jornada, Lisboa teve o prazer de receber O Abel, um dos melhores e mais conhecidos restaurantes transmontanos, no restaurante Cantina LX (do qual já falei aqui) e o evento esgotou em poucos dias! O nome do evento também não é ao acaso, pois a ideia é também a de juntar um grupo de desconhecidos à volta da mesa, partilhando boa comida. Algo bastante português, como não poderia deixar de ser! E, para perceberem o quão famoso é O Abel, estive sentado com algumas pessoas que costumam ir ao Abel e, mesmo assim, não deixaram passar a oportunidade de comer a sua comida na capital!
Às Mesas Bohémias vamos já com um menu de degustação pré-definido, quiçá o melhor menu de degustação do país por tão baixo valor, e onde podemos experimentar o melhor que o restaurante tem para oferecer. As expectativas eram altas mas ainda assim consegui sair de lá surpreendido, não só pela comida, como pela experiência e ambiente sentido durante toda a refeição. Presenciar o momento em que 100 pessoas gritam, qual grupo de estudantes universitário eufóricos, "chicha" é bastante único.



O Pão de Gimonde abriu a refeição, excelentemente acompanhado por um bom Azeite Transmontano. Pão esse que é ainda amassado à mão antes de ir a cozer num forno a lenha, numa padaria de Gimonde, como nos explicou uma das pessoas da organização.



Com a mesa já completa, pois para facilitar o trabalho e organização da cozinha as mesas são servidas de forma sequencial, começam a chegar as entradas. Excelente Alheira transmontana, feita especialmente para esta refeição, e uma fantástica Chouriça Assada, ambas com notas ligeiramente picantes com o intuito de ligar à amargura encontrada na nova Bohémia IPA.




Fiquei fã do Cordeiro Grelhado! Não foi só o facto de cada peça ter sido temperada (com o molho da posta) à mão pelo Óscar, responsável pela cozinha d'O Abel, mas a forma delicada como estava grelhada, com a gordura extremamente saborosa e a deliciosa e macia carne a encantar o palato. Excelentes também as batatas assadas, que também vieram de Trás-os-Montes, com o sabor adocicado característico das batatas novas e temperadas com cebola crua para lhe dar mais vida. Sabores bastante fortes e que foram combinados com a Bohémia Puro Malte, uma cerveja mais leve e menos intensa, que deixou a comida brilhar.




O prato estrela d'O Abel, a Posta à Abel, não podia faltar. Estamos a falar da, provavelmente, posta transmontana mais conhecida de todo o país! As expectativas que a minha mente criou foram enormes mas valeu cada dentada neste belo naco de carne. Aqui, a posta foi servida em versão meia dose, e ainda bem pois o exemplar completo seria claramente comida a mais para o estômago da maior parte dos comensais. Excelentes também as batatas fritas, extremamente viciantes e a surpreenderem de tão boas. Este prato foi acompanhado pela Bohémia Original. 




Para terminar a refeição, um Pudim de Castanhas muito bom, perfeitamente cozinhado e onde o único problema foi a utilização de um caramelo industrial. 



Nem tudo foi perfeito, como é natural num restaurante e numa equipa que está a trabalhar num espaço que não o seu. Por exemplo, nem todas as postas estavam com a mesma temperatura e o pudim da minha companheira de aventuras não tinha o sabor das castanhas que o meu tinha, levando a várias comparações entre os pratos apenas para chegar à conclusão que o dela sabia apenas a... pudim.
Mas todos estes pormenores são facilmente desculpados. A logística de alimentar 100 pessoas desta forma não é fácil, acabando por naturalmente afectar um pouco da qualidade, mas não o suficiente para que as pessoas saiam do Mesas Bohémias desiludidas, como se podia ver pelos rasgados sorrisos das pessoas enquanto saíam.
O conceito é muito bom, e a execução não lhe fica atrás, trazendo um nível de autenticidade que não é comum encontrar-se. A oportunidade de conhecer restaurantes que se encontram a muitos quilómetros de distância é quase impagável. E o preço que pagamos nas Mesas Bohémias é uma ninharia para o que retiramos da experiência.

O Abel
Gimonde, Portugal
Preço Médio: < 20 € (Mesas Bohémias: 30€)
Data da Visita: 27 de Maio 2017