quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Quitanda (Paço de Arcos)

Sou orgulhosamente nascido e criado em Paço de Arcos, uma freguesia do concelho de Oeiras (sim, aquele do Isaltino!). Fui jogador de andebol do Clube Desportivo de Paço de Arcos, cujo pavilhão se encontra no bairro Jota Pimenta. Clube esse bastante conhecido pelo seu hóquei em patins, patinagem artística e também com alguma tradição na vela e outros desportos navais, existindo inclusive um Centro Náutico para o efeito.
Não, este artigo não é sobre mim, mas é para perceberem que Paço de Arcos (e seus arredores) são uma zona que me orgulho de dominar, principalmente na cena gastronómica. Até que fiquei boqueaberto quando ouvi dizer (no longínquo mês de Janeiro e na Time Out em Maio) que no Centro Náutico de Paço de Arcos, num restaurante chamado Quitanda, se comia algum do melhor peixe (de mar!) grelhado da região de Lisboa e, ainda por cima, a bons preços! Como é que eu nunca tinha ouvido falar disto? Ainda por cima, ao lado do supracitado pavilhão, onde tantos anos joguei, existe também um restaurante chamado Quitanda, cujas lembranças gastronómicas são nulas de tão pouco em conta o tínhamos. 
O espaço não tem nada de especial sem ser a localização. A vista da esplanada tem um gradeamento que quebra um pouco da sua beleza, melhorando um pouco quando subimos ao primeiro piso do restaurante. Pelo caminho, obrigatório mirar a montra de peixe, até porque é assim que a escolha é feita. Não vi qualquer ementa durante todo o período que lá estive, mas também não precisei. Sabia ao que vinha: peixe grelhado.
Antes do peixe, e por uma excelente recomendação do serviço, marchou uma travessa grande de boas Amêijoas à Bulhão Pato. Excelentes bivalves, grandes e carnudos, num guloso molho que fugia à tradicional receita pela adição de mostarda. Sei que a receita original do molho não é assim mas gostei bastante desta adição. Uma breve nota quanto ao serviço, do qual muito mal li, mas apanhei um bom dia, tendo testemunhado um serviço prestável e simpático em toda a refeição.


Mas a pièce de résitance foi o Robalo de Mar Grelhado, escolhido de uma montra invejável. 1,2Kg de peixe fantástico para duas pessoas, e este era dos peixes mais pequenos que lá havia! Do melhor que tenho comido ultimamente, ainda que prefira o peixe grelhado inteiro, em vez de escalado. Com muito esforço, pois um bicho daquele tamanho dava à vontade para três pessoas, não restou lasca de peixe. O Peixe do mar, cujo proprietário do restaurante, o Sr. Manuel, vai pessoalmente a várias lotas comprá-lo, não é um produto propriamente barato mas ainda assim considero que 35€/kg num robalo daquela qualidade é um preço muito justo e que não se encontra em muitos locais.


Continuo sem sentir muita curiosidade pelo Quitanda que se situa próximo do pavilhão, mas este tornou-se um dos meus novos locais favoritos quando quiser bom peixe grelhado e a bons preços!

Quitanda
Paço de Arcos, Portugal
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 17 de Agosto 2018

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Boa-Bao (Chiado)

Uma refeição no Boa-Bao, um dos mais recentes e mediáticos restaurantes asiáticos, começa com um convite. Somos convidados a ser aventurosos e atirarmo-nos de cabeça para uma viagem por parte da Ásia e sua gastronomia, não esquecendo alguns cocktails também bastante aventurosos. E este foi o primeiro aspecto que me impressionou, as ementas. Bem construídas, captivantes antes sequer de serem abertas e que nos fazem querer mergulhar totalmente nesta aventura.


Bem, quero fazer um pequeno disclaimer e avisá-los que esta aventura não acaba na primeira visita. O Boa-Bao é daqueles restaurantes que saímos a pensar no que vamos comer quando voltarmos (a ideia original desta frase não é minha mas partilho do sentimento). Porque sabemos que vamos querer voltar mal abrimos a ementa e vemos a sua extensão e a quantidade de propostas interessantes que lá se encontram. Vamos reconhecendo países à medida que passamos pelas 38 (a Ásia não é um continente pequeno!) descrições diferentes: China, Japão, Tailândia, Indía, Coreia, Malásia ou Vietnam. E aqui deparamo-nos com a primeira grande dificuldade do Boa-Bao... O que escolher?


