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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Esquina do Avesso (Leça da Palmeira)

Escrever o post do Dom Tacho (aqui) deu-me algumas saudades da Comic Con Portugal 2017, realizada em Matosinhos, e que proporcionava sempre aventuras gastronómicas bastante interessantes. 
Uma dessas aventuras foi também uma das melhores refeições que fiz em 2017. Sim, é um post sobre uma refeição antiga, pode estar algo desactualizado (a nível de ementa certamente que estará, com o chef Nuno Castro a dar asas à sua criatividade e mudando constantemente a ementa) mas há muitos locais entre 2016 e 2017 que ficaram por falar. Alguns falarei deles quando me apetecer, outros se calhar nunca falarei. 
A Esquina do Avesso não é um restaurante qualquer. Aliás, nenhum restaurante deste grupo pode ser tomado como "mais um". A Esquina do Avesso pertence aos mesmos responsáveis de espaços como Terminal 4450, Sushiaria e Fava Tonka! Todos restaurantes na zona de Leça da Palmeira, com conceitos distintos, mas onde todos foram casos de imediato sucesso! Tentemos focar-nos apenas no Esquina, pois ainda não tive oportunidade de experimentar os outros... fossem mais perto e certamente não me escapariam.
No Esquina do Avesso vamos encontrar pratos que podemos partilhar, o que pode ser complicado porque vamos querer comer tudo sozinhos, mas servidos numa dose onde um comensal de apetite médio conseguiria ficar satisfeito com o couvert, um prato e uma sobremesa. Como eramos 4 esfomeados à mesa, decidimos experimentar 6 pratos (dos 14 disponíveis) e todas as sobremesas disponíveis! Vá, ok, eram só 4...
Uma palavra rápida para o espaço, de bom gosto, sóbrio e descontraído e para o bom serviço que acompanhou bastante bem todo o serviço, disponíveis e informados o suficiente para responder a toda e qualquer questão colocada. Houve pequenas falhas, no entendimento de como iríamos fazer a refeição, mas já lá vamos.
Aquilo que menos expectativa me causa, em qualquer restaurante, é o Couvert. Muitas vezes é desconsiderado, ainda que seja a primeira coisa que a maior parte dos seus clientes irá provar, logo será o que causará a primeira impressão! Felizmente, aqui nada é descurado, com o couvert a ser composto por bom pão, um cremoso e saboroso Hummus e uma Manteigas de Cabra soberba.



Fiquei logo deslumbrado com o primeiro prato, sendo para mim o melhor da noite, com uma combinação improvável de Pato, Beterraba e Cacau! O peito de pato num ponto perfeito, a ligar perfeitamente com as duas texturas da beterraba, sendo quase uma interpretação dos pratos de magret de pato com molho de frutos vermelhos. O elemento dissonante nesta equação é o cacau, mas que encaixa na perfeição no prato, tanto a nível de textura como de sabor. Mas havia mais um elemento no prato para equilibrar todos estes sabores, na forma de um sorvete de queijo de cabra! Não sabia bem o porquê do nome do restaurante, mas a verdade é que me trocaram as voltas e colocaram de pernas para o ar logo no primeiro prato.


Fantástico o Rabo de Touro, cozinhado na perfeição, intenso nos seus sabores, mas desossado e moldado como se nada se passasse, acompanhado com um bom puré e legumes, casados em perfeita harmonia por um jus de outro mundo. Mais um prato perfeitamente equilibrado nas suas texturas, nos seus sabores e sempre com apresentações impecáveis.


Excelente execução técnica na Barriga de Porco, Nabo e Pickles, com a barriga macia mas a pele a apresentar-se estaladiça qb (pessoalmente, até poderia ter vindo um pouco mais), um bom puré de nabo que contrastava bem com os elementos mais ácidos do prato, sendo tudo ligado por, mais uma vez, um jus (deixemo-nos de estrangeirismos, um molho!) óptimo.


