segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Fenícios Castilho (Lisboa)

Desde que comecei estes meus devaneios por gastronomia, com especial destaque para restaurantes, uma das áreas pela qual a minha curiosidade tem recaído é a cozinha oriunda de diferentes países. Por vezes precisamos de sair da segurança da nossa cozinha e aventurar-nos em sabores que não conhecemos. Sair da casca ou, usando a expressão do foodie Rodrigo Meneses (o curador da nova Academia Time Out), "sair da despensa".
Graças a um convite da Zomato, pude experimentar um dos poucos restaurantes libaneses da cidade, o Fenícios Castilho, dos mesmos donos de outro libanês, o Fenícios. A entrada do prédio pode passar um pouco despercebida, mas o restaurante está localizado no Piso 7 do edifício (o que dá uma vista fantástica sobre a cidade de Lisboa), onde está a União de Associações do Comércio e Serviços, caso andem a passear pela Rua Castilho. Um pormenor (muito!!) importante, o restaurante apenas funciona ao jantar, sendo que para o serviço de almoço é um restaurante de conceito português chamado Varanda da União.
O serviço do restaurante é simpático, com especial destaque para o chefe de sala que nos deixou à vontade e se mostrou sempre prestável e informado sobre a ementa praticada. As restantes empregadas não pareciam estar tão à vontade, mesmo apesar da simpatia que demonstravam, mas num restaurante libanês é necessário um serviço informado.


Não fiz um grande trabalho de pesquisa anterior à visita, pois queria ir desafiar o desconhecido, sem expectativas. A única coisa que sabia, de há uns meses quando adicionei o restaurante à wishlist, era que a Mezza Fenícia corresponderia a várias entradas típicas para se provar, não sendo necessário muito mais (1 prato ou mais 1 ou 2 entradas) para que duas pessoas ficassem satisfeitas. Aliás, da forma como a ementa está construída, é possível fazer uma refeição só petiscando ou pedindo pratos mais substanciais, muitos deles com uma grande base vegetariana. Faltando bebidas libanesas, pois não é fácil manter produtos importados em stock, bebeu-se um recomendado tinto Quinta de Fafide Reserva 2013.



Começámos pela já mencionada Mezza Fenícia, que traz um conjunto de 8 taças, todas com uma entrada típica libanesa. Pediu-se ainda Kibbe, Foul Moudamas e Moussaka, para complementar a Mezza, optando por não pedir nenhum dos pratos principais. Acho que todos os nomes dos pratos estarão correctos, mas peço desculpas antecipadas caso algo me tenha falhado.
Labneh, uma variante de iogurte grego que pode ser feito à base de leite de vaca ou de cabra, é um creme fresco e de suave sabor.



Tabbouleh é uma salada bastante fresca e aromática, sendo interessante e muito boa. A conjugação dos sabores picados da salsa, cebola, tomate e azeite levam-nos para as saladas algarvias, o que me parece possível devido às influências mediterrânicas comuns. Tem ainda trigo, hortelã e sumo de limão, tornando esta salada bastante adequada para o Verão.



Um prato comum, e alvo também de várias interpretações mediterrânicas, consiste em folhas de videira recheadas, o que no Líbano tem o nome de Warak Enab. Neste caso, a folha é recheada com arroz, tomate e salsa, sendo depois cozinhada e acabando por infundir o arroz com as suas secreções. Mais uma proposta interessante e saborosa.



Bastante saborosas estavam as Batatas Harra. São anunciadas como picantes mas não consegui encontrar qualquer referência palatal ao mesmo, sendo todo o sabor dado pelo salteado com alho.



Um Hoummos muito bom, de excelente consistência e bom sabor. Para usar e abusar com o pão libanês achatado (tipo pão pita) que trazem para a mesa.



O prato que menos apreciei em toda a Mezze foi o Lahm bi Ajin, uma pequena tarte recheada com carne, apesar de ser descrito como uma pizza libanesa. A massa do pão estava mal cozida e parecia quase reaquecida, acabando por ficar um pouco borrachosa, e o recheio estava seco.



