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domingo, 29 de julho de 2018

Cantinho do Avillez (Parque das Nações)

José Avillez dispensa qualquer tipo de apresentações. Ele é, sem dúvida, o chef mais mediático em Portugal, Rei do Chiado e Arredores, faltando-lhe apenas partir para d'Aquém e d'Além Mar, detentor de um Império invejável mas, tal como D. Afonso Henriques e respectiva descendência, isso não era suficiente e está agora a conquistar o resto do país, um restaurante de cada vez!
Bem, deixemo-nos de história porque essa é sobejamente conhecida e foquemo-nos no presente! Abriu há cerca de dois meses o terceiro Cantinho do Avillez, no Parque das Nações, numa rua que se está a revitalizar e apresenta já várias propostas muito interessantes como o Cantinho ou o Old House.



Este será já o quarto restaurante do Império que visito (quase que poderiam considerar fazer uma espécie de passaporte e ia-se levando carimbos dos vários locais), depois do Mini Bar (aqui), Belcanto (aqui) e Pitaria (a falar num futuro "próximo). Claro que José Avillez não pode estar em todo o lado ao mesmo tempo e confiou a chefia deste seu novo Cantinho ao chef João Novo, que já está no grupo Avillez há 5 anos, com passagens pelo Take-Away de Cascais (já fechado), Cantinho do Chiado e Belcanto, mais recentemente. E ficou bastante bem entregue, diga-se de passagem!
Iniciámos com um Gaspacho de Cerejas do Fundão com Presunto, Ovo Cozido e Croutons, um prato fresco e muito bom para o tempo quente que tarda em vir. Era desejável um sabor mais intenso a cereja, para que se tornasse mais diferenciador e pudesse andar mais a par com o salgado do presunto e a acidez natural de gaspacho. Se não me tivessem dito, não saberia que havia cerejas no gaspacho.



O Tártaro de Atum com Sabores Asiáticos é fantástico. Nota-se a qualidade do produto, muito pelo corte que deixa perceber a textura do mesmo, com o tempero picante a tentar desequilibrar o prato, mas a maionese de miso acaba por ajudar a conjugar tudo, dando-nos, ainda assim, pequenas pontadas de intensidade. Para adicionar mais uma camada de textura, é engraçado a utilização de pequenas esferas de arroz tufado (masago arare).



A carta está bastante bem construída. Podemos fazer uma refeição a puxar mais para sabores fortes ou mais para sabores delicados, bem como para pratos mais frescos ou pratos mais quentes! Todo este lero lero para dizer que gostei da frescura e delicadeza do Ceviche de Vieiras, Batata-Doce e Abacate, percebendo a opção por cortar naquela acidez típica do leche de tigre de forma a não ofuscar a vieira. Foge um pouco aos típicos ceviches que estamos habituados mas, ainda assim, mesmo não puxando pela acidez, com o risco de cozinhar a vieira e tirar-lhe protagonismo, puxaria um pouco mais pelo chili.



Por falar em expectativas, os Tacos Al Pastor foram a primeira grande surpresa da noite! Um prato que, muito provavelmente, não iria pedir mas que me deixou a salivar e a pedir por mais. Passei de "não pediria" para "fazia disto o jantar" facilmente. Sabores pujantes mas equilibrados, que nos despertam todo o interior da boca e nos fazem abrir os olhos tentando perceber de onde saiu tudo aquilo. É salgado, é doce, é ácido, é picante e, quando nos apercebemos, já a nossa boca regozija com tanto sabor.



Terminámos as entradas com o Queijo de Nisa no Forno, uma luta de sabores fortes entre o queijo, o presunto e o mel de rosmaninho, com o óleo de trufa a querer também intrometer-se, desnecessariamente na minha opinião. Considero a utilização do óleo de trufa muito perigosa pela facilidade com que ofusca os restantes ingredientes do prato. Felizmente não aconteceu aqui mas apenas pelo facto de estar a lidar com ingredientes igualmente fortes. O queijo untuoso em conjunto com o presunto torna-se uma combinação verdadeira pecaminosa!



E passamos para os pratos principas e aquele que foi o melhor da noite, a divinal Moqueca de Corvina e Camarão! Duas estrelas no prato, cada uma a fazer brilhar mais a outra. Corvina num ponto perfeito, a tornar-se viciante pelo guloso que estava o caldo. De tal forma que, depois de tratar dos componentes sólidos do prato, pedi uma colher para poder terminar o prato como se de uma sopa se tratasse. Aliás, facilmente me imaginava a comer um prato que consistisse apenas de arroz embebido no caldo. Por preferência pessoal, acrescentava-lhe um pouco de picante mas admito que não precisou de uma gota sequer para ser um prato soberbo.



