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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Prado (Lisboa)

Há muito tempo que não me lembro de ver um restaurante com tanto hype. Ainda não tinha aberto e já se falava mais nele no que no restaurante que Jamie Oliver vai abrir no Príncipe Real. Ok, até aqui até concordo pois este desde o início que parece um projecto muito mais interessante. Mas porquê, perguntam vocês?
Porque António Galapito, um jovem de 27 anos, esteve durante muitos anos com Nuno Mendes, chef português exilado em Londres. Pelo que percebi, nas minhas leituras e investigações, Galapito era o Padawan e Mendes o seu Jedi Master. As fotos apetitosas invadiam as redes sociais e eu sentia-me cada vez mais atraído pelo lado negro da Força. Ok, talvez não seja o lado negro, visto que todo o conceito do restaurante é virado para os produtos biológicos e o menos processados possíveis. Tudo é tratado dentro do restaurante, inclusive o desmanche e maturação das carcaças que mais tarde alimentarão vários comensais. Muito nerd? Ok, vou tentar conter-me. Isto porque mesmo antes de lá ir já parecia um puto excitado com a estreia do novo Star Wars! 
A ementa varia consoante os produtos disponíveis e a vontade do chef. Daí ser recorrente ver as mesmas pessoas a tirarem dezenas de fotos em diferentes refeições espalhado por esse Instagram fora. Por falar em Instagram, já seguem o do Devaneios de um Foodie (aqui)? Vi passar pelo meu ecrã pratos de óptimo aspecto e cheguei a um ponto que já salivava só de ver as fotos da ementa! Principalmente quando li que havia uma peça de acém maturada a 100 dias. A ementa tem sempre entre 10 a 20 pratos, com descrições simples e onde o objectivo parece ser conjugar os sabores de 3 ou 4 ingredientes principais, fazendo-os crescer e não esconder! Como a curiosidade era muito (e sobre toda a ementa), deixámos ao critério do serviço a escolha dos pratos que iríamos experimentar.



A refeição começa maravilhosamente com um Pão de trigo Barbela, da padaria Gleba, acompanhado por uma boa Manteiga fresca de cabra e uma maravilhosa gordura de porco batida com um fundo de puré de cebola. Bastante original e a marcar desde cedo a posição onde quer estar.



Tudo aparenta ser simples e pouco trabalhado mas duvido seriamente que assim o seja. O primeiro prato foi o primeiro exemplo disso e um dos melhores da refeição. Berbigão, Acelgas, Coentros e Pão Frito... Parece simples mas ao mesmo tempo original mas depois entra em campo o caldo trabalhado com manteiga fumada e esquecemo-nos do que estávamos a pensar. Simples? Claramente que não!



A Beterraba, Queijo Fresco de Cabra e Cebola peca por ser um conjunto demasiado doce. Talvez um queijo diferente, com maior teor salino tivesse funcionado melhor. Algo que consiga balancear toda a doçura presente...



Voltamos à simplicidade aparente (aliás, uma constante ao longo da refeição) com o Tat Soy, Soro e Nozes. Doçura e amargor bem conjugados mas parecia faltar algo ao prato que lhe desse maior dimensionalidade, tornando-se um pouco uniforme demais.



O "problema" deste tipo de restaurantes é a pouca clareza sobre aquilo que estamos a comer, ainda que o serviço tenha sido muito bom e sempre disponível para responder a qualquer pergunta. A questão é que não tirei notas e houve coisas que não se ouviram tão bem e não voltámos a perguntar. Este prato tem Judeu (um peixe da mesma tribo que o Atum), Rutabaga (ou Couve-Nabo) e Mostarda mas é muito mais complexo que isto a nível de sabores! Para não falar que não percebemos exactamente onde e como estava a ser utilizada a mostarda, ficando a dúvida quanto à utilização de folha de mostarda para o componente líquido do prato. O que interessa é que funcionava e estava muitíssimo bom!



O prato mais instagramável do restaurante, e o qual já tinha visto dezenas de vezes, é o Tártaro de Barrosã e Couve Galega Grelhada. Não só é um prato bonito como é fantástico nos seus sabores com a carne perfeitamente temperada, ainda que não saiba com o quê (lembro-me de falarem de cogumelos mas pouco mais). Estava-me tudo a saber tão bem que nem sempre quis perceber todos os componentes, acabando só por ir aproveitando o prazer que me estava a dar.