O Moutabal, mais conhecido como Baba Ghanoush, é um puré de beringelas grelhadas com pasta de sésamo, alho e limão. Fantástico o sabor a fumado que as beringelas transmitem a todo o puré.



O Falafel, por vezes injustamente colocado na mesma categoria das "Pitas Shoarma" de Centros Comerciais, foi uma das estrelas da noite. Exterior perfeito de crocante e fritura, com um interior diferente da típica pasta de grão a que estamos habituados. Muito saboroso e a aproximar-se mais da ideia que eu teria da intensidade das especiarias usadas, pois quase toda a refeição pareceu ser demasiado suave neste ponto.



À semelhança do falafel, o Kibbe, um pastel recheado com carne picada, também estava bastante bem frito e com um perfil de sabores interessante, com o interior a não se apresentar excessivamente seco. Mais um prato que me aproximou dos sabores imagináveis do Médio Oriente.


Para quem é um fã de leguminosas, o Foul Madamas cumpre e satisfaz. Uma fresca salada de grão-de-bico e favas cozidas, faltando-lhe apenas uma maior profundidade de sabores.


A Moussaka, uma versão bastante diferente da homónima grega, a ter um perfil de sabores que me relembrou do típico prato português bacalhau com grão, mas sem o bacalhau. Bom, mas pensei que iria encontrar sabores mais fortes.



Já com pouco espaço no estômago, o chefe de sala antecipou a nossa vontade de conhecer os doces libaneses e decidiu trazer 3 sobremesas para que nos fosse possível conhecer alguma das variedades disponíveis. Nas sobremesas foi um pouco mais complicado relembrar os nomes, mas com a ajuda de alguma pesquisa online penso que consegui desvendar as experimentadas.
O Meghli é uma espécie de pudim, feito com farinha de arroz e canela, algo desenxabido e sem qualquer vestígio de açúcar na sua constituição. Foi-nos previamente avisado que a sobremesa é mesmo assim, mantendo a receita libanesa, mas que nos deram a provar por ser uma sobremesa típica.



O Osmallieh é bastante interessante em toda a sua conjugação de sabores e texturas, mesmo que não se evidencie muito a aletria. O creme de leite utilizado para cobrir a sobremesa é fantástico e os frutos secos ajudam a conferir textura e algum adocicado extra.



Com um perfil de sabores parecido, a Mouhallabieh é um pudim com flor de laranjeira, onde estes últimos sobressaíam acima de tudo. Mesmo cheios, desta sobremesa não sobrou nada!



Para além do Kibbe e do Falafel, que mostravam uma bom uso de especiarias, os restantes pratos pareceram ficar um pouco aquém das expectativas neste aspecto, ainda que a sua confecção tenha sido sempre boa. Apenas estava à espera de algo mais arrojado mas, e apesar das influências mediterrânicas comuns que podem existir, a ementa pareceu ser sempre demasiado segura e mais próxima dos sabores a que estamos habituados. Quando isto foi dito ao chefe de sala, foi-nos confirmado que os pratos foram adaptados ao palato português com o intento de assim conseguir agradar e cativar mais clientes. Sinceramente, acho que deveriam ser fiéis às suas origens e manter a tradição dos seus pratos, dando a conhecer a verdadeira cozinha libanesa, e não uma versão ocidentalizada. 
Tirando a expectativa de sabores que levava, tudo o resto foi realmente digno de uma refeição bastante boa. Boa vista, boa comida, bom serviço e tudo isto a preços justos.