Acreditem que não é fácil e foi um processo moroso. Processo esse que foi iniciado sem mim pois alguns dos comensais decidiram começar a comer qualquer coisa, uns Crepes Primavera de Pato à Pequim, enquanto esperavam que chegasse. Eles eram dois, os crepes eram cinco e nem um deixaram para que pudesse provar! Miseráveis, diria eu...
Mas passando isso à frente, tenho de começar por confessar que nem todas as escolhas foram difíceis. Os meus olhos fixaram-se no cocktail de nome Khi Khi Phô. Porquê? Porque para além do whisky Monkey Shoulder, do xerez Pedro Ximénez ou dos bitters (o que quer que isso fosse), este cocktail tinha caldo do phô!! Sim, aquela sopa vietnamita com um caldo feito à base de ossos de vaca! Num cocktail! O meu ar de espanto ao ler a descrição só foi ultrapassado pelo ar que fiz quando me apercebi quão bom era.


Atacámos a seguir uns óptimos Gua Bao Clássicos de Barriga de Porco com Hoisin e Pickles de Vegetais. O pão destes snacks chineses (até começar a escrever este artigo pensei que eram um tipo de street food japonesa mas a sua origem é, na verdade, chinesa), cozido a vapor, bastante macio e a segurar na perfeição uma pequena fatia de barriga de porco perfeitamente caramelizada e envolvida num completo molho, que nos ia despertando as várias papilas gustativas.


Menos fantástico, ainda que bem acompanhados por um excelente molho Sweet-Chilli, o Sortido de Dim Sum Vegetariano. Massa consistentemente bem cozinhada mas com recheios que me pareceram pouco intensos e a precisar de mais sabor.


Ainda que fosse uma quente noite de Agosto, a escolha de 75% da mesa recaiu sobre sopas. Mas não se deixem cair no engano de pensar que vão só "comer uma sopinha" e que saem de lá com fome! Amigos, estamos a falar de tigelas tamanho XXL, recheadas com massa, carne, algumas verduras e caldos aromáticos e equilibrados. 
A minha escolha recaiu sobre o Tom Yam Kung, uma sopa tailandesa picante com (entre muitas outras coisas que não reconheci, como é lógico) camarão, noodles de arroz, aquilo que me pareceram folhas de lima kaffir e gengibre. Muito gengibre. Ao ponto de me fazer questionar se não seria demais, provar outra colher e achar que sim, que talvez estivesse a ser demasiado. Ainda assim, bons sabores com particular relevância da acidez e do picante. Pontos negativos para os camarões virem com cauda, num prato que se come de hashi e colher, o excesso de gengibre (que a meio comecei a tirar da tigela porque se estava a começar a tornar desagradável) e o excesso de folhas de lima kaffir, que não me pareceram muito comestíveis.


Provei ainda a Sopa Cantonesa de Wontons com Noodles de Ovo e Porco e a Sopa Szechuan de Wontons com Noodles de Ovo e Pato. Muito parecidas mas com a diferença principal a estar no caldo mais intenso da província de Szechuan.

Sopa Szechuan de Wontons com Noodles de Ovo e Pato
Sopa Cantonesa de Wontons com Noodles de Ovo e Porco
Vergonhosamente, e por estar cansado do sabor a gengibre, não terminei a minha sopa mas deixei espaço para provar as sobremesas. 
Simpática Mousse de Chocolate com Gengibre, ainda que o meu espírito estivesse já cansado deste último, com uma boa textura e onde a combinação dos dois elementos funciona surpreendentemente bem.


E um Crème Brûlée de Côco com Manjericão e Erva Príncipe que estava excelente! Bastante discreto tanto o côco como a erva príncipe mas com o manjericão a sobressair e a trazer notas refrescantes ao palato. Uma combinação extremamente improvável mas que deslumbrou, num leite creme já de si tecnicamente bem executado, com aquela tão característica camada de açúcar perfeitamente caramelizado.