Gosto de comer, de forma geral! E gosto de comer de tudo. Posso de vez em quando ter apetites mais para a esquerda ou direita mas desde que seja boa está tudo bem. Ora, tendo isto como base, não deixo de admirar comida de tacho e carnes estufadas durante muito tempo. A profundidade de sabores com que ficam, a sua textura, aquele molho onde ficam a nadar, tudo isso me faz salivar. No Creme de Couve Flor, Ovo e Estufado de Barrosã temos um óptimo creme que oculta um ovo perfeito e uma carne de bradar aos céus! Provavelmente, o meu prato favorito da refeição.



Aqui questiono um pouco o encadeamento decidido para a refeição, pois depois de um prato de sabores muito fortes, somos presenteados com um Peixe-Espada, Nabiças e Nabos que não me parece encaixar na perfeição depois do estufado. Ainda assim é um bom prato, não há dúvidas disso.



Excelente o Acém de Barrosã, Manteiga Tostada e Alface Grelhada! Carne irrepreensivelmente grelhada, descansada e temperada de forma muito simples para a deixar sobressair. Os restantes elementos parecem estar lá só mesmo para ajudar a carne a sobressair e digo isto como um elogio.



Há algo na gordura natural do porco que nos coloca as papilas gustativas a trabalhar horas extra. Não sei se será o que os japoneses chamam umami mas não há muita coisa que bata o sabor de gordura de porco bem cozinhada! Bastante interessante o uso de alga nori em pickle neste Palitos de Entrecosto de Porco Preto, Acelgas e Nori, a mudar completamente o sabor do prato quando apanhávamos um destes bocados.



Finalizamos os pratos salgados com o Lula, Alho Francês e Tinta. Finalizamos num ponto excelente com os sabores a ligarem-se bastante bem e com a lula a aparentar apresentar uma dupla textura. Só não sabemos se tal terá sido propositado ou não... 



Três pessoas à mesa, três sobremesas disponíveis, claramente pediu-se uma de cada. O menos entusiasmante a ser a Granita de Coentros e Laranja, que por baixo deste neutro granizado de coentros revelava uns gomos de laranja e um puré também de laranja. A parte granizada era numa proporção excessiva face à componente doce, acabando esta por ser uma sobremesa que entusiasmou mais pelo conceito que pela concretização. 



Pelo caminho um pouco inverso, o Gelado de Cogumelos, Cevada e Dulse (uma alga que assumo ser o pó vermelho que é visível) tinha uma apresentação menos apelativa, assemelhando-se quase a um arroz doce. Já o seu sabor era muito bom ainda que não sentisse a presença de cogumelos, mas sim de caramelo. A textura da cevada é que não deixou saudades, visto que estava algo elástica.



A Maçã, Natas Caramelizadas e Massa Folhada também se fez comer a um excelente nível, com os sabores bem equilibrados e texturas contrastantes a funcionarem muito bem.



O hype é justificado! António Galapito apresenta um restaurante inovador, com um conceito que faz sentido, sendo o espaço e a ementa trabalhados para se encaixar nesse conceito de forma perfeita. A comida não teve sempre ao mais alto nível mas com uma volatilidade tal na ementa não deve ser fácil, juntando a isso o facto de ter aberto há poucos meses.
Nesta visita, 3 pessoas comeram 14 dos 18 pratos disponíveis mas a verdade é que tive pena dos 4 que escaparam, levando-me a querer lá voltar para provar o que de novo houver!

Prado
Lisboa, Portugal
Prado Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 50 €
Data da Visita: 14 de Janeiro 2018

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Isaías (Sesimbra)

Sesimbra é sobejamente conhecida pelas suas praias, com a Praia da Ribeira do Cavalo a estar nas bocas do mundo durante semanas no ano de 2016, e a sua gastronomia marítima, com algum do melhor peixe fresco que podemos encontrar pelo país. 