Fenícios Castilho
Lisboa, Portugal
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Preço Médio: < 20 €

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

SOCIEDADE (Parede)

Uma das melhores refeições do ano de 2015, num restaurante que me vinha aguçando a curiosidade desde a sua abertura, em Novembro de 2014. A SOCIEDADE (assim mesmo com o nome totalmente capitalizado) é um renovado restaurante na SMUP (Sociedade Musical União Paredense), que promete sabores portugueses com um twist. Adoro reinvenções de pratos e sabores clássicos, portanto fiquei automaticamente curioso com o conceito.
Mas já muitos conceitos me fizeram perder de amores apenas para depois me deixarem de coração partido com altas expectativas. A entrada no restaurante é feita com sorrisos, gestos e palavras simpáticas. Algo que se estende ao longo do tempo como se de clientes habituais nos tratássemos. E foi assim que nos sentimos durante todo o jantar, com o serviço a fazer-me apaixonar-me pela casa e pelo espaço. Ah, já vos falei da ementa? Babei-me, sobre a folha que nos foi entregue, durante todo o longo e penoso processo de selecção. Por mim, vinha tudo! Caso se sintam neste labirinto amoroso, entreguem-se ao serviço e deixem-se levar pelo que vos poderá ser proposto.



Com o couvert, um pão cortado com uma grossura milimétrica e dois tipos de manteiga (cabra e ovelha), é colocado na mesa um Queijo Fresco e Azeite impecável e um prato de Enchidos de Porco Preto e Não Só cortados tão finos que se conseguiam ver à transparência. A delicadeza de um excelente queijo fresco regado de um azeite também de bom nível abrem as hostilidades para uns enchidos que fazem as delícias do meu palato. Sempre ouvi dizer que um homem se conquistava pela barriga, e eu já não precisava de muito mais do que isto para ficar rendido. Mas a refeição ainda agora tinha começado...




A fome neste jantar não era muita (também não pode ser sempre a alarvar, não é?) por isso optámos por pedir 2 petiscos e 2 pratos para dividirmos por 3 adultos e 1 criança. Reparámos depois que as doses de petiscos são de tamanho generoso, daí o preço geral dos petiscos (rondam os 8€, se não me engano) ser mais alto do que estamos habituados. Claro que a qualidade deste SOCIEDADE também é mais alta do que estamos habituados.
Começámos por um Escabeche de Pato muito bom, com uma quantidade invejável da dita ave, e sem qualquer excesso de gordura. A cebola acrescenta-lhe pormenores adocicados, parecendo-me ainda reparar numa ligeira nota cítrica na preparação do prato. Talvez um pouco mais de acidez pudesse ajudar o prato a brilhar ainda mais mas nada de grave.



O segundo petisco escolhido foram uns fantásticos e gulosos Cogumelos, Pancetta e Queijo Emmental, um twist genial nos típicos cogumelos salteados com a adição do emmental a funcionar na perfeição neste típico petisco. Apenas a quantidade de pancetta era algo escassa, acabando por se esconder atrás do sabor dos cogumelos e do queijo. Apesar de o prato ser excelente com os cogumelos paris (Agaricus Bisporus), cada vez sou mais adepto da utilização de cogumelos diferentes e acredito que ajudaria a dar mais "encanto" a este prato. Transforma o sabor dos pratos, confere diferentes texturas, etc.



Muito acima da média estava também o Leitão, Batata-Doce e Abacaxi. Um belo "naco" deste jovem suíno, com a carne muito macia e a desfazer-se na boca, mas a pele poderia estar mais tostada e mais estaladiça. A combinação original do abacaxi com o leitão funciona e surpreende-nos o palato. Acompanha com umas boas chips de batata-doce. Por esta altura já andava a suspirar alto e a pensar que teria que vir a este restaurante mais vezes, mas a refeição ainda nem tinha acabado.



Faltava ainda o prato da noite. Aquele pelo qual me rendi, me ajoelhei, me lambi e que fiquei a desejar mais, as Bochechas de Porco Preto, Pão e Tomate (adoro estes nomes com só 2 ou 3 ingredientes e que nos deixam curiosos com o que será). Estas foram, sem dúvidas ou segundos pensamentos, das melhores bochechas que já comi! Desfiavam-se imediatamente ainda nós estávamos a tentar dividi-las pelos pratos. O seu sabor enchia-nos a boca, mostrando-se relutante a abandonar-nos o palato e a mente. Umas óptimas migas de tomate ajudavam a tornar este prato mais rústico do que sofisticado. O único elemento que dispensava no prato era uma espécie de ratatouille que, apesar de perceber a sua ideia, não me pareceu minimamente necessário para dar vida a um prato que está perto da imortalidade.