Apesar de estar num Cantinho do Avillez, e sabendo os padrões elevados que por cá se praticam, não estava à espera de gostar tanto do Risotto de Cogumelos Portobello! Já estava algo cheio, mas é um prato que adoro e acabei por limpar cada bago existente. Boa dose de parmesão, excelente caldo de cogumelos e algum manjericão para nos ir refrescando o palato. O óleo de trufa voltou a fazer uma das suas aparições, mas principalmente ao nível aromático, pois raramente se notou enquanto se comia o prato. Usado desta forma doseada, onde acrescenta ocasionalmente alguns laivos de sua graça, já me faz algum sentido.



Muito bom a Vitela de Comer à Colher com Molho de Caril, com uma conjugação de sabores surpreendente e muito menos pesado do que estava à espera. A bochecha de vitela, a desfazer-se ao toque, combinava na perfeição com o sedoso caril. Para ir cortando a riqueza do prato, cebola roxa e maçã conferiam alguma leveza e necessária frescura. Não utilizei colher no final por dois simples motivos: estava prestes a rebolar para fora da mesa e não sobrou tanto molho pois fazia questão de envolver bem cada pedaço de bochecha ou legume! Mais uma vez a questão do picante que lhe adicionaria, e que podia bem ter pedido, mas são apenas gostos pessoais.



No capítulo dos doces, uma das mais icónicas sobremesas de José Avillez, o Avelã3. E porquê a notação matemática? Porque é uma sobremesa de avelã em três diferentes texturas: gelado, mousse e ralada. Parece demasiado? Não é! Não se torna demasiado doce e ainda tem flor de sal no topo para intensificar algumas das colheradas que sofregamente damos no vaso. Ok, seria sofregamente se não estivesse tão cheio mas dêem-me esta sobremesa depois de uma refeição mais levezinha e vão ver o que acontece!



Para ajudar a empurrar o resto do licoroso Carcavelos Villa Oeiras, um refrescante Sorvete de Limão e Manjericão com Vodka. Não é algo surpreendente, ainda que a adição do manjericão seja uma combinação natural e não desaponte! De ressalvar que todos os gelados servidos no restaurante são Artisani.



O Cantinho do Avillez é daqueles restaurantes que divide opiniões, todas elas válidas. O preço pode parecer elevado, principalmente quando existe um prato na carta a custar quase 40€, mas a verdade é que, por exemplo, o melhor que comi nesta refeição (a Moqueca) custa 14€, o que acho mais do que justo para os sabores experimentados face também à consistência apresentada.
Eu disse no post anterior que não me iria alongar mas parece que é inevitável!

Cantinho do Avillez - Parque das Nações
Lisboa, Portugal
Cantinho do Avillez Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 40 €
Data da Visita: 23 de Julho 2018

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Pistola Y Corazón (Cais do Sodré)

Já existiam em Lisboa alguns restaurantes mexicanos mas nunca um espaço exclusivo para um dos pratos mais icónicos deste país, os tacos. Um encontro fortuito num supermercado juntou Aaron e César, os cabecilhas deste projecto, naquilo que se viria a tornar a primeira taqueria portuguesa, o Pistola Y Corazón.
Tem sido um caso de sucesso, com filas constantes à porta e uma interminável lista de nomes no papel que serve para definir a lista de espera por uma mesa. Já mencionei que não aceitam reservas e por isso esta é a única alternativa para se conseguir jantar no Pistola Y Corazón? E é aqui que começam os meus problemas. Não sou um fã desta incerteza temporal para jantar. E o espaço interior de espera não é muito grande, por isso o esforço para podermos experimentar este conceito dependerá também das condições climatéricas. O facto de nos sentarmos de braços dados com estranhos incomoda-me pouco, excepto claro quando se opta por bancos corridos onde, uma pessoa de peso como eu, quase pontapeia violentamente a inocente rapariga que se encontrava sentada a meu lado. E eu não estava zangado, nem a imitar algum ritual de acasalamento esquisito do National Geographic, nem nada que se parecesse. Apenas tinha terminado a minha refeição e tentava graciosamente (quem me conhece sabe o quão "gracioso" sou, até parece que fiz ballet) sair do meu lugar. A isto junta-se um restaurante pequeno e cheio, criando um nível de ruído superior ao que normalmente aprecio quando quero jantar sossegadamente. Resumindo, não sou um fã de algumas coisas no espaço, do tempo de espera e do ambiente barulhento. Mas fiquei fã de tudo o resto.