Saí do Boa-Bao a pensar no que comer quando voltasse, não porque tivesse ficado completamente maravilhado por tudo o que experimentei, mas porque achei que o restaurante tem um potencial enorme que quero explorar e porque a maior parte do que experimentei estava num nível muito bom. E pela dúzia de pratos que me ficaram na retina, claro...

Boa-Bao
Lisboa, Portugal
Boa-Bao Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 40 €
Data da Visita: 16 de Agosto 2018

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Sabores da Praça (Grândola)

Mais uma viagem, mais uma paragem gastronómica à procura de conhecer novos restaurantes e ser surpreendido. Infelizmente desta vez as coisas não correram bem. A ideia inicial era jantar no Taberna d'Vila mas não conseguindo arranjar mesa, dirigi-me a outro restaurante que tinha referenciado (e que estava aberto a um domingo à noite).
Foi assim que fui ter ao Sabores da Praça, um restaurante com um nome que me invoca imagens de pratos da terra, com produtos comprados na praça, ou não estivesse o próprio restaurante introduzido no edifício do Mercado Municipal. Mas quando abro a ementa deparo-me com alguns petiscos, pratos de massa, hambúrgueres, um prato de peixe e várias opções carnívoras. Ou seja, não era bem aquilo que tinha em mente e as opções presentes pareceram-me muito pouco regionais, o que foge um pouco ao que procurava.
E não foi só aqui que os nomes não bateram certo com a imagem mental que criei. Os Cogumelos Salteados com Chouriço não eram apenas salteados! Imaginei cogumelos salteados em azeite e alho com chouriço. E, imagino, que o prato tenha passado por esse processo mas depois adicionaram-lhe um molho que não achei que acrescentasse assim tanto valor. Ainda lá molhei pão a ver se percebia a adição mas, mesmo assim, nada que tenha feito as minhas papilas gustativas saltitar. O que até é de estranhar, pela utilização de chouriço, mas este também não tinha assim tanto sabor.


A seguir ataquei o Choco Frito com Arroz de Lingueirão, mas correu ainda pior que a entrada. Começando pelo menos mau, o arroz. A nível de sabor estava lá, mas o lingueirão estava duro. E não foi a única coisa com uma textura estranha, já que o choco estava bastante borrachoso. A fritura também não estava consistente e tinha um molho de azeite e limão, que não sabia a limão, e que acrescentava gordura a uma coisa já de si frita... Não me fez sentido e não acho que seja uma combinação feliz. A ideia não era terrível mas a concretização falhou.


Estava de tal forma triste com a refeição que não me apeteceu sequer espreitar as sobremesas. Estava algo desconsolado com a má escolha, mas este é o risco de querer conhecer novos locais. Nem sempre vamos acertar...

Sabores da Praça
Grândola, Portugal
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 12 de Agosto 2018

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Fialho (Tavira)

O Algarve é conhecido pela sua gastronomia virada para o mar, principalmente em preparações simples e que deixam o produto brilhar. Podemos encontrar restaurantes deste género um pouco por todo o lado mas, perto de Tavira, sempre tinha lido bastante sobre o Fialho, um dos restaurantes com melhor produto e melhor relação qualidade-preço. Não estamos no domínio das marisqueiras fancy, mas sim num típico restaurante algarvio, quase uma cabana à beira estrada, com um aspecto clássico de tasco.
Iniciámos hostilidades com umas boas Amêijoas à Bulhão Pato, ainda que o molho pudesse estar um pouco mais apurado, mas cumpriu na mesma os requisitos mínimos.


Atirámo-nos depois a umas Ovas de Choco, um petisco nunca antes experimentado por este vosso entusiasta, mas do qual fiquei fã. Encontra-se muitas vezes frito, mas aqui surpreendeu os comensais presentes ao aparecerem numa banheira de escaldante azeite aromatizado com alho e salsa. Não sabia bem o que esperar, mas fiquei rendido, tanto às ovas em si como ao azeite aromatizado onde cheguei a mergulhar pão diversas vezes.


