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domingo, 21 de outubro de 2018

Etc&Tal (Oeiras)

Abriu em Oeiras mais um restaurante muito interessante, para os lados do tribunal de Oeiras. A sua abertura não me tinha suscitado uma curiosidade por aí além, mas as primeiras opiniões começaram a aparecer e parecia que estávamos perante mais um caso de sucesso na zona. Nada como ir experimentar e tirar as minhas próprias conclusões.
Espaço com muito bom gosto, com alguns pormenores decorativos muito engraçados, que se torna acolhedor logo à entrada. De referir também o excelente serviço, que soube explicar e aconselhar durante toda a refeição, sempre com simpatia e honesto interesse em perceber a nossa opinião.
O foco deste restaurante reside nos seus arrozes (com maior enfâse nos risottos e nos salteados) e nos petiscos, sempre com propostas muito familiares, exceptuando meia dúzia de casos que saltam rapidamente à vista e nos chegam a fazer questionar se funcionaria... Mas já lá vamos.
Começámos com um couvert (do qual não houve registo fotográfico) com dois bons pães, tremoços e azeitonas que poderiam estar mais temperados, excelente azeite extra virgem transmontano e uma pecaminosa maionese de alho, a fazer lembrar algumas marisqueiras.
Os restaurantes de petisco não são uma novidade, apostando muitas vezes em pratos que já conhecemos. Mas, já o disse várias vezes, se executarem os pratos bem, já se distinguem dos demais, pois existem muitos por aí cuja execução deixa a desejar. Excelente exemplo desta boa execução são os Ovos envoltos em Alheira. Super cremosos, numa proporção e harmonização perfeita entre ovo e alheira.



Muito bons os Cogumelos à Bulhão Pato, com os sabores clássicos desta preparação evidenciados, mas faltando-lhe coentros. 



Para os amantes de queijo derretido, têm de experimentar o Camembert no Forno com Cebola Confitada! Queijo perfeitamente caramelizado, de interior líquido e guloso, mas que corta na perfeição com o adocicado da cebola. Única sugestão seria a inclusão de algumas tostas para ajudar a comer o queijo.



Depois de três petiscos, decidimos partilhar o Risotto de Bacalhau com Grão, aquele que se apresentava como o mais curioso, levando-me a crer que não funcionaria bem. Mas apresentava-se como especialidade da casa, por isso, tinha de provar. E ainda bem que o fiz. A ideia parece estranha mas funciona, vá-se lá saber como! E, melhor ainda, com todos os sabores que associo às saladas de bacalhau com grão (e mais qualquer coisa). Talvez a proporção entre arroz e bacalhau pudesse ser maior, mas, de resto, é um excelente prato.



Não podíamos sair do Etc&Tal sem experimentar as sobremesas, principalmente quando nos dizem que uma delas é receita da avó da proprietária. Trata-se do Bolo Chocolate&Tal, um bolo que nos fez automaticamente pensar em salame, e com motivos para isso, pois leva também Bolacha Maria e ovo. Excelente para dividir, pois é uma sobremesa bastante rica.



Também bastante competente, a Mousse de Lima não desilude e cumpre, ainda que sem o mesmo brilhantismo dos pratos, mas com uma textura correcta e bom sabor.



Tenho um "problema" com este tipo de restaurantes. Depois de uma visita tão positiva como esta, a vontade é de regressar e experimentar os ovos rotos, o risotto de cogumelos, o agnolotti piemontese, etc, etc, etc.