Para terminar uma refeição fantástica, e para saber se as sobremesas estariam ao nível de tudo o resto, pedi uma Panna Cotta com Abóbora. Excepcional a execução da panna cotta, extremamente cremosa e a colmatar a sua normal neutralidade com um doce de abóbora fora do comum. Encheu-me o coração de memórias do doce de abóbora que a minha avó há muito não faz.



Um jantar fantástico, cheio de sabores portugueses mas ainda assim com apontamentos originais e que me deixa com borboletas no estômago para uma próxima visita. A paixão criada por toda a envolvência do restaurante, desde o seu serviço à qualidade da comida, deixa marcas. Marcas essas que espero reviver, numa data preferencialmente não muito longínqua.

SOCIEDADE
Rua Marquês de Pombal, 319
Parede, Portugal
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Preço Médio: < 30 €

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Curtas #2: La Vecchia Roma (Oeiras)

O propósito destes artigos mais "curtos" será sempre o de mostrar as refeições que tenho feito em restaurantes sobre os quais já falei e sobre os quais a opinião não mudou de forma relevante. Tentarei que sejam sempre pequenos textos que visam reforçar uma opinião anterior.
O menu do La Vecchia Roma tem algumas inconsistências no que se refere à definição de mozzarella. A Mozzarella é um queijo feito a partir de leite de búfala. A variante feita com leite de vaca chama-se Fior di Latte! Por isso, ter na ementa 2 tipos de queijo, sendo um deles "mozzarella" e o outro "queijo búfala" não faz muito sentido.
Outra coisa, não existe "scarmoza". Existe Scamorza! É um queijo parecido com a mozzarella, mas feito quase sempre com leite de vaca, e que passa por um processo de cura. E ter um prato com um nome que inclui "scarmoza" mas na descrição o único queijo referido é ricotta parece-me incongruente. Mas enfim...
A salada Caprese é sempre refrescante e os ingredientes são de qualidade satisfatória mas preferia a utilização de manjericão no lugar da rúcula.



As pizzas são consistentes na qualidade. A Boscaiola poderia ter um pouco mais de queijo mas os ingredientes são bons e fazem sentido juntos.



Perto de maravilhoso estava a Meraviglie di Funghi Porcini. Um prato com um bom nível de tempero, um molho saboroso e com muita (e boa) substância. A massa recheada tinha uma boa espessura e apresentava-se bem cozinhada.



Um italiano seguro seja nas pizzas ou nas massas. Continua por experimentar o Rodízio de Pizzas que acontece às 4ªs-feiras, a 11€ por pessoa e sem bebidas.

La Vecchia Roma
Rua Dr. José da Cunha, 27
Oeiras, Portugal
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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Taverna do Rogério (Rebelva)

Já por diversas vezes me tinham falado da Taverna do Rogério. Sempre mais especificando a variedade e qualidade dos seus pratos dedicados ao bacalhau, mas não descurando os bifes. Apesar da ementa incluir ainda uma secção dedicada à partilha, nunca ouvi falar muito da qualidade dos petiscos.
Por vezes, estes restaurantes são os ideais para uma refeição familiar. Sabemos que é sempre difícil agradar a gregos e troianos e, por isso, restaurantes com uma ementa vasta, tanto nas opções de carne como de peixe, e de cozinha portuguesa, traz-nos uma maior probabilidade de sucesso. Para que este seja confirmado, só falta realmente comprovar a qualidade da comida.



Reserva feita com antecedência e foi-nos guardada a mesa mais recatada do restaurante. Uma mesa de formato circular, situada num dos antigos fornos da padaria que existia adjacente ao restaurante. Ainda que esta atenção tenha sido bastante apreciada, a mesa não é prática no que se refere à logística e distribuição do espaço, acabando ainda por se tornar um espaço bastante quente. O serviço teve algumas inconsistências quanto à simpatia, pois parecia haver um ou outro empregado que teriam acordado com os pés fora da cama.
Começámos a refeição com uma Salada de Polvo e uns salgados simpáticos que cumpriram com o seu dever de abrir o apetite. Polvo tenro e saboroso e os salgados com boa fritura e sem excesso de gordura.