Bem, isto se calhar poderia tornar-se repetitivo muito depressa, com a quantidade de rasgados elogios que a Esquina do Avesso, e as criações do chef Nuno Castro, merecem! Mas houve pratos que mereceram pequenos apontamentos onde poderiam estar um pouco melhores.
A nível de sabor e texturas, nada a apontar ao Bacalhau Negro, apenas a pouco apelativa apresentação (ainda que totalmente propositada) que nos impede de distinguir visualmente o que estamos a provar.


O prato menos conseguido da noite foi o Tamboril, Ravioli e Bisque, muito por culpa do bisque que se sobrepunha a todos os restantes sabores e ao tamboril já se apresentar algo seco. Sendo 4 pessoas à mesa, o serviço poderia ter-nos informado, ou à cozinha, de que apenas 3 raviolis estariam no prato. É algo que me chateia um pouco, mais nos restaurantes de sushi do que nestes casos, quando não temos um descritivo completo de quantos elementos de cada coisa vêm no prato e depois não conseguimos dividir as coisas equitativamente com facilidade. Poder-se-ia resolver avisando-nos, e passando a bola de uma decisão informada para o nosso lado, ou pedindo à cozinha que adicionasse mais um ravioli. Claro que esta última abordagem é a que menos sentido faz neste caso, pois existem fichas técnicas e food cost nos pratos por um motivo!


Isto aconteceu também no prato seguinte. Codorniz, Abóbora e Tamarindo impecavelmente empratados, com a ave bastante bem cozinhada, mas onde apenas havia um ovo de codorniz. Ainda que o objectivo pudesse ser espalhar a perfeitamente cozinhada gema por todo o prato, parece-me curto. Em tudo o resto, prato fantástico, como foi toda a refeição, a finalizar as componentes salgadas.


As sobremesas conseguiram estar quase à altura dos pratos, principalmente o Limão, Maracujá e Côco, onde os fortes sabores cítricos, dos quais sou fã confesso, deixavam-se complementar pelo exotismo do maracujá e do côco.


Para os fãs de chocolate, a Floresta Negra é a sobremesa ideal, com o mesmo a apresentar-se em várias texturas e diferentes intensidades! Um jogo de contrastes sobre o mesmo elemento engraçado e que funciona muito bem.


A sobremesa que mais expectativa tinha criado, mas saindo uns furos abaixo do que esperávamos, foi o Cheesecake de Manteiga de Amendoim. Salivaram? Tem tudo para correr bem, não é? O problema esteve na quantidade de doce presente, que se tornou excessivo e acabou por cansar o palato.


A sobremesa que fazia antever o excesso de açúcar, acabou por estar bastante bem equilibrada, com o Toucinho do Céu a ser cortado brilhantemente por uma calda de vinho do Porto.


Refeição memorável, num dos melhores restaurantes da zona do Porto, o que foi o suficiente para aumentar (ainda mais) a curiosidade sobre os restantes restaurantes do grupo, o paraíso dos carnívoros Terminal 4450, o céu dos sushi lovers Sushiaria e o éden dos vegetarianos, e mais recente projecto, o Fava Tonka!

Esquina do Avesso
Leça da Palmeira, Portugal
Esquina do Avesso Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 30 €
Data da Visita: 16 de Dezembro 2017

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Boa-Bao (Chiado)

Uma refeição no Boa-Bao, um dos mais recentes e mediáticos restaurantes asiáticos, começa com um convite. Somos convidados a ser aventurosos e atirarmo-nos de cabeça para uma viagem por parte da Ásia e sua gastronomia, não esquecendo alguns cocktails também bastante aventurosos. E este foi o primeiro aspecto que me impressionou, as ementas. Bem construídas, captivantes antes sequer de serem abertas e que nos fazem querer mergulhar totalmente nesta aventura.


Bem, quero fazer um pequeno disclaimer e avisá-los que esta aventura não acaba na primeira visita. O Boa-Bao é daqueles restaurantes que saímos a pensar no que vamos comer quando voltarmos (a ideia original desta frase não é minha mas partilho do sentimento). Porque sabemos que vamos querer voltar mal abrimos a ementa e vemos a sua extensão e a quantidade de propostas interessantes que lá se encontram. Vamos reconhecendo países à medida que passamos pelas 38 (a Ásia não é um continente pequeno!) descrições diferentes: China, Japão, Tailândia, Indía, Coreia, Malásia ou Vietnam. E aqui deparamo-nos com a primeira grande dificuldade do Boa-Bao... O que escolher?