Etc&Tal
Avenida D. João I, Loja 10B
Oeiras, Portugal
Etc&Tal Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
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Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 4 de Outubro 2018

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Maria Pia (Cascais)

Estão a ver aqueles restaurantes que suscitam curiosidade desde a primeira vez que ouvimos falar mas mas, por um motivo ou por outro, vamos adiando e adiando a visita, até que finalmente lá vamos e a única coisa que não conseguimos perceber é o porquê de não lá ter ido mais cedo?
O Maria Pia foi um destes casos! A sua abertura, em Setembro de 2014, passou-me algo despercebida mas rapidamente se tornou um dos restaurantes mais interessantes de Cascais. A sua localização privilegiada, junto ao Clube Naval de Cascais, proporciona uma vista fantástica ajudada pela componente envidraçada do restaurante. O atendimento é jovem, descontraído e extremamente prestável mas um pouco lento, tendo feito com que o almoço demorasse cerca de 3 horas. Não tínhamos pressa, por isso não nos preocupámos muito com isso e só quando saímos do restaurante reparámos na quantidade de tempo que tinha passado.


A refeição inicia-se com um bom Couvert, com destaque para o excelente pão rústico ainda que o de azeitonas não lhe ficasse muito atrás. Bom azeite com coentros e alho e um trio de manteigas deslumbrante, da mais tradicional à de beterraba.


O Maria Pia assume-se como um Seafood Lounge, mas não estamos perante uma marisqueira tradicional. Uma rápida vista de olhos pela ementa mostra-nos o lógico foco em produtos marítimos, mas sempre em interpretações muito próprias, seja de pratos mais clássicos, ou em pratos mais próximos da cozinha de autor.
Inevitável a presença de um prato de Amêijoas à Bulhão Pato, aqui apelidadas Travessa de Amêijoa com Limão e Coentros, com uns bivalves de boa dimensão, bastante saborosos e banhados num molho que soube estar à altura do desafio. Claro que se mandou vir mais daquele maravilhoso pão para a mesa e não se descansou enquanto houvesse pinga de molho.


O "prémio" para melhor prato da refeição, dono de uma execução perfeita, de ingredientes de fantástica qualidade e de um empratamento que poderia ser capa de uma qualquer revista da especialidade, foi o Atum Braseado com Creme de Aipo e Cenouras. Tudo fazia sentido no prato, inclusive a esferificação de balsâmico!


Do lado oposto do espectro visual do atum, o Risotto Negro de Marisco, que tinha muito pouco de apelativo. Mesmo sendo um risotto com tinta de choco, não era necessário ser tão monocromático. Aposto que as cores naturais das proteínas usadas (que mal se distinguiam no meio do risotto) ficariam bastante bem e ajudariam a dar cor ao prato. Felizmente, a falta de cor não representou falta de sabor, com o risotto a apresentar-se perfeitamente cremoso e de fortes sabores.


Muito bom também o Arroz de Lingueirão com Filetes de Robalo. Poderia ter um maior rácio do bivalve face ao arroz, que se apresentou malandrinho, mas servindo mais como acompanhamento do que como prato principal isto não foi crasso. Excelente fritura nos filetes, que na verdade eram goujons (as coisas que aprendo quando estou a fazer o trabalho de investigação para escrever estes devaneios), a fazer deste um prato bastante seguro e bem executado.


As sobremesas não estão ao nível dos pratos, mas andam muito lá perto, o que já é muito bom. O Chocolate e Morango, uma combinação clássica, é uma excelente escolha para quem se quer perder num bom ganache de chocolate, sem olhar para o lado pecaminosamente guloso da questão, que é atenuado pela presença de alguns pedaços de morango e de um bom gelado do mesmo.


Um pouco melhor, principalmente para quem é tão fã de sabores cítricos como eu, A Laranjeira. Boa torta de laranja, ainda que pudesse estar mais húmida e também mais intensa, a acompanhar com 3 gomos de laranja e um gelado, que acabou por estar aquém dos restantes elementos no prato.


Um restaurante que rapidamente se torna para mim um dos meus favoritos em Cascais. Pratos bem executados, muito bem trabalhados ao nível do sabor e com ingredientes de qualidade irrepreensível!