Para ser honesto, o que nos levou a visitar esta zona foi exactamente a afamada, sobrepopulada e sobrevalorizada Praia da Ribeira do Cavalo, mas o que mais nos marcou foi o jantar que fizemos na pitoresca Tasca do Isaías. Uma casa pequena, de tratos simples, gente simples e grandes sabores!
Chegamos antes das 20 horas e pedimos mesa para 2 pessoas, mas teremos que esperar um pouco porque o restaurante já está cheio a essa hora e já existem pessoas cá fora à espera. Enquanto esperamos vamos vendo a ementa exposta e observando a laboriosa tarefa dos "homens da grelha", que com mestria vão controlando a grelha e preparando o peixe dos pedidos que a seguir começarão a ser cozinhados.


Quando a nossa mesa vaga, mas antes ainda de entrarmos no restaurante, já nos estão a perguntar o que vamos comer para tudo começar a ser preparado e diminuir tempos de espera! Partilhamos uma pequena mesa com mais 3 pessoas, com quem não interagimos muito, mas eles sentam-nos onde houver espaço. Porque a verdade é que ninguém vem aqui para conviver ou estar confortavelmente na conversa. Aqui vem-se pela óptima comida e a bons preços! Mal nos sentamos perguntam-nos também o que queremos beber, com um gesto típico por trás do balcão e sem grandes palavras! Como se tivéssemos na casa de amigos...
Iniciámos o repasto com umas gordas e saborosas Amêijoas, num bom molho semelhante ao Bulhão Pato mas onde foi adicionado também Cebola. Excelente matéria-prima, excelente confecção!


Fantástico também o Peixe Espada Preto, bastante bem grelhado com o seu interior bastante suculento e o seu exterior com o característico sabor de grelha.


As Sardinhas foram das melhores que comi nesse ano, com um nível de grelha a comprovar que os vários anos de experiência daqueles senhores fazem diferença no produto quando ele chega à mesa, com uns exemplares gordos e gulosos e aquele desenvergonhado toque extra de sal na pele que a deixa mais estaladiça e faz as nossas glândulas salivares trabalharem com mais afinco.


O único capítulo onde não fiquei fascinado foi nas sobremesas. Fraco Doce da Casa, excessivamente doce.


E uma Mousse de Manga com o creme separado e sem grande encanto.


Felizmente, os apontamentos finais menos felizes em nada influenciaram a minha opinião do local. Estava aqui para comer bom peixe a um preço justo e foi exactamente isso que aconteceu! Pode não ser o local mais confortável, nem o mais requintado, mas ainda bem! Porque aqui o que faz sentido é uma tasca em todos os sentidos da palavra, para também se diferenciar dos restaurantes mais turísticos na zona da praia, e eu adoro isso! Adoro autenticidade e é difícil encontrar um restaurante sesismbrense mais autêntico do que o Isaías.

Isaías
Sesimbra, Portugal
Tasca do Isaías Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 20 €
Data da Visita: 13 de Agosto 2016

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Eleven (Lisboa)

No próximo dia 26 de Fevereiro começa mais uma edição Restaurant Week, com restaurantes de topo, espalhados por todo o país, a disponibilizarem menus de 3 pratos por 20€! Já deixei um post sobre esta edição (podem vê-lo aqui) por isso não me vou alongar mais quanto ao conceito da Restaurant Week nem sobre os participantes da mesma. 
Um dos restaurantes que rapidamente esgota as suas reservas é o Eleven, chefiado por Joachim Koerper e detentor de 1 Estrela Michelin. Esta é uma oportunidade única de comer num restaurante estrelado por apenas 20€ (sem bebidas)! Quando andei a olhar para os menus, um ou dois dias depois de terem sido lançados, o Eleven tinha a indicação de já se encontrar esgotado mas um dia depois já havia novos slots de marcação, ainda que apenas para almoços a dias de semana. Mas acabei por marcar, aproveitando para celebrar um aniversário com um almoço num restaurante diferente...
Claro que as expectativas são gigantes quando falamos no Eleven, mas também temos a noção que uma refeição na Restaurant Week não será o mesmo tipo de experiência que uma refeição com um menu de degustação, mas a qualidade da comida tem de continuar a ser exímia, assim como o serviço. E é pelo serviço que quero começar. Eu sei que vamos pagar menos que metade das pessoas na sala mas ainda assim o maître d' não precisa de ser arrogante. E também não precisa de ignorar os nossos pedidos de bebida, já que foi ele que nos perguntou o que queríamos beber! Mas enfim, depois deixámos de lidar com esse senhor e o serviço melhorou para algo bastante profissional e mais simpático. A cadência dos pratos também não foi a melhor, com tempos de espera altos entre pratos.
A refeição começou com dois amuse bouches, oferecidos pelo chef. Um Crocante de Risotto, parecido com um arancini, com um exterior estaladiço, um interior cremoso e um molho de tomate que era indiferente a sua presença, de tão neutro que era o seu sabor.