Estando mais curioso quantos aos pratos de bacalhau e aos bifes, acabei por recomendar também isso aos restantes comensais, podendo assim provar quase tudo o que veio para a mesa. As doses de bacalhau são generosas sendo perfeitamente viável 3 pessoas pedirem 2 doses.
O Bacalhau em Cama de Espinafres tem um rácio pequeno de espinafres face ao tamanho da dose, acabando por se parecer mais com um Bacalhau com Natas com uma pequena camada de espinafres por baixo.



Muito bom é o Bacalhau na Broa, dando um twist engraçado face à receita mais conhecida. O bacalhau estava perfeitamente desfiado e com uma quantidade equilibrada de espinafres e cebola, apresentando-se molhado o suficiente e sem deixar transparecer qualquer excesso de gordura. Escolheria esta versão à original sempre.



O Bife com Molho de 4 Queijos também era muito interessante e bem executado. Uma peça de boas dimensões tendo-se optado pela vazia, já que é um corte mais saboroso que o lombo, perdendo apenas na delicadeza da resistência que oferece aos nossos dentes. Veio fora do ponto pedido, chegando à mesa médio invés de médio-mal, mas ainda assim a qualidade da carne não deixou que isso estragasse o prato. O molho de 4 queijos era bastante guloso com toda a sua pujança e cremosidade. Se não gostam de sabores mais intensos não o aconselharia mas, para mim, estava bastante bom.



Onde a Taverna do Rogério resvalou entre o bom e o médio foi no campo das sobremesas. Uma Delícia de Chocolate excessivamente doce, apesar do bom apontamento da bolacha caramelizada no topo, adicionando um nível de textura.



Já o Cheesecake de Caramelo estava melhor balanceado, onde um excelente creme de queijo era bem complementado (e não ofuscado) pelo caramelo. Apenas a bolacha poderia estar melhor representada num conjunto já de sim bastante bom.



A restauração não se faz só de restaurantes com conceitos cuidados (só para evitar o uso excessivo e descontrolado da palavra gourmet) mas também com conceitos como a Taverna do Rogério. Um restaurante seguro, com uma ementa que irá agradar a quase todos, sem grandes aventuras gastronómicas e com bastante qualidade na comida que apresenta.

Taverna do Rogério
Rebelva, Portugal
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Preço Médio: < 30 €

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Cozinha 16 (Paço de Arcos)

Gosto de conceitos diferentes. Gosto de restaurantes que não têm problemas em afirmar aos sete ventos que a comida do seu estabelecimento muda consoante a vontade do chefe ou os produtos disponíveis. Para mim, isto mostra uma abordagem de quem se sente muito à vontade entre os tachos e que facilmente desenrasca qualquer petisco com o que houver na dispensa. Na verdade, um pouco à semelhança do que fazemos em casa.
Este Cozinha 16, em Paço de Arcos, é um desses restaurantes, servindo um menu composto por 6 petiscos e 1 prato principal por 15€. Nota-se aqui a abordagem de partilha que acaba por encaixar na perfeição com o tipo de serviço que é prestado neste restaurante. Parece que vamos só ali petiscar qualquer coisa a casa de um amigo. Notei isto na primeira vez que entrei no restaurante e só lá ia para marcar mesa. Fui bem recebido e disseram-me que se quisesse até podia ir à cozinha cheirar o que se cozinhava. Durante a refeição, o serviço foi extremamente descontraído, o que é bom, mas acabamos também por notar que se vai tornando mais lento à medida que a casa vai enchendo.
Como disse anteriormente, todo o menu é surpresa, podendo até variar entre mesas. Apesar de na altura em que fiz a reserva me terem mencionado que seria perguntado por preferências e restrições alimentares, na altura de iniciar a refeição tal não foi questionado. Não tendo nenhuma restrição esta não foi uma preocupação para nós, mas acho que um maior cuidado do serviço neste aspecto seria necessário. Os petiscos chegaram à mesa em sequência, com bom timing, e não se sobrepondo uns aos outros. Como o serviço é bastante amistoso, quem preferir que venham vários petiscos para a mesa penso que poderá fazer esse pedido.
Começámos com um couvert composto por dois tipos de pão (torrado e não), simpáticos mas sem muita história, e Tomate bem temperado com azeite, vinagre balsâmico e oregãos. Como bom guloso que sou, praticamente todo o pão foi usado na deglutição ritual de encharcar o pão com o azeite e o vinagre balsâmico.