Maria Pia
Passeio Dona Maria Pia - Clube Naval de Cascais
Cascais, Portugal
Maria Pia - Seafood Lounge Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
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Preço Médio: < 40 €
Data da Visita: 13 de Junho 2018

terça-feira, 31 de julho de 2018

SUD Lisboa (Belém)

Fez recentemente 1 ano que o SUD Lisboa abriu as suas portas com um conceito completamente inovador. Rapidamente se tornou um dos sítios "da moda" da cidade de Lisboa, mas a verdade é que nunca me tinha suscitado curiosidade para lá ir fazer uma refeição. Aliás, sempre tinha olhado para o SUD mais como uma opção para ir beber um copo (tem carta de cocktails bastante apelativa) antes de jantar, ou depois (como fiz depois da minha visita ao JNcQUOI - aqui), do que lá fazer uma refeição. Os preços praticados e o facto de ter tido feedback menos positivo também não ajudavam, por muito que o espaço e localização sejam algo únicos.


Até que surgiu um convite para lá ir experimentar alguns pratos da nova carta (que está ainda no activo, podendo experimentar a maior parte destes pratos, mesmo que a visita tenha ocorrido há uns meses) e, para mim, tirar as teimas quanto ao que o SUD Lisboa vale na cena gastronómica lisboeta. Será mais um restaurante sobrevalorizado, ou conseguirá conquistar fãs lisboetas o suficientes para o tornar relevante?
O primeiro impacto que temos é o espaço. Muito bom, com um ar sofisticado, seja no piso de baixo ou no de cima (que tem uma ementa diferente), mas sem ser demasiado impessoal ou capaz de deixar desconfortável alguém de t-shirt e calções de ganga. Mais complicado é avaliar o serviço, visto que tendo sido convidado para lá ir, tenho perfeita noção de que houve outro cuidado neste aspecto. Ainda assim, interagi com o chef de sala e todas as perguntas que fiz, fosse sobre prato, produto ou outros eram respondidas com prontidão e conhecimento.
Iniciámos assim a refeição com La Tartare di Tonno, um refrescante e surpreendente tártaro de atum com morango (aos pedaços e numa espécie de gaspacho). Se a combinação em si é irreverente, mas mostrando no palato que acaba por fazer sentido e conjugar na perfeição, adorei o uso da salicórnia e aquilo que trouxe ao prato.


A Burrata di Andria é uma das entradas com mais saída do restaurante, e uma perdição para os amantes deste tipo de queijo. A sua generosa dimensão (300gr) torna-o uma entrada perfeita para partilhar e a salada de tomate, que lhe serve de cama, torna-o extremamente refrescante. O que faltava para ser uma Salada Caprese seria uma componente verde, normalmente à base de manjericão, mas aqui o twist SUD colocou um pesto de rúcula no fundo do prato.


O SUD Lisboa apresenta uma ementa claramente italiana, ainda que não se restrinja (felizmente) a massas e pizzas. A última entrada experimentada foi um clássico italiana, o Fritto Misto, aqui apelidado Fritturina Mista di Pesce. Excelente fritura nos pedaços de camarão, lulas e bacalhau, não deixando as proteínas excessivamente cozinhadas e ainda bem ajudadas por uma boa maionese de iogurte e alho.


A maior parte do mundo pensa que a cozinha italiana se resume a Pizzas, Massas e pouco mais. Existe alguma falta de conhecimento neste aspecto mas o SUD preocupa-se em mostrar alguns pratos menos conhecidos do grande público, como é o caso deste Spigola i Caponatina, um filete de robalo corado servido com beringela (daí a caponata, tradicionalmente um refogado de beringela, tomate e cebola) e um puré de feijão branco. Peixe no ponto correcto, puré cremoso, sem qualquer grumo e bastante saboroso, ajudada pela caponata que traz alguma acidez ao prato e ajuda a que o palato não se canse.


O Risotto al Funghi vem numa textura perfeita, com um ponto de cozedura do arroz do mesmo nível mas pareceu-me faltar-lhe um pouco mais de sabor, não sei se no caldo usado se na finalização do prato e quantidade de parmesão utilizada (sou um fã de muito parmesão!). De destacar, ainda assim, a variedade de cogumelos no prato, com Porcini, Pleurotus Eryngii (ou Cogumelos do Cardo), Canterelles e ainda um pouco de trufa para dar o ar de sua graça.