Um dos ex-libris da casa é o Arroz de Lingueirão, que chega à mesa numa dose que dá para 3 pessoas. Infelizmente não achei que estivesse à altura de outros locais onde este icónico prato é servido. Para além do picante, que é uma preferência pessoal neste tipo de pratos, faltava-lhe algum sal e um melhor rácio na proporção entre arroz e bivalve. Pela positiva, arroz bem cozinhado, bastante caldoso e a gigantesca dose.


Encaro atum como se de carne se tratasse e, como tal, peço-o sempre mal passado. Infelizmente isso não aconteceu aqui com a Barriga de Atum. Boa qualidade da barriga, não tendo secado mesmo estando bem passada, mas acho que perde bastante ao ser servida assim.


Terminámos com uma Torta de Laranja com muito pouco sabor, mas de textura correcta. Numa região tão famosa pelas suas laranjas, seria de esperar que as tortas de laranja tivessem sempre bastante sabor.


Uma refeição com alguns altos e baixos mas não achei que justificasse a fama que tem. Tirando as ovas de choco, tudo o resto podia ser melhor e os pratos principais falharam em pormenores essenciais.

Fialho
EM 1339, 1090E - Luz de Tavira
Tavira, Portugal
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 12 de Agosto 2018

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Taberna 2 à Esquina (Alcácer do Sal)

Mais uma viagem A2 fora, mais uma paragem a meio caminho para se ir descobrindo restaurantes que, não fosse estas ocasiões, ficariam eternamente na minha longa lista. Ainda que vá fazendo estas viagens, parece que as hipóteses são sempre tantas e a dificuldade é escolher.
Claro que existem alguns casos que acabam por ser recorrentes, já falei d'O Cruzamento (aqui), mas a vontade de experimentar locais novos é grande e irresistível. Excepto se quiser mostrar a grandiosidade do já supramencionado, mas isso são outras histórias.
Fiquei na esplanada mas um breve olhar para o interior do restaurante chegou para reparar em toques do antigamente, que conferiam à casa alguma autenticidade, algo que se reflectiou no primeiro olhar lançado sobre a ementa. Duas pequenas molduras, maioritariamente com pratos para dividir, mas uma com pratos portugueses e outra mais tipicamente alentejana. Nada fácil a escolha do que comer, com muita coisa apelativa e apenas 1 estômago. 
Enquanto tomava a difícil decisão, na qual fui bastante bem ajudado pelo fantástico serviço prestado, trouxeram-me um óptimo queijo amanteigado, que devorei sozinho acompanhado de bom pão e boas azeitonas.


As hostilidades seguiram com uma Sopinha de Tomate maravilhosa, com todos os intensos sabores a que estamos habituados. Tomate, cebola, pimentos, pão, chouriço e lardo, num caldo aromático com hortelã, oregãos e talvez algo mais. Mas havia um bónus, que deu um excelente toque à sopa, ajudando a cortar toda a sua riqueza... figos! Único ponto a melhorar, o ponto do ovo escalfado que é servido, que se apresentou com a gema totalmente cozida.


Depois da sopa quente, talvez não a minha escolha mais inteligente do dia mas tenho saudades do Hortelã da Ribeira (que me disseram ter fechado) e onde comia sempre a Sopa de Tomate, chegou um Coelho à São Cristóvão, um prato de coelho desfiado assado, temperado com azeite, alho, vinagre e coentros e servido tépido. Os temperos fortes não se sobrepuseram ao sabor do coelho, mas deram-lhe alento e vida. Já tinha experimentado este prato aquando a visita do Luar de Janeiro ao Porto, num evento Mesas Bohemias de que (talvez) falarei no futuro, e mais uma vez não desiludiu. Excelente prato para tempos mais quentes.


Único ponto da refeição que não me satisfez por aí além foi a sobremesa, a anos luz da qualidade dos outros pratos. Uma Tarte de Requeijão e Doce de Abóbora, com pouca intensidade tanto no seu recheio como no seu topping, e um fundo completamente queimado.