Pouco depois, chegaram à mesa uns Croquetes de Alheira acabados de fritar. Bastante estaladiços, bom tamanho, bom formato e acompanhados de mostarda mas pedia-se que o sabor da alheira fosse mais intenso.



Também nesta altura, uma Tábua de Queijo da Ilha e Linguiça foi depositada na mesa para gáudio de todos (ok, éramos só 2) espectadores. Ambos os produtos apresentados de forma simples, com meia dúzia de fatias de queijo regadas com um pouco de mel e oregãos, mas de forma a que não abafasse o sabor do queijo. A linguiça era fantástica e estava muito bem assada.



No final destes pratos, começou a sequência individual de petiscos com o pelotão a ser comandado por uns Ovos com Farinheira e Hortelã. Uma ligeira mudança num petisco clássico das mesas portuguesas, mas onde a diferença que fez foi enorme, pois traz toda uma nova frescura a um prato que até poderia ser pesado. Os ovos estavam irrepreensivelmente cozinhados, ainda algo líquidos, mas com uma boa proporção de ovo e farinheira. O queijo ralado por cima traz pouco ao conjunto por só se apresentar no prato e por cima. Talvez uma integração com os ovos e a farinheira pudesse fazer mais sentido.



Sou um confesso adorador de Pimentos de Padrón, especialmente daqueles que picam! Ainda que aprecie bastante o seu sabor, acho que o que realmente o realça é aquele picante tão único. A dificuldade de arranjar restaurantes com um bom rácio de picantes e não-picantes é grande e, qual não foi a minha surpresa, quando cerca de metade dos pimentos no Cozinha 16 eram picantes! Para além da qualidade dos pimentos em si, estavam bastante bem cozinhados e com uma boa dose de sal, sem ser excessiva.



Os petiscos apresentados eram todos bastante próximos daquilo a que estamos habituados, em restaurantes com esse conceito, mas quase sempre com um twist próprio. Neste caso, uns carnudos Cogumelos marron salteados com alho, manjericão e vinagre balsâmico. Um prato que resulta de uma simples combinação de sabores que não se vê muitas vezes em conjunto, mas onde o adocicado do balsâmico funciona em perfeita harmonia com a frescura do manjericão. Muito bom e, para mim, o prato da noite.



Mas, se até aqui todos os pratos estavam num nível bastante satisfatório, depois a refeição começou a entrar em níveis qualitativos mais baixos do que o esperado. O Polvo à Cacela Velha representava uma ideia bastante interessante mas onde a sua concretização não foi a melhor. O bacon e a linguiça conferiam um óptimo e característico sabor a um, infelizmente, rijo e borrachoso polvo. A batata e o grão absorviam o saboroso molho resultante mas a desilusão do polvo foi tal que não chegámos a terminar o prato. Uma boa ideia que merecia uma melhor preparação da sua proteína principal.



O prato principal, dividido por 2, foi um Bife frito com alho e foi, em todas as suas componentes, muito fraco. O bife estava cozinhado de uma forma não uniforme, muito devido à diferença de altura entre as pontas e o meio. Mas o corte de carne escolhido também não ajudou e a carne era dura e difícil de suportar para os dentes, principalmente depois do polvo. As batatas fritas não melhoravam em nada a experiência e eram bastante medíocres, assim como o arroz de especiarias que apresentava um excesso de (aquilo que julgo ter sido) cominhos.