Mas, para mim, o melhor prato da noite foi o Tagliati di Costata Senza Osso (um prato que já não se encontra na ementa, apesar de haver um muito parecido, a Tagliata di Contrafiletto), que é como quem diz um Ribeye Black Angus maturado durante 60 dias. Carne de uma qualidade exímia, perfeitamente cozinhada, apenas a sofrer um pouco no que ao empratamento diz respeito. Pareciam querer esconder a estrela do prato debaixo de uma montanha de vegetais. Não que estivessem maus, pelo contrário, mas este era aquele tipo de pratos em que facilmente dispensava acompanhamento.


No campo das sobremesas, o Le Strudel del SUD (outro prato que entretanto parece já não estar na carta) é uma sobremesa segura mas que não surpreende. Tudo com uma execução correcta e os sabores expectáveis de um bom strudel... mas só isso.


Também o SUD Tiramisù não surpreendeu. Um bom exemplar, bastante sabor a mascarpone, cremoso, com as camadas típicas e até com umas bolachas ao lado para dar um pouco mais de textura mas a ficar atrás do maravilhoso tiramisù do Pátio Antico (aqui).


A melhor sobremesa da noite foi a Panna Cotta com os seus sabores tropicais a renovarem-se a cada colherada, graças à utilização de diferentes frutos. Também texturalmente a sobremesa estava fantástica, com a panna cotta a desfazer-se na boca, a misturar-se perfeitamente com a textura das diferentes frutas e ainda com a crocante manga desidratada.


É fácil gostar-se do SUD Lisboa. O ambiente, a decoração, a localização... simplesmente fantásticos. Felizmente a comida acompanha e revelou-se uma boa surpresa. Os preços são certamente elevados, mas dado todo o contexto do local e qualidade da comida, não estão completamente desajustados. Até porque conseguimos fazer uma refeição por menos de 30€, se optarmos pelas pizzas, por exemplo.

SUD Lisboa
Belém, Portugal
SUD Lisboa Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 50 €
Data da Visita: 15 de Março 2018

domingo, 29 de julho de 2018

Cantinho do Avillez (Parque das Nações)

José Avillez dispensa qualquer tipo de apresentações. Ele é, sem dúvida, o chef mais mediático em Portugal, Rei do Chiado e Arredores, faltando-lhe apenas partir para d'Aquém e d'Além Mar, detentor de um Império invejável mas, tal como D. Afonso Henriques e respectiva descendência, isso não era suficiente e está agora a conquistar o resto do país, um restaurante de cada vez!
Bem, deixemo-nos de história porque essa é sobejamente conhecida e foquemo-nos no presente! Abriu há cerca de dois meses o terceiro Cantinho do Avillez, no Parque das Nações, numa rua que se está a revitalizar e apresenta já várias propostas muito interessantes como o Cantinho ou o Old House.



Este será já o quarto restaurante do Império que visito (quase que poderiam considerar fazer uma espécie de passaporte e ia-se levando carimbos dos vários locais), depois do Mini Bar (aqui), Belcanto (aqui) e Pitaria (a falar num futuro "próximo). Claro que José Avillez não pode estar em todo o lado ao mesmo tempo e confiou a chefia deste seu novo Cantinho ao chef João Novo, que já está no grupo Avillez há 5 anos, com passagens pelo Take-Away de Cascais (já fechado), Cantinho do Chiado e Belcanto, mais recentemente. E ficou bastante bem entregue, diga-se de passagem!
Iniciámos com um Gaspacho de Cerejas do Fundão com Presunto, Ovo Cozido e Croutons, um prato fresco e muito bom para o tempo quente que tarda em vir. Era desejável um sabor mais intenso a cereja, para que se tornasse mais diferenciador e pudesse andar mais a par com o salgado do presunto e a acidez natural de gaspacho. Se não me tivessem dito, não saberia que havia cerejas no gaspacho.