Acreditem que não é fácil e foi um processo moroso. Processo esse que foi iniciado sem mim pois alguns dos comensais decidiram começar a comer qualquer coisa, uns Crepes Primavera de Pato à Pequim, enquanto esperavam que chegasse. Eles eram dois, os crepes eram cinco e nem um deixaram para que pudesse provar! Miseráveis, diria eu...
Mas passando isso à frente, tenho de começar por confessar que nem todas as escolhas foram difíceis. Os meus olhos fixaram-se no cocktail de nome Khi Khi Phô. Porquê? Porque para além do whisky Monkey Shoulder, do xerez Pedro Ximénez ou dos bitters (o que quer que isso fosse), este cocktail tinha caldo do phô!! Sim, aquela sopa vietnamita com um caldo feito à base de ossos de vaca! Num cocktail! O meu ar de espanto ao ler a descrição só foi ultrapassado pelo ar que fiz quando me apercebi quão bom era.


Atacámos a seguir uns óptimos Gua Bao Clássicos de Barriga de Porco com Hoisin e Pickles de Vegetais. O pão destes snacks chineses (até começar a escrever este artigo pensei que eram um tipo de street food japonesa mas a sua origem é, na verdade, chinesa), cozido a vapor, bastante macio e a segurar na perfeição uma pequena fatia de barriga de porco perfeitamente caramelizada e envolvida num completo molho, que nos ia despertando as várias papilas gustativas.


Menos fantástico, ainda que bem acompanhados por um excelente molho Sweet-Chilli, o Sortido de Dim Sum Vegetariano. Massa consistentemente bem cozinhada mas com recheios que me pareceram pouco intensos e a precisar de mais sabor.


Ainda que fosse uma quente noite de Agosto, a escolha de 75% da mesa recaiu sobre sopas. Mas não se deixem cair no engano de pensar que vão só "comer uma sopinha" e que saem de lá com fome! Amigos, estamos a falar de tigelas tamanho XXL, recheadas com massa, carne, algumas verduras e caldos aromáticos e equilibrados. 
A minha escolha recaiu sobre o Tom Yam Kung, uma sopa tailandesa picante com (entre muitas outras coisas que não reconheci, como é lógico) camarão, noodles de arroz, aquilo que me pareceram folhas de lima kaffir e gengibre. Muito gengibre. Ao ponto de me fazer questionar se não seria demais, provar outra colher e achar que sim, que talvez estivesse a ser demasiado. Ainda assim, bons sabores com particular relevância da acidez e do picante. Pontos negativos para os camarões virem com cauda, num prato que se come de hashi e colher, o excesso de gengibre (que a meio comecei a tirar da tigela porque se estava a começar a tornar desagradável) e o excesso de folhas de lima kaffir, que não me pareceram muito comestíveis.


Provei ainda a Sopa Cantonesa de Wontons com Noodles de Ovo e Porco e a Sopa Szechuan de Wontons com Noodles de Ovo e Pato. Muito parecidas mas com a diferença principal a estar no caldo mais intenso da província de Szechuan.

Sopa Szechuan de Wontons com Noodles de Ovo e Pato
Sopa Cantonesa de Wontons com Noodles de Ovo e Porco
Vergonhosamente, e por estar cansado do sabor a gengibre, não terminei a minha sopa mas deixei espaço para provar as sobremesas. 
Simpática Mousse de Chocolate com Gengibre, ainda que o meu espírito estivesse já cansado deste último, com uma boa textura e onde a combinação dos dois elementos funciona surpreendentemente bem.


E um Crème Brûlée de Côco com Manjericão e Erva Príncipe que estava excelente! Bastante discreto tanto o côco como a erva príncipe mas com o manjericão a sobressair e a trazer notas refrescantes ao palato. Uma combinação extremamente improvável mas que deslumbrou, num leite creme já de si tecnicamente bem executado, com aquela tão característica camada de açúcar perfeitamente caramelizado.