Já não houve espaço para a sobremesa, pois a quantidade de comida apresentada é mais do que justa para o preço praticado. O problema foi o nível com que se terminou a refeição, e aí a proporção preço/qualidade parece ficar um pouco aquém. Pode ser que noutros dias estes erros não aconteçam e a refeição acabe por se tornar mais memorável.

Cozinha 16
Paço de Arcos, Portugal
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Preço Médio: < 20 €

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Rescaldo Tascas no Cais 2015 (Lisboa)

2ª Edição do evento Tascas no Cais, patrocinado pela Super Bock, um evento que junta alguns (poucos) restaurantes existentes na cidade, num recinto ao ar livre. Mais num conceito de partilha, os restaurantes têm vários pratos (com os preços a variar até aos 8€, mais ou menos) que poderão ser demonstrativos da cozinha que praticam na sua morada permanente. Nesta 2ª edição, pudemos contar com Taberna da Rua das Flores, Can The Can, Cantina LX e Tasca de Três, o único a não ter uma morada fixa, mas que junta o chef Nuno Diniz (da EHTL, Tágide e ex-York House), o chef Nuno Barros (1300 Taberna e ex-2780 Taberna) e o foodie Rodrigo Meneses (foodie.pt e Curador da Academia TimeOut). A iniciativa é bastante interessante mas pareceu pecar pela pouca oferta gastronómica existente. Na 1ª Edição estiveram presentes Ramiro, Cantina LX, Can The Can, Taberna da Rua das Flores/Flores do Bairro e Tasca de Três com Nuno Diniz, Nuno Barros e João Sá (ex-Assinatura e ex-G-Spot).
O evento teve um custo de entrada de 3€, dando direito a uma imperial, o que não é propriamente barato, tal como as ofertas gastronómicas não o são, se fizéssemos uma comparação puramente baseada na quantidade. Para além disso, das 4 ofertas existentes, as únicas que me cativaram o suficiente para me deslocar ao Cais do Sodré foi a Tasca de Três, de onde já conhecia a famosa Sandes de Porco Fumado, e a Taberna da Rua das Flores, um restaurante que desde há muito me suscita curiosidade.
Como em qualquer festival dos dias de hoje (não sei como se processou o ano passado pois não estive presente), todo o dinheiro que quiséssemos gastar teria que ser previamente trocado por senhas. Ainda que de melhor qualidade que as senhas dos festivais de Street Food (especialmente se tivermos em conta a edição em Paço de Arcos) e mesmo sem sabendo se aceitariam devoluções ou não (começo a estar de tal maneira preparado para este sistema que faço questão de saber exactamente o que vou pedir antes de trocar dinheiro) continuo a achar que na óptica do cliente final (aquele a quem qualquer evento é suposto satisfazer) esta solução é menos prática e pode chegar a ser prejudicial.
Apresentações e queixas feitas, vamos à comida! Como disse, a minha curiosidade recaía principalmente entre a Tasca de Três e a Taberna da Rua das Flores. É natural que a maior parte das escolhas tenham sido entre essas duas bancadas. Mesmo no evento, olhando para todos os menus, havia poucas propostas captivantes do Can The Can e a Cantina LX parecia ter uma ementa demasiado parecida com a do restaurante (que já conheço e cuja review podem ler aqui).
Na Tasca de Três, voltei a experimentar a Sandes de Porco Fumado. Depois do fantástico exemplar que experimentei no European Street Food Festival (aqui), as expectativas eram altas mas, infelizmente, não estava tão boa. O pão era bom mas a carne estava à temperatura ambiente e com uma menor profundidade de sabor. A maionese de bacon continua impecável e a rodela de tomate presente nada de novo acrescentou.



Os Ovos com Farinheira e Barriga de Porco estavam cremosos e com sabor ligeiramente predominante da farinheira, algo que poderia ser balançado com uma maior quantidade de barriga. Para os que possam fazer um ar desconfiado perante as palavras "barriga de porco", lembrem-se que o bacon vem desta deliciosa parte do porco.



Boa Mousse de Chocolate com Caramelo e Amendoim, demonstrando boa consistência e a não ser excessivamente doce, um erro onde muitas mousses de chocolate acabam por cair. A transversalidade de sabores entre chocolate e o caramelo não chocam e até se acentua graças a alguma salinidade do caramelo e do amendoim.