O Tártaro de Atum com Sabores Asiáticos é fantástico. Nota-se a qualidade do produto, muito pelo corte que deixa perceber a textura do mesmo, com o tempero picante a tentar desequilibrar o prato, mas a maionese de miso acaba por ajudar a conjugar tudo, dando-nos, ainda assim, pequenas pontadas de intensidade. Para adicionar mais uma camada de textura, é engraçado a utilização de pequenas esferas de arroz tufado (masago arare).



A carta está bastante bem construída. Podemos fazer uma refeição a puxar mais para sabores fortes ou mais para sabores delicados, bem como para pratos mais frescos ou pratos mais quentes! Todo este lero lero para dizer que gostei da frescura e delicadeza do Ceviche de Vieiras, Batata-Doce e Abacate, percebendo a opção por cortar naquela acidez típica do leche de tigre de forma a não ofuscar a vieira. Foge um pouco aos típicos ceviches que estamos habituados mas, ainda assim, mesmo não puxando pela acidez, com o risco de cozinhar a vieira e tirar-lhe protagonismo, puxaria um pouco mais pelo chili.



Por falar em expectativas, os Tacos Al Pastor foram a primeira grande surpresa da noite! Um prato que, muito provavelmente, não iria pedir mas que me deixou a salivar e a pedir por mais. Passei de "não pediria" para "fazia disto o jantar" facilmente. Sabores pujantes mas equilibrados, que nos despertam todo o interior da boca e nos fazem abrir os olhos tentando perceber de onde saiu tudo aquilo. É salgado, é doce, é ácido, é picante e, quando nos apercebemos, já a nossa boca regozija com tanto sabor.



Terminámos as entradas com o Queijo de Nisa no Forno, uma luta de sabores fortes entre o queijo, o presunto e o mel de rosmaninho, com o óleo de trufa a querer também intrometer-se, desnecessariamente na minha opinião. Considero a utilização do óleo de trufa muito perigosa pela facilidade com que ofusca os restantes ingredientes do prato. Felizmente não aconteceu aqui mas apenas pelo facto de estar a lidar com ingredientes igualmente fortes. O queijo untuoso em conjunto com o presunto torna-se uma combinação verdadeira pecaminosa!



E passamos para os pratos principas e aquele que foi o melhor da noite, a divinal Moqueca de Corvina e Camarão! Duas estrelas no prato, cada uma a fazer brilhar mais a outra. Corvina num ponto perfeito, a tornar-se viciante pelo guloso que estava o caldo. De tal forma que, depois de tratar dos componentes sólidos do prato, pedi uma colher para poder terminar o prato como se de uma sopa se tratasse. Aliás, facilmente me imaginava a comer um prato que consistisse apenas de arroz embebido no caldo. Por preferência pessoal, acrescentava-lhe um pouco de picante mas admito que não precisou de uma gota sequer para ser um prato soberbo.



Apesar de estar num Cantinho do Avillez, e sabendo os padrões elevados que por cá se praticam, não estava à espera de gostar tanto do Risotto de Cogumelos Portobello! Já estava algo cheio, mas é um prato que adoro e acabei por limpar cada bago existente. Boa dose de parmesão, excelente caldo de cogumelos e algum manjericão para nos ir refrescando o palato. O óleo de trufa voltou a fazer uma das suas aparições, mas principalmente ao nível aromático, pois raramente se notou enquanto se comia o prato. Usado desta forma doseada, onde acrescenta ocasionalmente alguns laivos de sua graça, já me faz algum sentido.