A Brandade de Bacalhau era muito boa, com um nível de cremosidade adequado e de forte sabor a bacalhau sem ser salgado ou insosso. Simples e bom, não deixando o bacalhau esconder-se atrás da batata ou da cebola.


O Salmão Marinado com Beterraba deixou-me algo indiferente quanto ao seu perfil de sabor. Era bom mas tirando o factor visual nada mais se destacava. Era um prato de sabores suaves e bastante lineares, acabando por não surpreender nem deslumbrar.


O que deslumbrou foi o Creme de Cogumelos. Bastante leve, de textura suave e com uns surpreendentes pedaços de castanha no fundo, que conferiam textura e alguma doçura à sopa. Muito bom! Este sim, um prato da qualidade do que eu esperava encontrar neste tipo de restaurante e que já se equiparou às expectativas criadas.


Também em bom nível se apresentou o Peixe-Espada Preto, Puré de Batata-Doce e Emulsão de Maracujá. Peixe bem cozinhado e bem acompanhado por um bom e sedoso puré de batata-doce. Pena apenas que a emulsão de maracujá não fosse notada quando comida em conjunto com o peixe, nem tivesse um sabor muito activo quando provada sozinha, fazendo-se sentir mais pela acidez.


Também o Magret de Pato com Molho de Cassis, Talharins e Couve de Bruxelas foi um bom prato, apesar de alguns problemas com a proteína. Carne bem cozinhada e com bom tempero mas sem que a pele se apresentasse estaladiça. Também um pequeno reparo quanto à escolha dos talheres, com a faca disponível a dificultar bastante a tarefa de cortar o peito de pato. O molho de cassis é que andava meio eclipsado, sem que qualquer sabor ou acidez fosse notado. O melhor neste prato era, sem dúvida alguma, os talharins servido com minúsculos bocados de bacon e quartos de couves de Brulexas. Massa caseira, saborosa e a roubar protagonismo ao pato.


Uma das sobremesas disponível causou-me alguma confusão mesmo quando li pela primeira vez a ementa... É que um Prato de Fruta, num restaurante onde a criatividade deve primar, faz-me confusão! O abacaxi ainda era saboroso, mas o kiwi nem estava particularmente maduro. Fraco, criativamente inexistente e nem consigo perceber bem porque colocam esta hipótese no menu da Restaurant Week.


Criatividade tinha a Sinfonia Tropical. Uma óptima conjugação do coco com a lima, e um ligeiro travo floral que julgo ser dado pela lúcia-lima. Bom balanço entre doçura e acidez, com brilhante execução técnica tanto no "bolo" como no sorvete. 


Não sei se por ser um cliente de Restaurant Week, mas a verdade é que o Eleven não me deslumbrou. Atenção, de forma geral, a refeição foi positiva. Teve pontos muito bons e que estiveram dentro das expectativas que tinham sido criadas mas acho que um restaurante deste calibre não deve ter tantos pormenores fracos. Seja no serviço, na comida apresentada ou até na construção do menu para este evento. 
Será que a vontade de voltar existe quando a experiência não foi assim tão espectacular? Para mim continua a existir pois acredito que seja diferente, mas a verdade é que não o deveria ser! Deveriam sempre proporcionar a melhor experiência possível, seja um cliente que vá pagar 30€ ou 100€.

Eleven
Lisboa, Portugal
Preço Médio: < 30 € (apenas em Restaurant Week)