segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Fenícios Castilho (Lisboa)

Desde que comecei estes meus devaneios por gastronomia, com especial destaque para restaurantes, uma das áreas pela qual a minha curiosidade tem recaído é a cozinha oriunda de diferentes países. Por vezes precisamos de sair da segurança da nossa cozinha e aventurar-nos em sabores que não conhecemos. Sair da casca ou, usando a expressão do foodie Rodrigo Meneses (o curador da nova Academia Time Out), "sair da despensa".
Graças a um convite da Zomato, pude experimentar um dos poucos restaurantes libaneses da cidade, o Fenícios Castilho, dos mesmos donos de outro libanês, o Fenícios. A entrada do prédio pode passar um pouco despercebida, mas o restaurante está localizado no Piso 7 do edifício (o que dá uma vista fantástica sobre a cidade de Lisboa), onde está a União de Associações do Comércio e Serviços, caso andem a passear pela Rua Castilho. Um pormenor (muito!!) importante, o restaurante apenas funciona ao jantar, sendo que para o serviço de almoço é um restaurante de conceito português chamado Varanda da União.
O serviço do restaurante é simpático, com especial destaque para o chefe de sala que nos deixou à vontade e se mostrou sempre prestável e informado sobre a ementa praticada. As restantes empregadas não pareciam estar tão à vontade, mesmo apesar da simpatia que demonstravam, mas num restaurante libanês é necessário um serviço informado.


Não fiz um grande trabalho de pesquisa anterior à visita, pois queria ir desafiar o desconhecido, sem expectativas. A única coisa que sabia, de há uns meses quando adicionei o restaurante à wishlist, era que a Mezza Fenícia corresponderia a várias entradas típicas para se provar, não sendo necessário muito mais (1 prato ou mais 1 ou 2 entradas) para que duas pessoas ficassem satisfeitas. Aliás, da forma como a ementa está construída, é possível fazer uma refeição só petiscando ou pedindo pratos mais substanciais, muitos deles com uma grande base vegetariana. Faltando bebidas libanesas, pois não é fácil manter produtos importados em stock, bebeu-se um recomendado tinto Quinta de Fafide Reserva 2013.



Começámos pela já mencionada Mezza Fenícia, que traz um conjunto de 8 taças, todas com uma entrada típica libanesa. Pediu-se ainda Kibbe, Foul Moudamas e Moussaka, para complementar a Mezza, optando por não pedir nenhum dos pratos principais. Acho que todos os nomes dos pratos estarão correctos, mas peço desculpas antecipadas caso algo me tenha falhado.
Labneh, uma variante de iogurte grego que pode ser feito à base de leite de vaca ou de cabra, é um creme fresco e de suave sabor.



Tabbouleh é uma salada bastante fresca e aromática, sendo interessante e muito boa. A conjugação dos sabores picados da salsa, cebola, tomate e azeite levam-nos para as saladas algarvias, o que me parece possível devido às influências mediterrânicas comuns. Tem ainda trigo, hortelã e sumo de limão, tornando esta salada bastante adequada para o Verão.



Um prato comum, e alvo também de várias interpretações mediterrânicas, consiste em folhas de videira recheadas, o que no Líbano tem o nome de Warak Enab. Neste caso, a folha é recheada com arroz, tomate e salsa, sendo depois cozinhada e acabando por infundir o arroz com as suas secreções. Mais uma proposta interessante e saborosa.



Bastante saborosas estavam as Batatas Harra. São anunciadas como picantes mas não consegui encontrar qualquer referência palatal ao mesmo, sendo todo o sabor dado pelo salteado com alho.



Um Hoummos muito bom, de excelente consistência e bom sabor. Para usar e abusar com o pão libanês achatado (tipo pão pita) que trazem para a mesa.



O prato que menos apreciei em toda a Mezze foi o Lahm bi Ajin, uma pequena tarte recheada com carne, apesar de ser descrito como uma pizza libanesa. A massa do pão estava mal cozida e parecia quase reaquecida, acabando por ficar um pouco borrachosa, e o recheio estava seco.



O Moutabal, mais conhecido como Baba Ghanoush, é um puré de beringelas grelhadas com pasta de sésamo, alho e limão. Fantástico o sabor a fumado que as beringelas transmitem a todo o puré.



O Falafel, por vezes injustamente colocado na mesma categoria das "Pitas Shoarma" de Centros Comerciais, foi uma das estrelas da noite. Exterior perfeito de crocante e fritura, com um interior diferente da típica pasta de grão a que estamos habituados. Muito saboroso e a aproximar-se mais da ideia que eu teria da intensidade das especiarias usadas, pois quase toda a refeição pareceu ser demasiado suave neste ponto.



À semelhança do falafel, o Kibbe, um pastel recheado com carne picada, também estava bastante bem frito e com um perfil de sabores interessante, com o interior a não se apresentar excessivamente seco. Mais um prato que me aproximou dos sabores imagináveis do Médio Oriente.


Para quem é um fã de leguminosas, o Foul Madamas cumpre e satisfaz. Uma fresca salada de grão-de-bico e favas cozidas, faltando-lhe apenas uma maior profundidade de sabores.


A Moussaka, uma versão bastante diferente da homónima grega, a ter um perfil de sabores que me relembrou do típico prato português bacalhau com grão, mas sem o bacalhau. Bom, mas pensei que iria encontrar sabores mais fortes.



Já com pouco espaço no estômago, o chefe de sala antecipou a nossa vontade de conhecer os doces libaneses e decidiu trazer 3 sobremesas para que nos fosse possível conhecer alguma das variedades disponíveis. Nas sobremesas foi um pouco mais complicado relembrar os nomes, mas com a ajuda de alguma pesquisa online penso que consegui desvendar as experimentadas.
O Meghli é uma espécie de pudim, feito com farinha de arroz e canela, algo desenxabido e sem qualquer vestígio de açúcar na sua constituição. Foi-nos previamente avisado que a sobremesa é mesmo assim, mantendo a receita libanesa, mas que nos deram a provar por ser uma sobremesa típica.



O Osmallieh é bastante interessante em toda a sua conjugação de sabores e texturas, mesmo que não se evidencie muito a aletria. O creme de leite utilizado para cobrir a sobremesa é fantástico e os frutos secos ajudam a conferir textura e algum adocicado extra.



Com um perfil de sabores parecido, a Mouhallabieh é um pudim com flor de laranjeira, onde estes últimos sobressaíam acima de tudo. Mesmo cheios, desta sobremesa não sobrou nada!



Para além do Kibbe e do Falafel, que mostravam uma bom uso de especiarias, os restantes pratos pareceram ficar um pouco aquém das expectativas neste aspecto, ainda que a sua confecção tenha sido sempre boa. Apenas estava à espera de algo mais arrojado mas, e apesar das influências mediterrânicas comuns que podem existir, a ementa pareceu ser sempre demasiado segura e mais próxima dos sabores a que estamos habituados. Quando isto foi dito ao chefe de sala, foi-nos confirmado que os pratos foram adaptados ao palato português com o intento de assim conseguir agradar e cativar mais clientes. Sinceramente, acho que deveriam ser fiéis às suas origens e manter a tradição dos seus pratos, dando a conhecer a verdadeira cozinha libanesa, e não uma versão ocidentalizada. 
Tirando a expectativa de sabores que levava, tudo o resto foi realmente digno de uma refeição bastante boa. Boa vista, boa comida, bom serviço e tudo isto a preços justos.

Fenícios Castilho
Lisboa, Portugal
Click to add a blog post for Fenícios Castilho on Zomato
Preço Médio: < 20 €

Sem comentários :

Enviar um comentário