Muito bom a Vitela de Comer à Colher com Molho de Caril, com uma conjugação de sabores surpreendente e muito menos pesado do que estava à espera. A bochecha de vitela, a desfazer-se ao toque, combinava na perfeição com o sedoso caril. Para ir cortando a riqueza do prato, cebola roxa e maçã conferiam alguma leveza e necessária frescura. Não utilizei colher no final por dois simples motivos: estava prestes a rebolar para fora da mesa e não sobrou tanto molho pois fazia questão de envolver bem cada pedaço de bochecha ou legume! Mais uma vez a questão do picante que lhe adicionaria, e que podia bem ter pedido, mas são apenas gostos pessoais.



No capítulo dos doces, uma das mais icónicas sobremesas de José Avillez, o Avelã3. E porquê a notação matemática? Porque é uma sobremesa de avelã em três diferentes texturas: gelado, mousse e ralada. Parece demasiado? Não é! Não se torna demasiado doce e ainda tem flor de sal no topo para intensificar algumas das colheradas que sofregamente damos no vaso. Ok, seria sofregamente se não estivesse tão cheio mas dêem-me esta sobremesa depois de uma refeição mais levezinha e vão ver o que acontece!



Para ajudar a empurrar o resto do licoroso Carcavelos Villa Oeiras, um refrescante Sorvete de Limão e Manjericão com Vodka. Não é algo surpreendente, ainda que a adição do manjericão seja uma combinação natural e não desaponte! De ressalvar que todos os gelados servidos no restaurante são Artisani.



O Cantinho do Avillez é daqueles restaurantes que divide opiniões, todas elas válidas. O preço pode parecer elevado, principalmente quando existe um prato na carta a custar quase 40€, mas a verdade é que, por exemplo, o melhor que comi nesta refeição (a Moqueca) custa 14€, o que acho mais do que justo para os sabores experimentados face também à consistência apresentada.
Eu disse no post anterior que não me iria alongar mas parece que é inevitável!

Cantinho do Avillez - Parque das Nações
Lisboa, Portugal
Cantinho do Avillez Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 40 €
Data da Visita: 23 de Julho 2018

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Cruel (Porto)

Ainda há pouco tempo lia um artigo sobre a "moda dos conceitos nos restaurantes" (aqui) e cheguei até a concordar com alguns pontos. Sim, nem tudo tem de ter um conceito (será isso um conceito em si??) ainda que por vezes ajude. E concordo a 100% que jantar fora é sempre um momento especial, "seja numa tasquinha da esquina seja num estrela Michelin".
Claro que também discordei de muita coisa. Não acho que comer seja um ato egoísta, ainda que seja pessoal. Aliás, como o autor do artigo diz "partilhamos momentos e conversas", o que me leva a crer que se o autor considera que o ato de comer é só ingerir comida, algo que discordo por me parecer demasiado levado à letra.
Como não acho que ir jantar fora e sentir-me em casa (expressão tão comummente utilizada para representar conforto) seja necessariamente uma coisa má. Diz o autor que ao irmos jantar fora "queremos sentir-nos num local especial", mas há algum local mais especial que a nossa casa? Enfim, voltemos ao que interessa...
O Cruel é um restaurante com um conceito muito vincado, e que é explicado logo que nos entregam as 3 ementas existentes, e que se reflectem este mesmo conceito. Podemos escolher de qualquer uma delas, ou das 3 ao mesmo tempo. Cada ementa reflecte o nível de experiência que pretendemos ter. Para aqueles que não gostam de sair da sua zona de conforto, a ementa Medrosa. Para os que gostam de experimentar coisas novas mas sem arriscar tudo, a Cautelosa. E, para os aventureiros que terem tirar o máximo partido da cozinha do restaurante, a Cruel. E, honestamente, num restaurante destes acho que a primeira visita deve ser feita exclusivamente desta vertente para podermos tirar o melhor partido possível da refeição, ainda que todas as 3 ementas tenham pratos muito apelativos.
Começámos a refeição com um Couvert simpático, com 2 tipos de pão, 3 boas manteigas e umas azeitonas temperadas muito boas.