Já a Mousse Cítrica com Suspiros não estava tão boa, faltando-lhe a sua própria adjectivação e tornando-se demasiado doce. Tudo correcto a nível de textura e consistência, mas aquela acidez característica apenas foi descoberta no fundo do copo, com um creme que deveria ter sido um topping.


Não conhecendo a ementa habitual da Taberna da Rua das Flores, não sei quão comparável à que foi apresentada no evento, mas se a qualidade for algum indício então este é um restaurante obrigatório em Lisboa. Os Peixinhos da Horta estavam muito bons, com uma saborosa e estaladiça polme. O molho sweet chilli dá-lhes um toque original.



As Pataniscas de Bacalhau foram algo surpreendentes pela sua forma de apresentação e irrepreensível fritura. As pataniscas, cortadas de forma rectangular, estavam ultra estaladiças. Apenas achei que o sabor do bacalhau foi bastante mais suave do que o esperado, mas nada de grave.



O Picadinho de Carapau é algo de maravilhoso e refrescante. Bastante bem balanceado em todos os sabores presentes, fosse pela alga wakame ou pela acidez dada pela maçã, que suportaram o conjunto e ajudaram a elevar o carapau. Fantástico!



Uma ideia interessante na concretização do Frango Satay com bons sabores e uma boa quantidade de especiarias a transportarem o peito do frango até à Ásia, mas faltando um molho que ajudasse a dar mais vida a uma peça um pouco seca.



Outro prato fantástico desta Taberna, e que repetiria sempre que pudesse, foram os Lagartos Grelhados. A carne desfazia-se na boca e, dado à gordura intrínseca do corte, enchia-nos o palato com sabor e umami. A adição da cebola picada é importante para cortar toda aquela riqueza do porco.



No Can The Can, a qualidade da comida não deslumbrou. Apesar de achar alguma piada ao conceito, a curiosidade nunca se aguçou depois de ter lido algumas críticas menos positivas. E se a qualidade da comida for igual ao que aqui demonstraram, então não me parece mesmo que chegue a visitar o espaço. As Chamuças de Atum eram desinteressantes, com o sabor a ser todo mascarado pela quantidade de cominhos utilizada. Estavam bem recheadas, mas de resto nada de muito positivo a apontar.



Pouco acima estavam os Croquetes de Polvo com Tinta. Recheio demasiado unidimensional, avivando apenas quando misturado com a mostarda de dijon e um outro molho mais adocicado. Interessante proposta mas a concretização poderia estar melhor.



Único prato experimentado na Cantina LX, por motivos já explicados, foi a Tarte de Batata Doce. Ainda que bastante húmida, e com o acrescento interessante de sumo de laranja e respectivas raspas, a verdade é que o sabor da batata-doce não se mostrou.


A iniciativa é interessante, e os moldes em que é executada ainda podem ser melhorados, mas a base está lá e o conceito também (talvez até um pouco replicado do que se faz no Peixe em Lisboa). Todas as bancas estiveram perto das expectativas criadas, inclusive as de baixa expectativa. Como resultado final, ficou a enorme vontade de ir à Taberna da Rua das Flores e experimentar a restante cozinha do chef taberneiro André Magalhães.

Tasca de Três
Projecto único que surge apenas no evento Tascas no Cais. A ideia junta 3 chefs numa só ementa. Este ano tivemos o chef Nuno Diniz (Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, Tágide e ex-York House), chef Nuno Barros (1300 Taberna) e o foodie Rodrigo Meneses (foodie.pt e Curador da Academia TimeOut).
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Preço Médio: < 20 €

Taberna da Rua das Flores
Morada Permanente: Rua das Flores, 103
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Preço Médio: < 20 €

Can The Can
Morada Permanente: Praça do Comércio, Terreiro do Paço, Ala Nascente, 82-83
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Cantina Lx (review aqui)
Morada Permanente: LX Factory, Rua Rodrigues Faria, 103, Edifício C, Piso 0
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