Ainda que com uma sobremesa aquém do expectável, pela qualidade apresentada até então, saio do Taberna 2 à Esquina com uma impressão muito positiva. As doses são realmente de partilha, pois só o facto de ser um alarve permitiu que ingerisse tudo isto sozinho, e os sabores típicos estão lá, fazendo desta casa uma nova referência para quem gosta destes pequenos desvios gastronómicos.

Taberna 2 à Esquina
Alcácer do Sal, Portugal
Preço Médio: < 20 €
Data da Visita: 10 de Agosto 2018

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Noélia (Cabanas de Tavira)

Este é um dos restaurantes que menos apresentações necessita, certo? Todos já devemos ter, algures no tempo, ouvido falar da famosa Noélia, que gere um restaurante perto de Tavira, que origina verdadeiras romarias, que trabalha os produtos locais como poucos, que origina orgasmos gastronómicos e que é o melhor restaurante do mundo (!!), segundo o Miguel Esteves Cardoso (aqui).
Pois é, todos os anos saem verdadeiras odes de amor à Noélia e não é por menos. A sua comida, principalmente quando nos focamos nas Sugestões do Dia, é refrescante, é inovadora e, principalmente, é plena de sabor. 
Isto para não falar no amor de pessoa que a mesma é. Tive oportunidade de falar um pouco com ela no final do jantar do Mesas Bohemias e fiquei rendido não só à sua cozinha como à sua pessoa. O carinho com que falava dos "seus míudos", que com ela partilham a cozinha, mede-se no tom de voz.
O único apontamento que tenho a fazer é o facto de não me terem permitido fazer um dos menus de degustação que, na altura, ainda se encontravam no menu (disseram-me que seria retirado entretanto). Queria deixar-me ficar nas mãos da Noélia, pois ela sabe levar-nos na sua cozinha tão familiar e, ao mesmo tempo, tão inovadora.
No último ano fiz 3 refeições na Noélia (duas no seu restaurante, em Cabanas de Tavira, e uma no Mesas Bohemias, em Lisboa) e, ainda que nem todos os pratos tenham deslumbrado, saio sempre com a impressão que quero voltar rapidamente e saber o que de novo a Noélia vai cozinhar. Mas não é só nas inovações que a Noélia se destaca, pois também no tradicional se destaca. Nem tudo do que aqui consta foi perfeito mas, independentemente disso, é daqueles restaurantes obrigatórios e que valem a viagem propositada.
Pudesse eu e estaria lá mensalmente, pois ela é uma mulher que trabalha o que o mar e a terra lhe dão, funcionando até com algumas micro-estações. 
Não vou descrever os pratos. Não vale a pena. Nunca iriam fazer jus ao sabor que tinham. Quero apenas deixar-vos com uma nota. As imagens que vão ver a seguir podem causar elevadas doses de saliva, não sendo recomendadas a quem estiver com muita fome.

Ceviche de Dourada do mar
Canja de Amêijoas
Polvo Frito com Batata Doce
Filetes de Peixe-Galo Frito com Arroz de Coentros
Raia Alhada
Arroz de Ostras "Moinho dos Ilhéus" com espumante Sidónio de Sousa
Arroz Negro de Lulas em 3 Texturas
Mousse de Limão Merengada
Mousse de Chocolate
Bolo de Laranja, Amêndoa e Gila
Polvo Trapalhão com Batata Doce
Açorda de Galinha Serrana
Tarte de Alfarroba e Pudim de Laranja do Algarve com Amêndoa
Pil-Pil de Línguas de Bacalhau
Arroz de Limão com Garoupa e Amêijoas
Tarte de Alfarroba, Amêndoa e Gila
Tapas de Muxama de Atum
Único problema? Estar cheio nesta altura de Verão, seja a que hora do dia for! Tentem reservar ou, conselho pessoal, vão fora da altura de férias para poderem aproveitar uma refeição mais tranquila.