O Cruel desde cedo despertou a minha curiosidade por um único motivo, o uso de uma flor no Carpaccio de Novilho com Flor Eléctrica. Mais especificamente, uma "flor eléctrica", ou Acmella Oleracea. Quem nos está a atender explica-nos que o objectivo é experimentar o carpaccio, comer a flor e continuar a degustação do carpaccio. Já agora, uma palavra para o óptimo serviço prestado que se mostrou bastante disponível e explicativo durante toda a refeição.



Depois de mastigada a flor durante alguns segundos, esta planta começa a tornar toda a nossa boca dormente, parecendo que temos vários micro choques pela língua. Este processo tem como objectivo abrir o paladar, e a verdade é que funciona. Aquele que é um bom carpaccio fica bastante melhor enquanto temos a boca dormente da flor. Sim, passei a maior parte do tempo a falar da flor, porque achei a experiência realmente diferente e engraçada, mas o carpaccio em si tem qualidade, especialmente na carne. Temos até a noção de que poderia estar mais temperado quando o experimentamos da primeira vez mas após comermos a flor essa noção desvanece-se.



Avançamos depois para o Novilho Crú(el) com Papadamus de Especiarias, um bife tártaro que vem acompanhado de um papadum excelente, e que ajuda o tártaro, não sendo só um mero substituto das típicas tostas que pouco acrescentam. Excelente a carne do tártaro também, mas parecendo sofrer do mesmo mal que o carpaccio. Mal esse que é remediado com mais um "truque", desta vez em formato líquido mas baseado na mesma planta, com um shot de jambu, que devemos bochechar durante algum tempo para ter um efeito parecido (mas não igual) ao da flor. 



Por muito bons que tenham sido os pratos anteriores, e foram, a verdade é que acabaram ofuscados pelo perfeito Risotto de Cogumelos em Alucinação. E quando digo perfeito, é mesmo perfeito! Não só a componente visual é fantástica, com o katsuobushi a parecer vivo quando chega à mesa, algo que já tinha visto também no Miss Jappa (aqui), e a acrescentar sabor a um já de si incrível risotto de cogumelos. Não é à toa que este foi um dos melhores pratos que comi em 2017 (aqui).



O momento mais fraco da refeição, que até nos deixou algo desiludidos por haver uma diferença tão grande com o até à altura experimentado, foi o Tiramisù de Lima em Coma Alcoólico. Parecia mais uma mousse de lima, com um nível alcoólico muito longe do coma e bastante próximo da sobriedade, com alguns palitos la reine. Uma boa mousse de lima, mas muito longe do que um tiramisù é!



Este momento menos bom não manchou em nada o que foi uma grande refeição. As reviews que se vêem por todo o lado são mais do que justificadas, o conceito é muito bom, o serviço acompanha e a comida é maravilhosa!

Cruel
Porto, Portugal
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Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 20 de Setembro 2017

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Happy Comida Caseira (Amadora)

É impressionante o dinamismo, mesmo que lento, que a zona da Amadora tem sentido. Não está a sentir um boom semelhante a Marvila, mas a verdade é que, aos poucos, abrem restaurantes bastante interessantes. Para além d'O Quintal (aqui) abriram, nos últimos anos, alguns espaços interessantes como o Maria Azeitona, Pimenta Malagueta, Lugar ao Sul ou este Happy Comida Caseira.
O nome remete-nos para comida de conforto e caseira mas a ementa não reflecte tanto esse conceito, acabando por ser um misto de petiscos com twists, algumas coisas em bolo do caco, outros pratos de influências maioritariamente portuguesas e carnes! Esta última secção foi a que mais me entusiasmou tendo em conta os cortes que apresentava face ao preços que pratica.
Lá se criou a oportunidade para uma visita de amigos, todos bons vivants e amantes de boa comida, com as expectativas algo elevadas face às reviews que já tinha lido. A primeira impressão não foi das melhores com a entrada no restaurante a fazer-se ao som daquelas campainhas das lojas dos chineses. É algo estranho apanhar este tipo de pormenores, mas sem dúvida é diferente e fica na memória, ainda que não ache muito agradável.
Queriamos experimentar um pouco de tudo e pedimos, para partilhar tudo, 3 petiscos, 1 prato e 1 corte de carne. O serviço parecia meio atrapalhado com algumas das perguntas que foram feitas enquanto escolhíamos mas lá foi respondendo. O próprio chef Pedro Moreira (que já passou pela Mercearia do Páteo Alfacinha) veio algumas vezes à mesa esclarecer dúvidas e receber feedback, o que demonstra o empenho neste seu projecto pessoal.
A lista de petiscos é bastante interessante e foi a que provocou mais dúvidas quanto ao que mandar vir mas começámos com uns Ovos Escangalhados com Chouriço de Porco Preto que fica ali entre uns Ovos Rotos e um Revuelto, mas com a adição de cogumelos. Ovos bem cozinhados, bom chouriço, bons cogumelos mas, por as gemas já virem demasiado "escangalhadas" acabam por não envolver as batatas tão bem, parecendo que estão ali um pouco à parte no prato.