Saí do Boa-Bao a pensar no que comer quando voltasse, não porque tivesse ficado completamente maravilhado por tudo o que experimentei, mas porque achei que o restaurante tem um potencial enorme que quero explorar e porque a maior parte do que experimentei estava num nível muito bom. E pela dúzia de pratos que me ficaram na retina, claro...

Boa-Bao
Lisboa, Portugal
Boa-Bao Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 40 €
Data da Visita: 16 de Agosto 2018

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Curtas #21: Pigmeu - 3º Aniversário (Campo de Ourique)

Vou tentar ser o mais breve possível, prometo! Queria só contar-vos o quão fantástico foi o 3º aniversário do Pigmeu (do qual já falei aqui), composto por 4 jantares com muitos chefs convidados a juntarem-se a João Revés (chef residente do Pigmeu) para festejar com muita comida, muita bebida e com a promessa de que ia dar porcaria! 
A ideia foi genial e, felizmente, a concretização não ficou atrás. Estive presente em todos os jantares (acreditem, valeu a pena!) e a única coisa que resta saber é "Para quando mais?". Não vou descrever todos os pratos experimentados (podem consultar o álbum completo do Pigmeu aqui), deixando apenas a menção de quais os mais marcantes.
Tivemos no primeiro jantar Anna Lins (Miss Jappa) e Pedro Bandeira Abril (Taberna Sal Grosso) responsáveis pela comida e com o acompanhamento líquido a ser da responsabilidade de Constança Cordeiro (Prado e futura Toca da Raposa) e Duarte Cunha e Silva (LX Beer), ajustando todo o menu à temática "Os Porquinhos da Ásia". 

Char Siu Bao
Miso Ramen
Sticky Coconut Rice
O segundo jantar era "F*cking PORKtuguese" e chamaram-se pesos pesados para a ocasião! Manuel Lino (Tabik, Trio e Local), Gil Fernandes (Fortaleza do Guincho), Miguel Gomes (Belcanto) e Américo dos Santos (Belcanto). Desta vez, os PORKtails foram do Alain Branco (Pistola Y Corazón) e no lugar da cerveja houve vinhos Herdade dos Grous, apresentados pela Mafalda Vasques.


Dona São
Cachaço de Porco Preto a Baixa Temperatura, Tupinambo e Pimentão Doce
Presunto
A loucura mexicana, a que se deu o nome "Somos Cochinos", apoderou-se da cozinha do Pigmeu no 3º jantar. Chef *Jos (Pistola Y Corazón), Leonor Pedro (Prado) e Meguy Pereira (Pigmeu) deram o mote para la fiesta, e Fernão Gonçalves (Pesca) não quis deixar de contribuir com shots, ou não estivéssemos a falar da terra da tequilla e do mezcal! Shots?! Sim, shots! Já referi que os jantares foram em 4 domingos separados?


Taquito Dorado de Sesos
Panza, Col Encurtida y Salsa Tatemada
Tacos de Carrillera, Hibisco y Chile Ancho
O último jantar, "Porkandcheese", juntou dois dos produtos mais queridos dos portugueses. As mãos de André Magalhães (Taberna da Rua das Flores e Taberna Fina) e Leopoldo Garcia Calhau (Café Garrett) juntaram-se às de Pedro Cardoso (Queijaria) para trazer as melhores combinações de porco e queijo, acompanhando com os vinhos da região de Colares trazidos pelo Mauro Azóia.

Orelhas (Queijo São Jorge 48 meses)
Bochechas, Maçã, Requeijão de Seia
Migas e Papada (Ossau Iraty)
Os parabéns ao Miguel Azevedo Peres, que impulsionou o seu restaurante para outro patamar com esta iniciativa, e se revelou um host fantástico, bem como a toda a equipa do Pigmeu. Que muita mais porcaria se avizinhe!