Noélia
Tavira, Portugal
Preço Médio: < 30 €
Data da Última Visita: 17 de Março 2018

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Altântico by Miguel Laffan (Estoril)

O nome de Miguel Laffan pode parecer estranho aos mais distraídos, mas este tem sido um dos chefs portugueses mais reconhecidos na cena gastronómica portuguesa recente, muito devido ao seu trabalho no L'And Vineyards, em Montemor-o-Novo, onde ganhou uma estrela Michelin, perdeu-a, e depois conseguiu recuperá-la.
Entretanto parece que têm sido uns últimos tempos ocupados para o chef, que abriu recentemente O Ato, em Lisboa, e deu nova vida ao Atlântico, o restaurante do Hotel Intercontinental Estoril. Restaurante esse do qual já tinha ouvido falar bem nos últimos anos mas confesso que a chegada de Miguel Laffan, que estava presente nesse dia, me suscitou ainda mais curiosidade. Dada a posição que tem, nada como aproveitar um final de tarde veranil para ir conhecer a sua fantástica esplanada e deslumbrante vista.
Excelente serviço ao longo de toda a refeição, perfeitamente encaixado no posicionamente que o restaurante pretende atingir, que mal nos sentou sugeriu uns refrescantes cocktails para iniciar a refeição. Sim, eu sei que estão a vender e a impingir-nos bebidas que poderiam ser necessárias, mas num dos dias mais quentes do ano, um cocktail fresco enquanto admirava o esplendoroso mar que banha a Linha de Cascais soube-me maravilhosamente.


Bom couvert (que infelizmente se escapou ao registo fotográfico), com 3 tipos de pão à escolha, com especial destaque para o pão integral, azeite transmontano e uma manteiga francesa (não perguntei qual a diferença entre uma manteiga francesa e qualquer outra) simples mas extremamente viciante. Pão e manteiga, um casamento perfeito.
Chegou também uma oferta da casa, no formato de um clássico Pastel de Bacalhau de excelente fritura, boa proporção entre batata e fiel amigo mas onde senti faltar um pouco de sal.


A cozinha do Atlântico é, logicamente, muito virada para os produtos marítimos, o que fazia um match perfeito com os nossos apetites nesse dia. As Vieiras, Cogumelos Selvagens e Sabayon Trufado entusiasmaram da primeira à última garfada. 3 camadas distintas, cada uma com um sabor muito próprio mas que se complementavam na perfeição. Em baixo, o Sabayon trufado, a lembrar um brás, com vieiras, cogumelos e óleo de trufa. Não sou um fã do mesmo, pela facilidade com que se torna um elemento dominador em qualquer prato em que toque. Aqui estava mesmo nesse limiar, mas revelou-se acrescentar uma camada de sabor à existente, sem abafar completamente os restantes. Óptima telha de tinta de choco, a dar um ligeiro salgado ao conjunto e, por cima, uma vieira perfeitamente cozinhada com espuma de amêndoa (o elemento menos diferenciador em todo o prato).
Único problema? Ter acabado!


Chegamos aos pratos principais e mantemos o registo marinho, com um aparentemente simples (mas fantástico) Atum dos Açores com Molho de Soja e Gengibre. O atum braseado, num perfeito tom avermelhado mas que eu, pessoalmente, até cozinharia menos, a ligar muito bem com um molho entre o salgado e o ácido. Acompanhou com uns legumes salteados mas que mais pareciam cozidos a vapor. Nada contra, pois apresentavam um sabor bastante natural, em particular as ervilhas quebradas.


Se não tinha nada contra o acompanhamento do atum, não deveria ter nada contra o acompanhamento do Pregado com Molho de Caril e Manjericão, pois era o mesmo. Aqui a questão prendeu-se com a escolha de talheres para o efeito, visto que os legumes estavam algo encruados, o que não dá jeito nenhum quando se tem uma faca de peixe na mão. Tirando isso, prato bastante aromático, peixe cozinhado na perfeição e o molho a conjugar-se lindamente, sem ofuscar o sabor do peixe.


Acabámos a refeição em beleza, com um Crème Brûlée de Maracujá onde a doçura contrabalançava bem com a acidez do maracujá e tudo era coberto por uma fina e estaladiça crosta. Os elementos externos, maioritariamente doces, ajudaram a dar novas notas ao palato tanto pelo exotismo dos frutos tropicais como bela doçura excessiva do suspiro.