Não sou um fã de sabores adocicados predominantes nos meus pratos salgados. Acho muito bem que existam componentes mais adocicados mas terão sempre que ser balanceados para não abafarem totalmente o prato. Ora, nas Espetadas de Frango Marinadas com Manteiga de Amendoim (um prato que imaginava parecido com um Chicken Satay), foi isso que acabei por sentir mas não por culpa da manteiga de amendoim. A adição de ananás acaba por tornar o sabor deste como predominante, abafando frango e manteiga de amendoim! Uma pena pois o frango está suculento e se se conseguisse trabalhar apenas com a doçura do amendoim poderia ter funcionado melhor.



O prémio para melhor prato da noite (e pior fotografia também) vai para os Secretos à Bulhão Pato. O nome saltou logo à vista, a ideia implantou curiosidade na mente de todos e não desiludiu. Bons secretos, bem temperados e cortados aos pedaços, mergulhados num molho apurado. Sabem qual é o melhor comprovativo para quando algo traz molho? Ninguém na mesa estar satisfeito enquanto houver uma gota do mesmo e pedindo pão suficiente para que tal não aconteça!



O Risotto de Cogumelos (Boletus, Pleurotus e Shiitake) a apresentar-se decente e com os sabores correctos. Só falhou, ligeiramente, o ponto de cozedura ligeiramente a mais do arroz e a cremosidade do mesmo.



Para a carne, optámos pelo Costeletão de Buey com Maionese de Mostarda de Dijon. Não vos posso dizer nada quanto à maionese de mostarda. Não provei... Não achei que fosse sequer necessária naquele belo pedaço de carne. Principalmente quando ele já vinha temperado com um bom molho de ervas (quase tipo chimichurri). Ok, seria justificável para as batatas mas estava de tal forma focado na carne que se me olvidou da mente. Destaque também para o ponto da carne, exactamente como pedido!



Ainda houve espaço para as sobremesas, que não têm uma ementa fixa e vão mudando consoante as vontades de quem as faz. Um Crème Brûlée um pouco consistente demais que não conquistou ninguém na mesa, ainda que seja de referir o facto da boa camada superior caramelizada.



Boa Mousse de Snickers, cremosa e doce qb. Talvez não a chamasse como Mousse de Snickers mas a verdade é que o nome foi chamativo o suficiente para ser a sobremesa que reuniu consenso na mesa na hora de pedir.



E um óptimo Bolo de Bolacha, feito com manteiga e nada daquelas tretas que se vê com natas. Muito bom, talvez apenas um pouco seco demais, mas nada de grave.



Felizmente a impressão final é muito melhor que a primeira e saímos deste espaço felizes (vá, podia ter feito o trocadilho cliché a dizer que tínhamos saído happy) e muito menos incomodados com o barulhinho da porta.

Happy Comida Caseira
Amadora, Portugal
Happy Comida Caseira Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 20 €
Data da Visita: 16 de Janeiro 2018