Pigmeu
Lisboa, Portugal
Pigmeu Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 20 €

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Tia Rosa (Melides)

Viagens para Norte ou Sul de Portugal são, para mim, sempre desculpas perfeitas para conhecer restaurantes a meio caminho. São viagens longas e que "obrigam" quase sempre a uma ou outra paragem, portanto porque não fazer pequenos desvios e ir conhecer aqueles restaurantes que, noutros casos, não teríamos uma oportunidade tão fácil?
Foi numa dessas viagens, para a fantástica cidade de Tavira, que resolvi fazer mais um desses desvios. Habitualmente, o ponto de paragem obrigatório é O Cruzamento (já falei sobre ele aqui), em Grândola, mas desta vez queria algo diferente. A fama da Tia Rosa em Melides é mais que muita e não é assim tão longe de Grândola... Porque não?
Entro cedo num restaurante bastante vazio mas isso não me intimida. A zona não é propriamente famosa pelo seu turismo nos meses de Inverno e o restaurante é algo remoto dos locais mais habitados da zona. Desde que a comida valha o desvio e corresponda às altas expectativas que tinha criado, nada mais importa.
As hostilidades começam com um Prato de Enchidos de Porco Preto. Estive entre esta entrada e a Alheira Assada no Forno (e o serviço não ajudou muito na decisão) por isso fui por aquele que me parecia mais adequado a uma pessoa. E lá chega o pratinho com rodelas de chouriço, chouriço de sangue e farinheira... enrolado em plástico. Daquelas técnicas de conservação de snack bar, mostrando claramente que aquele prato estava cortado e preparado há algum tempo. Porque cortar enchidos na hora é uma tarefa hercúlea. A qualidade dos mesmos não era má mas também não me excitaram as papilas gustativas por aí além.


Mas aqui a atracção principal era o Pato Assado no Forno com Arroz de Miúdos, o prato que move multidões e é alvo de peregrinações! Ok, se calhar é um pouco exagerado a parte das peregrinações mas a verdade é que é a especialidade da casa e aquele de que toda a gente fala e que dizem ser obrigatório. Estão a imaginar a expectativa com que entrei no restaurante, certo? Sentei-me estrategicamente para ter uma visão para a cozinha e conseguir observando os passos que levariam o meu prato a chegar à mesa e foi aí que começou a desilusão. Começo por ver a travessa do pato a ser aquecida num microondas e depois colocada no forno. Pelo caminho, vejo verterem um pouco de óleo também para lá.
Resultado final, quando o prato chega à mesa já estou meio desconfiado, mas tento afastar os preconceitos da minha mente. A pele é logo a primeira coisa a ser atacada e, para minha felicidade, revela-se estaladiça e saborosa. A carne já não tanto, estando o peito do pato algo seco mas todos conhecemos a dificuldade de cozinhar uma ave inteira, visto ter tão diferentes pontos de cozedura. Melhor a carne da asa, que chego a roer com as mãos. O problema está no fundo do prato com uma altura de gordura algo desnecessária e que em nada acrescenta a nível de sabor. Ainda tentei verter um pouco sobre o pato mas não adicionou nada de positivo, apenas tornou o prato desnecessariamente mais pesado. Talvez tenha adicionado às batatas que nela cozinharam mas quando as colocava no prato tentava levar o mínimo de óleo possível.


O Arroz de Miúdos era também alvo de grande expectativa. Adoro miudezas de aves, seja na canja, no arroz ou simplesmente estufados! Mas este arroz também não esteve à altura. Cozinhado em demasia, apresentando-se já um pouco empapado, a necessitar de mais sal e com aquela camada de ovo em cima que é dispensável, ainda que a nível visual seja apelativa. Se fosse uma leve pincelada percebia que ajudasse a dar cor no forno ainda passava, mas é demasiado e acaba por ser arroz com ovos mexidos por cima.


Salvou-se a honra da casa com a sobremesa. Umas belíssimas Farófias, feitas no forno, fantásticas nas suas texturas e com um doce de ovo que não era demasiado doce. Faria um desvio por estas farófias mas não pelo pato!


Não é que tenha sido uma má refeição, muito pelo contrário. Saio desiludido porque tinha as expectativas num patamar demasiado elevado. Já falei várias vezes sobre o quão perigosas são e aqui foi mais um caso em que só saio algo desanimado porque esperava muito melhor. Não me levem a mal os fãs daquele pato assado, pois acho o prato interessante e se tivesse na zona não teria problemas em lá voltar, mas não me convencem a fazer outro desvio propositado por ele. Já por aquelas farófias...