O tempo de espera não foi completamente inútil, pois deu para avaliar a ementa, entrar em contacto com uma amiga mexicana e pedir-lhe conselhos quanto ao que pedir. Não que a lista seja muito extensa, mas o menu que está à porta encontra-se em espanhol e achámos que possíveis recomendações que atravessassem o Atlântico naquele momento seriam extremamente úteis. Tão úteis que quando finalmente nos sentámos não precisámos de olhar para a ementa para pedir.
A refeição começa com uns Nachos con Pico de Gallo (talvez fossem totopos, uma variante dos nachos, mas não sou capaz de os distinguir), oferta da casa, que servem como couvert e acompanham bastante bem com a cerveja Pacifico, uma das ofertas de cerveja mexicana disponível na carta (e que, segundo o que nos disse a cúmplice mexicana, difícil de arranjar em zonas afastadas do oceano com o mesmo nome). Bons nachos e um pico de gallo refrescante, com algumas notas de picante interessantes.



Todos os pratos chegaram à mesa com um bom timing, não enchendo o pouco espaço disponível, e foram sempre aconchegados por um serviço que se mostrou extremamente simpático e descontraído. Talvez uma explicação quanto aos molhos que vêm com cada prato (visto que na ementa estão vários molhos descriminados) fosse adequada, tal como uma melhor distribuição dos molhos já presentes nas mesas, para que não tenhamos que incomodar ninguém ao pedir um dos três molhos disponíveis.
E, quando estávamos a terminar os nachos, chegaram as Quesadillas, ou seja, meia-luas de tortilla recheadas com queijo e prensadas. O mote do Pistola Y Corazón é "Comida Sin Verguenza", e todos os pratos são feitos para poderem ser comidos à mão. E se as quesadillas são fáceis de comer à mão, é um pouco mais difícil juntar-lhes a pasta de feijão refrito que as acompanham. Nada que não se resolva com a ajuda dos nachos, servindo estes de veículo condutor, ou até do uso das nossas mãos, sem qualquer tipo de vergonha. Bom prato, com uma quantidade suficiente de queijo derretido para tornar as tortillas gulosas e viciantes. 


Seguindo as recomendações já mencionadas, pedimos uns Tacos Al Pastor e uns Tacos Carnitas. Cada um dos pratos vem com três pequenos tacos, promovendo o conceito de partilha, para que se possa experimentar um maior número de itens do menu. Nenhum dos tacos pedidos era picante de origem, ou pelo menos não se revelaram picantes sem a adição dos molhos que vêm nos pratos.
O Al Pastor, uma receita inspirada na Shawarma levada por imigrantes libaneses para o México, era um pouco diferente da ideia que tinha (e que agora complemento com alguma pesquisa, enquanto escrevo este post). O porco marinado desfazia-se na boca, a cebola deu-lhe um ligeiro adocicado, o (pouco notado) ananás alguma acidez e a lima espevitou-nos os sentidos, ajudando a equilibrar e conjugar os sabores do prato.
Torna-se um pouco "messy" pela quantidade e consistência do molho onde (penso) que a carne tenha sido cozinhada. Se assim é, é uma abordagem diferente da que esperava encontrar mas, ainda assim, muito bom taco.


Diferentes as Carnitas, com a carne bastante macia mas apresentando uma costa exterior que lhe dava uma textura diferente e mais interessante que a dos primeiros tacos. Para dar cremosidade, um guacamole um pouco pálido nos sabores, mas que ao mesmo tempo deixava a carne brilhar. Bom o Chimichurri de Leon que vinha no prato, uma maionese mexicana picante, combinando na perfeição com o porco estaladiço.


Para sobremesa, apenas nos perguntaram se queríamos um ou dois exemplares. Ainda questionei sobre o que seria, mais para saber o que escrever depois do que para tomar uma decisão, pois essa já estava tomada. E arrependi-me imenso quando dei a primeira colherada no Pastel de Tres Leches. Arrependi-me de não ter pedido duas doses, engolindo todo o meu egoísmo e contentando-me com a partilha de algo tão delicioso. Para não falar no olhar feroz que a minha companhia fez quando a deixei provar primeiro e me rosnou "Não vais querer isto!". Fantástico na textura, na quantidade de açúcar e na forma como acaba a refeição numa nota que roça o perfeito.


É um óptimo sítio para ir com um pequeno grupo de amigos, pedir vários pratos, petiscarmos e divertir-nos com conversa, boa comida e alguns copos à mistura. Tudo isto enquanto vamos conhecendo um novo lado da gastronomia mexicana.

Pistola Y Corazón Taqueria
Lisboa, Portugal
Preço Médio: < 20 €