Uma óptima refeição, num restaurante bonito, com bom serviço, uma vista de outro mundo e excelente comida. Fica a eterna questão do valor final da conta, quando os pratos principais rondam os 30€, mas é difícil encontrar contextos com esta comida, espaço e vista e pagar meia dúzia de tostões.
Mas, como bónus, o restaurante tem Zomato Gold! O que significa que, com uma refeição no Atlântico, conseguimos poupar o valor equivalente a uma subscrição de 12 meses, se usarem o código DEVANE (que vos dá 25% de desconto)! Estão à espera de quê?

Atlântico
Estoril, Portugal
Atlântico - Bar e Restaurante Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 60 €
Data da Visita: 2 de Agosto 2018

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Pereira (Cascais)

Algumas pessoas que não me conhecem, mas sabem que tenho um blog onde mando umas postas de pescada (às quais elegantemente chamei devaneios) sobre restaurantes, podem pensar que só frequento restaurantes da moda, de comida étnica, caros ou gourmet (que traduzem para "caro e passamos fome", pela desvirtualização que a expressão sofreu nos anos mais recentes e que me causa uma certa irritação quando mal usada, mas continuarei a tentar explicar às pessoas que isso é uma ideia completamente errada).
Isto não é inteiramente falso, confesso, mas também anda longe da verdade absoluta. Gosto de equilibrar as experiências, provar coisas novas de espectros variados e, principalmente, experimentar restaurantes novos, sejam eles de que tipo forem, desde que se coma bem! É até mais recorrente, nos dias de hoje, eu ter apetites de boa comida portuguesa. Daqueles restaurantes, que carinhosamente apelidamos tascos, onde nos servimos de generosas porções directamente do tacho de metal, de comida saborosa mas pouco instagramável (tentem tirar uma foto bonita a uma cabidela, feijoada, favas ou coisas do género, desafio-vos!). Disse-o no outro dia no Instagram (aqui - para quem quer saber por onde ando, não vá acontecer outro hiato de escrita, sigam todas as novidades no Instagram) e não me importo de o repetir. Adoro tascos!
Por adorar tascos, a sua comida honesta, o seu serviço familiar e os seus preços (tipicamente) baixos é que considerei o Pereira o sítio ideal para matar este apetite. Decidimos iniciar as hostilidades com uns belíssimos Carapauzinhos Fritos com Açorda, ainda que pudessem ser de dimensões mais criminosas. Ainda assim, fritos o suficiente para se comer da cauda à cabeça, não deixando literalmente nada como amostra. Boa açorda para acompanhar, bem puxada ao alho, mas talvez um pouco líquida demais.


Quando almocei no Prado, estava a comentar com um amigo que trabalha na área o quanto gosto de comida portuguesa de tacho, e como um dos pratos que experimentámos me enchia todas as medidas (falei sobre isso aqui). Ainda hoje salivo só de pensar naquele estufado de Barrosã com Ovo e Creme de Couve-Flor! E era essa comida de tacho que me apetecia e me fez ir até ao Pereira. Mais precisamente o Arroz de Cabidela, do qual já tinha ouvido falar maravilhosamente. E que maravilhoso estava, de facto. 
Dose generosa, com um rácio desequilibrado entre arroz e galinha (para o lado do arroz, e ainda bem!) e aquela gulosice vinagreira que considero essencial em qualquer cabidela. Porquê o facto de gostar da maior existência de arroz face à proteína? Porque sou um viciado em arroz e não me importo nada de encher o prato (pela terceira vez) e só ter aqueles deliciosos bagos, perfeitamente cozinhados e plenos de sabor.


Uma refeição muito boa, que me renova a paixão pela gastronomia portuguesa. Por pratos destes é que continuo convencido que temos a melhor comida do mundo. O que me apaixona é descobrir mais locais, por todo o país, que honrem a gastronomia portuguesa e que a ajudem a divulgar pelo mundo fora.

Pereira
Cascais, Portugal
O Pereira Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 20 €
Data da Visita: 17 de Abril 2018