Tia Rosa
Melides, Portugal
Preço Médio: < 20 €
Data da Visita: 19 de Janeiro 2018

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Prado (Lisboa)

Há muito tempo que não me lembro de ver um restaurante com tanto hype. Ainda não tinha aberto e já se falava mais nele no que no restaurante que Jamie Oliver vai abrir no Príncipe Real. Ok, até aqui até concordo pois este desde o início que parece um projecto muito mais interessante. Mas porquê, perguntam vocês?
Porque António Galapito, um jovem de 27 anos, esteve durante muitos anos com Nuno Mendes, chef português exilado em Londres. Pelo que percebi, nas minhas leituras e investigações, Galapito era o Padawan e Mendes o seu Jedi Master. As fotos apetitosas invadiam as redes sociais e eu sentia-me cada vez mais atraído pelo lado negro da Força. Ok, talvez não seja o lado negro, visto que todo o conceito do restaurante é virado para os produtos biológicos e o menos processados possíveis. Tudo é tratado dentro do restaurante, inclusive o desmanche e maturação das carcaças que mais tarde alimentarão vários comensais. Muito nerd? Ok, vou tentar conter-me. Isto porque mesmo antes de lá ir já parecia um puto excitado com a estreia do novo Star Wars! 
A ementa varia consoante os produtos disponíveis e a vontade do chef. Daí ser recorrente ver as mesmas pessoas a tirarem dezenas de fotos em diferentes refeições espalhado por esse Instagram fora. Por falar em Instagram, já seguem o do Devaneios de um Foodie (aqui)? Vi passar pelo meu ecrã pratos de óptimo aspecto e cheguei a um ponto que já salivava só de ver as fotos da ementa! Principalmente quando li que havia uma peça de acém maturada a 100 dias. A ementa tem sempre entre 10 a 20 pratos, com descrições simples e onde o objectivo parece ser conjugar os sabores de 3 ou 4 ingredientes principais, fazendo-os crescer e não esconder! Como a curiosidade era muito (e sobre toda a ementa), deixámos ao critério do serviço a escolha dos pratos que iríamos experimentar.



A refeição começa maravilhosamente com um Pão de trigo Barbela, da padaria Gleba, acompanhado por uma boa Manteiga fresca de cabra e uma maravilhosa gordura de porco batida com um fundo de puré de cebola. Bastante original e a marcar desde cedo a posição onde quer estar.



Tudo aparenta ser simples e pouco trabalhado mas duvido seriamente que assim o seja. O primeiro prato foi o primeiro exemplo disso e um dos melhores da refeição. Berbigão, Acelgas, Coentros e Pão Frito... Parece simples mas ao mesmo tempo original mas depois entra em campo o caldo trabalhado com manteiga fumada e esquecemo-nos do que estávamos a pensar. Simples? Claramente que não!



A Beterraba, Queijo Fresco de Cabra e Cebola peca por ser um conjunto demasiado doce. Talvez um queijo diferente, com maior teor salino tivesse funcionado melhor. Algo que consiga balancear toda a doçura presente...



Voltamos à simplicidade aparente (aliás, uma constante ao longo da refeição) com o Tat Soy, Soro e Nozes. Doçura e amargor bem conjugados mas parecia faltar algo ao prato que lhe desse maior dimensionalidade, tornando-se um pouco uniforme demais.



O "problema" deste tipo de restaurantes é a pouca clareza sobre aquilo que estamos a comer, ainda que o serviço tenha sido muito bom e sempre disponível para responder a qualquer pergunta. A questão é que não tirei notas e houve coisas que não se ouviram tão bem e não voltámos a perguntar. Este prato tem Judeu (um peixe da mesma tribo que o Atum), Rutabaga (ou Couve-Nabo) e Mostarda mas é muito mais complexo que isto a nível de sabores! Para não falar que não percebemos exactamente onde e como estava a ser utilizada a mostarda, ficando a dúvida quanto à utilização de folha de mostarda para o componente líquido do prato. O que interessa é que funcionava e estava muitíssimo bom!



O prato mais instagramável do restaurante, e o qual já tinha visto dezenas de vezes, é o Tártaro de Barrosã e Couve Galega Grelhada. Não só é um prato bonito como é fantástico nos seus sabores com a carne perfeitamente temperada, ainda que não saiba com o quê (lembro-me de falarem de cogumelos mas pouco mais). Estava-me tudo a saber tão bem que nem sempre quis perceber todos os componentes, acabando só por ir aproveitando o prazer que me estava a dar.



Gosto de comer, de forma geral! E gosto de comer de tudo. Posso de vez em quando ter apetites mais para a esquerda ou direita mas desde que seja boa está tudo bem. Ora, tendo isto como base, não deixo de admirar comida de tacho e carnes estufadas durante muito tempo. A profundidade de sabores com que ficam, a sua textura, aquele molho onde ficam a nadar, tudo isso me faz salivar. No Creme de Couve Flor, Ovo e Estufado de Barrosã temos um óptimo creme que oculta um ovo perfeito e uma carne de bradar aos céus! Provavelmente, o meu prato favorito da refeição.



Aqui questiono um pouco o encadeamento decidido para a refeição, pois depois de um prato de sabores muito fortes, somos presenteados com um Peixe-Espada, Nabiças e Nabos que não me parece encaixar na perfeição depois do estufado. Ainda assim é um bom prato, não há dúvidas disso.



Excelente o Acém de Barrosã, Manteiga Tostada e Alface Grelhada! Carne irrepreensivelmente grelhada, descansada e temperada de forma muito simples para a deixar sobressair. Os restantes elementos parecem estar lá só mesmo para ajudar a carne a sobressair e digo isto como um elogio.



Há algo na gordura natural do porco que nos coloca as papilas gustativas a trabalhar horas extra. Não sei se será o que os japoneses chamam umami mas não há muita coisa que bata o sabor de gordura de porco bem cozinhada! Bastante interessante o uso de alga nori em pickle neste Palitos de Entrecosto de Porco Preto, Acelgas e Nori, a mudar completamente o sabor do prato quando apanhávamos um destes bocados.



Finalizamos os pratos salgados com o Lula, Alho Francês e Tinta. Finalizamos num ponto excelente com os sabores a ligarem-se bastante bem e com a lula a aparentar apresentar uma dupla textura. Só não sabemos se tal terá sido propositado ou não... 



Três pessoas à mesa, três sobremesas disponíveis, claramente pediu-se uma de cada. O menos entusiasmante a ser a Granita de Coentros e Laranja, que por baixo deste neutro granizado de coentros revelava uns gomos de laranja e um puré também de laranja. A parte granizada era numa proporção excessiva face à componente doce, acabando esta por ser uma sobremesa que entusiasmou mais pelo conceito que pela concretização. 



Pelo caminho um pouco inverso, o Gelado de Cogumelos, Cevada e Dulse (uma alga que assumo ser o pó vermelho que é visível) tinha uma apresentação menos apelativa, assemelhando-se quase a um arroz doce. Já o seu sabor era muito bom ainda que não sentisse a presença de cogumelos, mas sim de caramelo. A textura da cevada é que não deixou saudades, visto que estava algo elástica.



A Maçã, Natas Caramelizadas e Massa Folhada também se fez comer a um excelente nível, com os sabores bem equilibrados e texturas contrastantes a funcionarem muito bem.



O hype é justificado! António Galapito apresenta um restaurante inovador, com um conceito que faz sentido, sendo o espaço e a ementa trabalhados para se encaixar nesse conceito de forma perfeita. A comida não teve sempre ao mais alto nível mas com uma volatilidade tal na ementa não deve ser fácil, juntando a isso o facto de ter aberto há poucos meses.
Nesta visita, 3 pessoas comeram 14 dos 18 pratos disponíveis mas a verdade é que tive pena dos 4 que escaparam, levando-me a querer lá voltar para provar o que de novo houver!

Prado
Lisboa, Portugal
Prado Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato
Preço Médio: < 50 €
Data da Visita: 14 de Janeiro 2018